A história do Paris FC é feita de fusões e divórcios, de quedas e renascimentos. Tudo isto em 55 anos de vida, um neófito na centenária temporalidade do futebol. Mas estará na hora de estancar esta montanha russa de estados de vida: o Paris FC, fundado em 1969 com o objetivo de instituir um grande clube de futebol numa cidade que até então pouco lhe ligava, quer ser um dos grandes. E para isso contará com os fundos de alguém a quem eles não faltam.

Olhando para a lista de milionários da “Forbes” de 2024, não é Elon Musk o líder do pelotão mas sim alguém bem mais discreto: o francês Bernard Arnault, dono do império LVMH, onde convivem marcas de luxo como a Louis Vuitton, Christian Dior ou Fendi, bebidas requintadas como Moët & Chandon ou Don Pérignon, além de outros negócios nos media, na hotelaria e por aí fora. E como qualquer milionário que se preze, Arnault também vai ter o seu clube de futebol.

O Paris FC foi então escolhido como recetor de um investimento avultado do empresário, através da holding da família Arnault, a Agache, em colaboração com a Red Bull, que terá uma participação minoritária na estrutura do clube. Depois de altos e baixos e passagens por divisões mais indigentes do futebol francês, o emblema da capital está cimentado na Ligue 2 e na última temporada esteve mesmo no play-off de subida à primeira divisão, um lugar que o clube não conhece desde 1978/79. É assim uma interessante porta de entrada para o milionário no mundo do futebol, para mais numa cidade que saliva por concorrência ao clube que nos últimos anos, graças ao dinheiro catari, tem dominado o futebol gaulês.

“Pelos valores que transmite, pela paixão que gera e as emoções que desperta, o futebol sempre foi uma enorme paixão para nós”, sublinha Antoine Arnault, filho mais velho de Bernard Arnault, que será o representante da Agache na administração do Paris FC.

Ligado à origem do Paris Saint-Germain

Ambos têm uma Torre Eiffel estilizada no escudo, mas não se confunda o Paris FC com o Paris Saint-Germain. Ou melhor, confunda-se: o Paris FC está na génese do que viria a tornar-se no PSG que hoje conhecemos.

Equipa feminina do Paris FC já participou na Liga dos Campeões
Equipa feminina do Paris FC já participou na Liga dos Campeões Franco Arland

Foi da fusão do Paris FC com o Stade Saint-Germain que nasceu o PSG, em 1970. O casamento terminou apenas dois anos depois, após um desaguisado sobre o novo nome do emblema, e o Paris FC voltou a ser uma entidade única, separada do PSG. E enquanto o sucesso desportivo começava a beijar o Paris Saint-Germain, o Paris FC ia definhando.

Em 1983, depois de mais uma fusão, agora com o Racing, que entre 1987 e 1989 chegou a ser treinado por Artur Jorge, o que restava do Paris FC afundou-se nas divisões inferiores. Em 2017/18 voltou definitivamente à segunda divisão e, com o dinheiro da LVMH, os objetivos ficam mais ambiciosos. O negócio ainda não está concluído, mas o clube anunciou na quinta-feira, em comunicado, que tudo está perto de chegar a bom porto.

A ideia da família Arnault é, na verdade, dupla: “De forma sustentável estabelecer equipas masculinas e femininas entre a elite do futebol francês e também nos corações dos parisienses.” A equipa feminina do Paris FC já milita, diga-se, na primeira divisão, enquanto a masculina espera rapidamente lá chegar. O clube, frisa o comunicado, vai “mudar a sua dimensão e a sua mira para chegar ao sucesso”.

A Red Bull surge aqui não como ator principal, mas como uma espécie de consultor desportivo e de desenvolvimento de talentos. A Agache oferece “a sua visão empresarial e o conhecimento em termos de desenvolvimento económico”, enquanto a marca de bebidas energéticas coloca em cima da mesa a experiência no desporto “ao mais alto nível e em particular no futebol na Alemanha, Brasil e Estados Unidos”.

Não é conhecido o valor do investimento inicial de Arnault, ainda que a “CNN” fale de qualquer coisa como 100 milhões de euros, com a possibilidade de dobrar a quantia caso o clube garanta a subida à primeira divisão - e desde 1989/90 que Paris não tem duas equipas na Ligue 1, quando o Racing fez companhia ao PSG.

De acordo com o “L’Equipe”, o Paris FC pondera também deixar o modesto Estádio Sébastien Charléty, com capacidade para 20 mil espetadores, mas sem camarotes VIP, e mudar-se para o Estádio Jean-Bouin, também para 20 mil adeptos, mas totalmente remodelado em 2013. É desde então casa da equipa de râguebi do Stade Français. Mas a maior curiosidade sobre este recinto é que está localizado… do outro lado da rua do Parque dos Príncipes, onde joga o Paris Saint-Germain. Uma nova rivalidade pode estar aí a aparecer.