Se no tatami há atletas cegos, o judo adapta-se. É uma modalidade de ajudas e auxílios. Os judocas entram na arena a segurarem nos braços da árbitra, são guiados pelos membros de quem ajuíza em todos os momentos em que não estão a combater. De azul, Miguel Vieira é pronto a tomar o braço da oficial como o é a agarrar-se ao corpo de Elielton de Oliveira para preencher a maioria do tempo do combate de repescagem em Paris, na categoria dos -60 quilos. Era a última oportunidade para o português.
Na arena Champ-de-Mars, o campeão mundial regressou à ação após ter entrado nela com uma derrota, logo à primeira tentativa, frente a Junaedi Ida, indonésio que lhe aplicou um ippon e lhe escureceu um pouco as hipóteses para estes Jogos Paralímpicos. O melhor a que poderia almejar era uma medalha de bronze caso alcançasse essa disputa.
Frente a Elielton de Oliveira, o judoca português contou a quase totalidade dos três minutos de combate a assumir uma postura mais passiva do que a do brasileiro, Miguel estava expectante, a precaver-se mais do que a aventurar-se e o adversário a atacá-lo, insistente. Demasiado na defensiva, a árbitro advertiu o atleta nacional com um aviso de “não combatividade” que com menos de um minuto no relógio o forçou a mudar de atitude. Quando o fez, Oliveira aproveitou.
O ippon do brasileiro arrancou a anuência desiludida de Miguel Vieira, de joelhos no tapete a abanar a cabeça. A participação do campeão do mundo em Paris, apesar do par de derrotas, foi retribuído com um diploma face ao 7.º lugar alcançado. É o 11.º para a participação portuguesa nestes Jogos, pontuadas até ao momento por duas medalhas de ouro (Miguel Monteiro no lançamento do peso e Cristina Gonçalves no boccia) e igual número de donze (Luís Costa no ciclismo e Diogo Cancela na natação).