
O San Lorenzo, clube de futebol argentino do qual o Papa era adepto, começou com uma missa uma série de homenagens, enquanto adeptos antecipam futuras ajudas divinas por parte de Francisco cada vez que a equipa precisar.
"Francisco foi realmente grandioso. Um grande que soube ser pequeno. Foi um grande a sério porque foi o melhor jogador do mundo", disse o padre Juan Pablo Sclippa, ao conduzir esta quinta-feira a missa, num paralelismo entre o futebol e a religião.
Mas nem é preciso muito esforço para ver essa ligação para quem conhece a história do San Lorenzo e do seu adepto mais famoso em mais de 100 anos de história.
Cerca de 200 pessoas, vestidas com a camisola do clube, reuniram-se na capela onde o San Lorenzo foi fundado em 1908 e onde o antigo arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, também celebrou uma missa anos antes de se tornar Papa.
O altar está decorado com uma bandeira com as cores do clube e com o rosto de Francisco, que como bom latino-americano, gostava de futebol e continuava a pagar as mensalidades do clube, mesmo sem nunca ter voltado à Argentina.
O Papa Francisco herdou a paixão pelo San Lorenzo do pai, um imigrante italiano, mas bem poderia ter-se inspirado no propósito social do clube, que foi fundado por um padre, Lorenzo Massa, para tirar as crianças das ruas. Por isso, o clube conjuga futebol, religião e ação social.
Só o San Lorenzo pode ter no céu, ao lado de Deus, uma pessoa que seja adepta de um clube e que possa dizer a Deus que dê uma ajudinha
Oscar Gavira
Adepto do San Lorenzo
"O Clube San Lorenzo tem muita importância na vida social das pessoas. Os meus avós conheceram-se lá quando se faziam os carnavais e as quermesses. Até hoje, a instituição distribui apoio social aos bairros carenciados em redor das instalações do clube. Esses valores de justiça social, de preocupar-se pelo próximo e de apoiar aos mais necessitados são a génese do San Lorenzo que se manteve ao longo da história", conta à Lusa a adepta Natalia del Río, de 38 anos.
Natalia é ateia, mas quis participar numa missa devido aos ideais do Papa.
"Não pensei que a morte de Francisco pudesse ter um impacto transcendental na minha vida, mas realmente comovi-me. Como adepta do San Lorenzo, mas, sobretudo, pelo trabalho social e político do Papa que ressoou com os meus ideais, muito mais do que qualquer outro representante de qualquer outra religião", admite.
Quando os adeptos tiverem de pedir a ajuda de Deus para alguma vitória, também podem pedir ao Papa Francisco, quem deve estar perto de Deus e pode dar essa força.
"Essa é uma bênção extraordinária. É comum que os adeptos peçam a Deus que a sua equipa ganhe, mas só o San Lorenzo pode ter no céu, ao lado de Deus, uma pessoa que seja adepta de um clube e que possa dizer a Deus que dê uma ajudinha" compara à Lusa Oscar Gavira, de 62 anos.
Se, para explicar o fanatismo pelo futebol, muitos comparam o desporto com a religião, no caso do San Lorenzo, essa combinação é natural.
"No caso do San Lorenzo, a religião e o futebol estiveram sempre juntos, desde a fundação aqui nesta capela. É um clube que conjuga as duas coisas. Mais do que adeptos, somos religiosos. Imagina se, no futuro, Francisco se tornar um santo?", prevê Oscar.
"No que se refere aos adeptos do São Lourenço, religião e futebol tem uma conexão. Não se pode dividir as duas coisas", concorda Caio Torello, de 25 anos, para quem agora serão duas opções na hora de pedir ajuda extra no relvado.
"Eu vou pedir para o São Lourenço, que é o santo do clube, e também para o Papa Francisco. Para nós, adeptos do San Lorenzo, é bom, não é? Porque sabemos que estamos iluminados pelo São Lourenço e, agora, pelo Papa Francisco", acredita Caio.
No caso do San Lorenzo, a religião e o futebol estiveram sempre juntos
No próximo sábado (26), dia do funeral do Papa, no jogo entre o San Lorenzo e o Rosario Central pelo campeonato argentino, o clube vai vestir uma camisola especial em homenagem a Francisco.
Porém, a maior homenagem do clube será batizar o futuro estádio como "Estádio Papa Francisco", uma ideia que o presidente do clube levou até ao pontífice em setembro do ano passado, durante uma visita ao Vaticano. Francisco ficou emocionado e aprovou a proposta. Não viu o projeto concretizar-se em vida, mas partiu sabendo que teria o nome imortalizado no estádio. O Papa assinou uma camisa do clube que ficará exposta no saguão central do novo estádio.
Enquanto alguns adeptos se despediam do Papa na missa, outros protestavam na sede do clube contra o presidente do San Lorenzo, Marcelo Moretti, por motivos terrenos.
Nesta semana, foram divulgadas imagens de uma câmara escondida que mostravam o presidente do clube, recebendo dois maços de dinheiro no valor de 25 mil dólares. O suposto suborno era da mãe de um jogador em troca da contratação do filho.
O acusado alega que a mãe estava a doar o dinheiro para melhorar as instalações do clube onde o filho joga, embora a quantia não apareça nos balanços da instituição.
O presidente do San Lorenzo pediu escusa do cargo enquanto a Justiça investiga a denúncia.