As previsões para a cidade de Bodo não davam uma grande probabilidade de se ver uma aurora boreal, mas ela apareceu mesmo, poucas horas depois da chegada do FC Porto ao terreno mais a Norte da Liga Europa, na terça-feira. A imprevisível Natureza fez das suas, mas o futebol também. É que, apesar do bom registo no Estádio Aspmyra, poucos esperariam que o Bodo/Glimt marcasse três golos a uma equipa de Liga dos Campeões, como lhe chamou o treinador norueguês. Mas assim foi.

Vítor Bruno já tinha dado pistas na conferência de imprensa de antevisão e mexeu mesmo no onze, em relação à última partida em Guimarães. Alan Varela, Pepê e Galeno deram o lugar a Grujic, Iván Jaime e Gonçalo Borges, mas nenhum dos três acabou o jogo em campo, sinal de que não foram a solução desejada pelo treinador. Os dragões entraram a ganhar e tudo, mas a capacidade individual superior ficou mais na teoria do que na prática e nem uma expulsão no início da segunda parte ajudou a travar a impressionante média de golos marcados pelo Bodo/Glimt (2,30 por jogo).

O treinador portista leva da Noruega muito em que pensar. Lá usou os famosos calções, mas o único ato de loucura visto esta noite foi o FC Porto sofrer três golos do Bodo/Glimt e não aproveitar sequer a superioridade numérica em campo.

SAMU VOLTA A MARCAR

O FC Porto entrou melhor e, após um pequeno susto – Diogo Costa foi obrigado a defesa apertada logo aos 3 minutos -, começou a sair da pressão do Bodo/Glimt e a lançar sobretudo Samu na frente. O golo do avançado chegou aos 8’ (mais uma assistência para a conta de Moura) e até podia ter havido bis aos 10’. Só que a equipa da casa era capaz de mudar de face rapidamente e tanto parecia esperar pelos dragões perto da área como, já depois do empate (por Hogh), voltava a pressionar mais alto. Sem deixar de criar algumas oportunidades (João Mário e Samu estiveram perto, Gonçalo Borges tentava muito mas nada saía bem...), os azuis e brancos diminuíam a agressividade e a intensidade e deixavam Saltnes, Berg e companhia recuperar a bola e aproximar-se da baliza. Diogo Costa ainda travou a reviravolta duas vezes, mas à terceira foi de vez e Hauge marcou mesmo. O VAR demorou tanto tempo a confirmar o golo que Hogh ia pedindo aos adeptos para aumentarem o coro de protestos. Infelizmente, o poste que estava à frente da bancada de imprensa não era daqueles que me ajudam a confirmar ou não o fora de jogo.

EXPULSÃO E… GOLO

Vítor Bruno não mexeu ao intervalo e a segunda parte começou praticamente com a expulsão de Maatta, por simulação, mas quem pensou que isso - mais as entradas dos habituais titulares Galeno e Pepê - ia ajudar… enganou-se. Aos 62’, Hauge bisou na partida e o Bodo/Glimt estava a ganhar confortavelmente por 3-1, expondo algumas fragilidades defensivas dos dragões. A estratégia do FC Porto claramente não funcionava e, na falta de soluções coletivas, o técnico apostou em tentar as surpresas individuais: entraram o estreante Deniz Gul e Rodrigo Mora, que até então tinha estado entregue à equipa B. Ambos ainda mexeram com o ataque dos azuis e brancos e o sueco de apenas 20 anos fez mesmo o 3-2, mas a derrota na Noruega foi irreversível. Até ao fim, os adeptos locais levantaram-se das cadeiras e começaram a festejar cada lançamento. Eles que, ao longo desta curta estadia, nos iam avisando: o Bodo/Glimt é muito forte em casa. Tinham razão, foi mesmo. E o FC Porto, se quer ir longe nesta prova que já venceu por duas vezes neste século, terá de aprender a lição.