"Não há trabalho feito da sua parte em relação ao diálogo em Moçambique. Pelo contrário, o senhor sempre foi parcial, foi tendo posições totalmente tristes, sempre foi de adjetivos contra a minha pessoa", afirmou Venâncio Mondlane, num direto a partir da sua conta oficial na rede social Facebook, dirigindo-se a Rangel.
O ministro é esperado em Maputo na quarta-feira para representar o Governo português na tomada de posse de Daniel Chapo como quinto Presidente da República de Moçambique, conforme resultados eleitorais proclamados pelo Conselho Constitucional (CC), que Venâncio Mondlane não reconhece.
"Saiba muito bem como é que se vai posicionar em Moçambique", avisou Mondlane, saudando, contudo, a ausência da cerimónia do Presidente da República ou do primeiro-ministro de Portugal.
"Mandaram a terceira linha, que é o ministro dos Negócios Estrangeiros. Aliás, é um ministro que sempre se posicionou de forma muito ríspida, de forma extremamente descortês comigo, já me chamou de populista, já me chamou todo o tipo de nomes, tem tido pronunciamentos extremamente tristes em público", criticou ainda.
Segundo Venâncio Mondlane, o único contacto com o chefe da diplomacia portuguesa ocorreu no dia 12 de janeiro, numa chamada telefónica "ocasional, circunstancial" durante um encontro, em Maputo, com o embaixador de Portugal em Moçambique, António Costa Moura.
Para o candidato presidencial nas eleições de 09 de outubro, Paulo Rangel não pode afirmar que tem "mantido contactos" em torno do processo pós-eleitoral, marcado por paralisações e manifestações de contestação aos resultados, em que já morreram 300 pessoas e mais de 600 foram baleadas, convocadas por Venâncio Mondlane.
"É falso. Doutor Paulo Rangel, o senhor não tem mantido contactos comigo. Tivemos um contacto ocasional na véspera da sua vinda a Moçambique, portanto não pode usar isto como se houvesse um histórico de contactos comigo. Desde outubro de 2024, quando isto começou, eu sempre dei privilégios a Portugal nas minhas comunicações como um ator válido para intermediação da crise pós-eleitoral em Moçambique. O senhor nunca se manifestou quanto a isto, nunca fez absolutamente nada, publicamente atribuía-me vários adjetivos, dos quais populista", acusou.
Numa intervenção dedicada essencialmente à posição do chefe da diplomacia portuguesa, Venâncio Mondlane afirmou que Paulo Rangel "não pode enganar os portugueses, enganar os moçambicanos, enganar a comunidade internacional, tentando demonstrar" que "tem feito trabalho".
"O senhor não fez trabalho absolutamente nenhum, o senhor sempre esteve impávido, sereno, esteve inativo, esteve na hibernação durante todo este período", disse ainda Venâncio Mondlane.
Moçambique realizou eleições gerais -- presidenciais, legislativas e de assembleias provinciais - em 09 de outubro.
Nas presidenciais, o CC, última instância de recurso em contenciosos eleitorais, proclamou Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frelimo, como vencedor, com 65,17% dos votos.
A eleição de Chapo como sucessor de Filipe Nyusi é, contudo, contestada nas ruas e o anúncio do CC aumentou o caos que o país vive desde outubro, com manifestantes pró-Mondlane -- candidato que, segundo o Conselho Constitucional, obteve apenas 24% dos votos, mas reclama vitória -- em protestos a exigirem a "reposição da verdade eleitoral", com barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia.
PVJ // JMC
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