
A campeã nacional Tatiana Garnova apaixonou-se "duas vezes por Portugal", quando veio da Rússia para representar o Juncal da ilha Terceira, e, se não fosse o ténis de mesa, seria "comediante", diz em entrevista à Lusa.
Aos 29 anos, a campeã lusa com ascendência russa e ucraniana vive uma fase de afirmação plena na modalidade, com um segundo título nacional individual para mostrar uma trajetória ascendente - chegou a Portugal em 2014 e, desde então, representou os açorianos do Juncal.
"Conto sempre esta história: apaixonei-me por Portugal duas vezes num dia. No primeiro, quando cheguei, olhei pela janela do avião para Lisboa e começaram a cair-me as lágrimas. Ainda não sabia se ia viver aqui ou o que me esperava, mas senti que este lugar me dava sensação de segurança e de casa", conta a mesatenista, em entrevista à Lusa.
Garnova voou, depois, para a ilha Terceira, nos Açores, 'casa' do Juncal, na Praia da Vitória, e "mais uma vez" deixou-se conquistar, desta feita "pela natureza, o oceano e pela bondade do povo local".
"Posso chamar a estes lugares de meu coração, até mesmo de casa", atira.
Vencer de novo o Nacional, depois de um primeiro triunfo em 2023, foi um "sentimento muito doce e de orgulho", e conseguir 'bisar' na carreira "significa muito".
"Tenho muitos sonhos e objetivos à minha frente. Estou nos campeonatos de clubes, tento estabelecer metas curtas, e no momento [o principal objetivo] é trazer o título de campeão para o meu Juncal esta época", nota.
Garnova e companhia têm missão complicada pela frente, uma vez que data de 2013/14 o único título do clube, exceção ao pleno período de domínio do CTM Mirandela, que desde a viragem do milénio conquistou 19 dos 23 títulos atribuídos, o último em 2023/24 em final precisamente frente ao conjunto açoriano.
Entre a competição e as aulas de ténis de mesa, e com a situação internacional a tornar indefinida a possibilidade de representar o país noutros voos, devido às regras de nacionalidade, ainda que isso fosse "uma honra", esta "conquista muito grande" junta-se a outras pelo caminho.
"Quando eu tinha 14 anos, vencemos o Campeonato da Europa [por equipas] pela seleção russa. Entre seniores, cada vitória é muito importante para mim. Venci este ano a Taça da Rainha em Espanha, o que é muito prestigiante", comenta.
Esse triunfo, pelo Museo de la Almendra Francisco Morales, teve em Garnova a grande protagonista, com duas vitórias na partida frente à Universidade de Burgos, com o diário desportivo espanhol As a apelidar a campeã nacional de "imperial".
Mais do que para Garnova, novo título nacional é importante "também para o clube e o desporto nos Açores", mostrando que o sucesso "vem do esforço, perseverança, trabalho, disciplina e fé", importando menos "de onde se vem ou em que família se nasceu".
"Sinto um enorme orgulho em poder levar o nome da ilha e do clube a nível nacional. Sei que isso inspira outras pessoas, especialmente os mais jovens, a acreditarem que é possível. (...) É uma forma de retribuir todo o apoio que recebo aqui", afirma.
Fora do desporto, começou "a ter aulas de guitarra", adora cantar e, confessa, "se não fosse o ténis de mesa", teria tentado "ser comediante e fazer 'stand up'".
"Gostaria de desenvolver o nosso desporto, para que mais crianças e adultos se interessem por ele", adianta.