O Benfica passa por uma “deterioração dos resultados financeiros” e, nos últimos quatro anos, acumulou prejuízos líquidos de 80 milhões de euros e aumentou em 100 milhões a dívida líquida. Estas são algumas das conclusões de um estudo liderado por João Duarte, professor na Nova SBE, a pedido de um grupo de sócios das águias, entre os quais Marco Galinha, possível candidato à presidência do clube.

O estudo aponta ainda uma consequência: o Benfica pode entrar em incumprimento das regras de gestão da UEFA ao final da época 2025/26, caso não entre na Liga dos Campeões. Para alterar a situação, o autor defende uma “mudança na gestão do clube”, que deve ter como prioridade uma "redução de custos".

A análise económico-financeira teve como base o Relatório e Contas da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) do Benfica de 2010-11 até 2023-14, dados da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e do Transfermarkt, bem como, “para efeitos de comparação”, as contas do Sporting e do FC Porto entre 2021-22 e 2023-24.

“Irresponsável” e “superficial”

Rodrigo Antunes

A reação do Benfica não tardou a chegar. Em comunicado, a direção do clube fala num estudo “irresponsável” e “superficial” que procura “atingir a solidez económica" do clube e da SAD.

Leia o comunicado na íntegra:

"O Sport Lisboa e Benfica lamenta que um estudo irresponsável, superficial e que confunde conceitos básicos de gestão desportiva e económica, tenha procurado atingir a solidez económica do Clube e da Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD.

1. É totalmente falso que o Benfica esteja em qualquer risco de ser sancionado em matéria de Financial Sustainability. O Benfica nunca recebeu qualquer alerta ou multa da UEFA sobre este tema. Aliás, como se pode atestar pelo último COMPLIANCE AND INVESTIGATION ACTIVITY REPORT feito pela UEFA Club Financial Control Body (CFCB), o Benfica não é sequer mencionado, ao contrário de outros clubes. Só podemos entender que os Reportes Oficiais da UEFA não foram sequer consultados.

2. É totalmente falso que a intermediação represente um fator significativo nas transferências ou que o Benfica lucre menos que outros clubes portugueses. Ao longo dos últimos quatro anos, o valor médio de intermediação ficou sempre abaixo dos 10 por cento – a referência indicativa de mercado. Aliás, todos os estudos internacionais apontam o Benfica como um dos clubes que mais lucram com o mercado de transferências. Por exemplo, segundo o último estudo do Observatório do Futebol (CIES), o Benfica teve o quarto melhor saldo positivo da Europa, e o melhor entre clubes portugueses.

3. É totalmente falso que o Benfica esteja em qualquer risco económico. Para chegar a esta conclusão, o estudo entra em cenários futuros de quebra de receitas e de descalabro desportivo. Cenários que só quem assume este estudo pode admitir. E não prevê sequer qualquer adaptação de custos como seria expectável.

É de particular relevância que um estudo anunciado como universitário tenha sido apresentado não na universidade, mas numa sala pequena de uma unidade hoteleira de luxo. Importa ainda clarificar quais os benfiquistas que encomendaram este estudo e quem o terá financiado. O Sport Lisboa e Benfica estará sempre disponível para prestar informações e colaborar em estudos científicos e universitários. Em nome da verdade, da boa gestão e das boas práticas. Não fomos contactados pelos autores do referido Estudo. Teríamos assim evitado que, de premissas erradas, conceitos trocados e factos apócrifos, se retirassem conclusões erradas.

Por último, vale sublinhar que o Sport Lisboa e Benfica assume uma posição ímpar em Portugal e em termos internacionais no que concerne à sua sustentabilidade económica, sem perdões bancários nem fair play financeiros na sua história."

O que mais diz o estudo?

Além do risco de incumprimento financeiro, o estudo de João Duarte explica a “deterioração dos resultados” da SAD encarnada. Um dos principais motivos foi o custo de transações de atletas, superior ao dos principais rivais nacionais, e o pouco que o Benfica retém das suas compras e vendas.

“No último triénio, dos 65 milhões de euros de ganhos por ano entre compras e vendas, apenas entraram 10 milhões de euros por ano para os cofres do Benfica”, afirma o autor.

Ou seja, por cada euro em compras e vendas de jogadores, o clube arrecadou apenas 15 cêntimos. Em comparação, o Sporting ganhou 84 cêntimos e o FC Porto 28.

“Sucesso desportivo não basta”

João Duarte realça “uma clara mudança de resultados a partir da pandemia” e “um aumento desproporcional” de gastos operacionais em relação ao aumento dos rendimentos.

De acordo com as projeções, “o sucesso desportivo não basta para reverter este quadro”.

Marco Galinha, acionista da Global Media e possível candidato à presidência do clube, encerrou a sessão de apresentação do estudo a dizer que se pode “fazer mais e melhor” no Benfica.