Foi em 1980 a última vez que as bebidas alcoólicas estiveram presentes num recinto desportivo em Portugal. A tradição de “ir à bola”, que move miúdos e graúdos por este país fora, passa sempre, ou quase sempre, pelas rulotes à volta do estádio, que se transformam numa espécie de culto que representa aquilo que é realmente ir ver um jogo de futebol ao vivo.

Há quem diga que o jogo já não corre bem sem uma bifana, sem uma imperial, ou várias, antes do jogo, no entanto, há quem beba na desportiva, e há quem faça de beber um desporto, e creio que é aqui que reside realmente o problema. Se por um lado existem pessoas que vão ao futebol para desfrutar do espetáculo, para verem a sua equipa a brilhar e para passarem um bom momento de convívio entre amigos, existem outras que procuram somente confusões e discussões desagradáveis com os demais.

As bebidas alcoólicas não são um problema na minha opinião, as pessoas, sim, essas são o real problema desta equação, no entanto, entendo que o álcool é um combustível usado muitas vezes para causar efeitos imediatos e transportar os seus usuários para outras dimensões que não a considerada normal.

Pois bem, por uns pagam todos, e por isso as bebidas alcoólicas estão fora dos recintos desportivos há mais de quatro décadas, o que prejudica a experiência de algumas pessoas dentro do universo de uma partida de futebol. Prejudica também os próprios clubes, que se têm manifestado recentemente devido a esta questão. Por isso, será que as bebidas alcoólicas devem voltar aos recintos desportivos?

O principal argumento usado por todos é o decréscimo das receitas financeiras devido a esta proibição, porque condicionam claro a capacidade financeira dos clubes. Se para um clube grande, este impacto não é enorme, acredito que para clubes mais pequenos, pode realmente fazer a diferença e complementar um bolo financeiro que pode servir para pagar ordenados, melhorar infraestruturas ou até apostar desportivamente na equipa.

No que a mim me diz respeito, compreendo que seja um tema sensível porque como já referi, as bebidas alcoólicas são um tema muito delicado para ser analisado de ânimo leve e pode despoletar, de facto, algumas reações menos positivas dos seus consumidores.

Por isso, em tempos tão sensíveis, será que faz sentido acrescentar mais um problema a um ambiente que já os tem?

Deixo esta dúvida no ar, sobre um tema que tem de ser pensado mediante todas as condicionantes que podem ou não surgir, podendo existir, por exemplo, um teste piloto em vários recintos desportivos do país, em vários ambientes, e em várias ocasiões. Esta proposta, caso acontecesse, poderia ser interessante para perceber quais os comportamentos e qual a recetividade do público em geral à venda de bebidas alcóolicas, e dos intervenientes em particular.