O estado de Gianmarco Tamberi era uma incógnita. Ninguém sabia como o italiano se ia encontrar na final do triplo salto. No máximo das suas capacidades, era capaz de lutar pelo ouro olímpico. Porém, parte delas ficaram na visita que fez ao hospital no próprio dia da competição.
“Acabei de ser levado às urgências depois de vomitar sangue duas vezes”. A publicação deixada no Instagram foi feita a sensivelmente três horas e meia do arranque do concurso. Tamberi estava deitado com um cateter na veia. Não era uma imagem que transpirasse animosidade.
Uma hora depois, mais novidades: “Estarei lá”. Só podia ser na final. Era mesmo na final. Estava assegurado que Tamberi ia estar no Stade de France. Mas estaria em condições de saltar ao seu melhor nível? A foto que acompanhou a espécie de alta médica divulgada pelo próprio campeão do mundo não transmitia muito entusiasmo. O carapuço estava na cabeça. Os fones cobriam-lhe as orelhas para assegurar que o mundo não incomodava mais do que o próprio corpo. O sorriso escapara para outra galáxia.
A culpa do transtorno eram cólicas renais. Já antes de viajar para os Jogos Olímpicos, Tamberi tivera problemas semelhantes que levaram a uma visita ao hospital. Poucos dias depois, saltou 2,24m que o apuraram para a final.
Tamberi defendia o título olímpico que conquistou em Tóquio em conjunto com o catari Mutaz Barshim. Dividir o ouro é uma sensação agridoce. Por um lado, recebe-se a medalha que premeia o melhor do mundo. Por outro, há um tipo que também é o melhor do mundo. Em 2021, o italiano não se importou nada com isso. Saltou eufórico, incrédulo com o feito que tinha conseguido. Era dessa alegria que Paris tinha ciúmes.
No meio de todas as complicações, só ter saltado foi um grande feito. Só que aquele não era Tamberi. O verdadeiro não teve capacidade para ir aos jogos. Apenas à terceira tentativa é que Gimbo, que tem um recorde pessoal de 2,39m, conseguiu ser mais forte do que a barreira dos 2,22m. Nos entretantos, ia descansando de pernas encolhidas e braços abertos, deitado na pista, completamente esparramado no chão. Era um corpo em busca de sugar forças ao núcleo da terra, mas sem capacidade para perfurar o suficiente. A sombra estava ali a fazer-lhe companhia. Era isso mesmo, Tamberi era uma sombra dele mesmo.
A fasquia, que subiu a 2,27m, derrubou o quebranto Gimbo. Não tinha explosão suficiente para ir além dessa marca e acabou eliminado. Mutaz Barshim realizava uma prova sem erros até que os 2,36 travaram a escalada que ia fazendo até ao topo do pódio. Pelo contrário, Hamish Kerr e Shelby McEwen não se deixaram incomodar por esse nível. Ambos foram bem-sucedidos à primeira. O catari foi então à procura de revalidar o título olímpico, arriscando bater os 2,38m. Abalroou a barra e também foi eliminado, mas já com o bronze garantido.
Hamish Kerr e Shelby McEwen acabaram a discutir entre si os dois primeiros lugares. Nenhum superou os 2,38m e não chegaram a acordo para partilharem o ouro. A fasquia foi então descendo e a decisão seria feita através de uma espécie de morte súbita: se um concretizasse o salto e o outro falhasse, ganhava. A 2,34m, Shelby McEwen vacilou e Hamish Kerr agarrou o ouro.
Apesar do 11.º lugar, o vencedor do concurso foi outro.