Em Portugal, os “três grandes” estão estabelecidos há muitos anos e, apesar de alguns emblemas se irem tentando imiscuir nessa elite, nenhum esteve até agora perto de o conseguir. Recentemente, o Braga tem tido consistência no estatuto de quarto melhor clube nacional, mas o palmarés dos guerreiros do Minho ainda não ameaça sequer o pódio.

Na vizinha Espanha, os grandes são só dois: Barcelona e Real Madrid. Também na capital, reside o maior candidato a alargar esse lote, embora ainda a uma distância significativa. Os colchoneros do Atlético de Madrid têm já reunidas algumas das condições necessárias para essa ascensão que, acontecendo, vai seguramente levar o seu tempo. Quando se tem em consideração toda a história do futebol espanhol, nem o terceiro posto é unanimemente atribuído ao emblema de Madrid.

Fundado há praticamente 122 anos por um grupo de estudantes bascos, o Atlético de Madrid começou como uma filial do Athletic Bilbao. A sua era de ouro aconteceu nos anos 60 e 70, com quatro títulos da La Liga a serem arrecadados em 16 anos. Luis Aragonés foi a principal figura colchonera desse período, tendo-se mantido como o melhor marcador do clube desde que se reformou (1974) até ser ultrapassado em 2024 por Antoine Griezmann.

Depois de algumas épocas menos conseguidas e um declínio que chegou a levar o Atlético à segunda divisão espanhola (2000/01 e 2001/02), o Atlético reergueu-se. O verdadeiro renascimento do emblema da capital aconteceu com a chegada de Diego Simeone, em 2011. Desde então, dois títulos da La Liga (2014 e 2021) e dois da Liga Europa (2012 e 2018) foram conquistados e duas chegadas categóricas à final da Liga milionária esbarraram num Real Madrid de outro mundo.

Apologista de uma grande solidez e disciplina na organização do setor defensivo, o técnico argentino tem feito do Atlético uma das equipas que mais dificuldades cria aos ataques adversários. Confortável em deixar o oponente ter bola, a equipa de El Cholo sai rapidamente para o contra-ataque assim que recupera o esférico. Caso o adversário baixe a linha defensiva para neutralizar esta ameaça, os médios tratam de “rendilhar” mais o ataque, construindo a ofensiva com passes mais curtos.

A grande intensidade e ética de trabalho são características de Simeone que são claramente espelhadas na equipa. O foco no trabalho de equipa faz com que o Atlético dependa menos de momentos de brilhantismo individual, comparativamente a outros gigantes Europeus.

Os adeptos colchoneros identificam-se com a paixão e resiliência do homem que têm ao leme e o próprio presidente do clube, Enrique Cerezo Torres, afirma não ter conhecimento de ninguém melhor para orientar a equipa.

O Atlético era líder da La Liga no final da primeira volta, mas a verdade é que de “campeões de inverno” não reza a história. A vitória em Barcelona no passado mês de dezembro teve ingredientes para cozinhar uma boa dose de motivação: derrotar um rival direto em sua casa e conseguir a remontada ao cair do pano. Foi também a primeiro triunfo em visita ao Barça na era Simeone.

No derby deste sábado, no Santiago Bernabéu, o Atleti entrou melhor e chegou ao golo através de uma grande penalidade convertida com frieza por Julián Alvarez.

No segundo tempo, os merengues entraram decididos a virar o resultado e rapidamente chegaram ao empate, com golo apontado por Kylian Mbappé. Apesar do grande caudal ofensivo, a equipa de Ancelotti não conseguiu voltar a marcar e o jogo acabou mesmo com a divisão de pontos. Simeone lamentou a falta de aproveitamento na primeira parte, durante a qual o Atlético foi superior.

A versão 2024/25 do Atlético é já recordista, depois de alcançar pela primeira vez na história a marca de 14 vitórias consecutivas. Na La Liga, a disputa está mais acesa que nunca, com os tais “três grandes” separados por apenas dois pontos. Já na Champions, o Atlético mereceu as duas jornadas de folga, ao terminar a fase de liga no terceiro posto, e terá mais tempo para preparar os oitavos de final.

O avultado investimento feito para adquirir Alvarez ao Manchester City está a parecer justificado e as figuras mais experientes como Griezmann, Oblak, Gimenez e De Paul enaltecem a candidatura desta equipa aos títulos. Voltar a vencer a La Liga e conseguir (finalmente) vencer a Champions League seriam passos fulcrais para uma aproximação do clube madrileno ao estatuto dos seus rivais.