André Ventura garante que se reuniu com o primeiro-ministro cinco vezes para negociações, onde lhe foi proposto um acordo para aprovação do Orçamento e a integração do Governo no próximo ano. Em entrevista ao canal Now, afirmou que não aceitou porque o Chega queria um acordo de governação para os quatro anos de legislatura.
O primeiro contacto foi feito por Luís Montenegro entre maio e setembro, disse o presidente do Chega, após ter divulgado numa publicação na rede social X que no dia 15 de Julho teve “um encontro não divulgado à imprensa com o Primeiro-Ministro na sua residência oficial, a pedido do próprio” para discutir “um acordo específico”.
Existiram reuniões antes de 15 de julho, sobre as quais André Ventura recusou partilhar detalhes, e que culminaram na negociação final a 23 de setembro. Nessa data, ficou “claro” que o Chega não iria aceitar um “acordo de remendo de um ano”.
André Ventura garantiu que tem forma de “provar” a existência destas reuniões, onde estiveram apenas o próprio e o primeiro-ministro, mas considera “desnecessário” fazê-lo. Afirmou ainda ter documentos para o comprovar, mas que deixaria para o futuro. “Acho que o primeiro-ministro deve ter a oportunidade, depois de ter sido ele a começar aquela novela de desconsideração, eu estou a dar ao primeiro-ministro a hipótese de confirmar isto”, afirmou.
Relativamente às declarações de Luís Montenegro desta sexta-feira, o presidente do Chega considerou que “ficou muito claro que o primeiro-ministro não quis desmentir que esta reunião tivesse existido”.
“Do chefe de gabinete a todas as forças de segurança que estão na residência de São Bento e aos funcionários, é de uma imprudência estar a negar esta reunião, que só mostra o amadorismo que Luís Montenegro tem nesta matéria”, acusou.
O Chega entrou na negociação de “boa-fé” e com a esperança de alcançar a “estabilidade do país” através da construção de “uma situação maioritária à direita”. Na reunião, Luís Montenegro terá, alegadamente, oferecido um acordo para que o “Chega integrasse o governo no início do próximo ano ou durante o próximo ano”. Contudo, o partido de Ventura recusou, em parte, porque o acordo ficaria "escondido dos portugueses até janeiro, fevereiro ou março”, o que significa que não teria justificação de viabilização do Orçamento perante o seu eleitorado e deputados.
Durante a entrevista, admitiu que, “em nome da transparência, deveria ter divulgado” as reuniões quando aconteceram, mas garantiu que lhe foi pedido pelo primeiro-ministro para manter as reuniões secretas. “Entendi que estava a contribuir para aquilo que sempre disse que é uma solução de maioria à direita”, afirmou ao dizer que acreditou nas palavras de Montenegro, que afirmava que o PS e Pedro Nuno Santos não eram confiáveis.
“Eu parti do pressuposto que estávamos a ter uma conversa franca de desenvolvimento e de construção. Hoje olho para trás e sei que nada disso aconteceu”, disse. Referiu ainda que, nas reuniões, o primeiro-ministro “mostrou-se sempre reticente” em aceitar as bandeiras do Chega, como a imigração ou o combate à corrupção.
Ventura garante ainda que, na última reunião a 23 de setembro, Luís Montenegro disse-lhe que poderia sair pela porta traseira de acesso ao Parlamento para não ser visto pelos jornalistas a sair pela porta principal. Explicou, ainda, que decidiu não divulgar esta reunião porque o primeiro-ministro parecia estar disposto a continuar as negociações.
O presidente do Chega assegurou que não se deixaria “condicionar” pelos “poderes do Estado”, referindo que foi ameaçado sem elaborar sobre o sucedido. “Toda a gente sabe quais são as forças habituais do regime e o centro de interesses em que se movem, sobretudo entre o PSD e PS. Houve várias ameaças e insinuações”, inclusive que estaria a “pôr em risco a minha carreira política” se divulgasse essas reuniões, garantiu Ventura.