Foram 61.750 os que estiveram na Luz para ver o Benfica-SC Braga, e quase 60 mil eram afetos à equipa da casa, que entrou em campo com o sabor doce na boca dos dois pontos que o Sporting tinha deixado em Guimarães, que colocavam os campeões nacionais ao alcance da águia. Porém, face ao Benfica, neste final de primeira volta, os leões acabaram por ganhar um ponto, e em relação aos dragões mais tarde se verá.

Houve injustiça na Luz? Nem por sombras. O SC Braga – o maior poço de contradições desta Liga - foi a equipa mais esclarecida, mais adulta e mais fria, e soube aproveitar bem as alamedas que a estrutura defensiva do Benfica continua a construir para a progressão dos adversários, nomeadamente em ataques rápidos.

Bem vistas as coisas, logo aos 17 minutos, na sequência de uma perda de bola de Arkturkoglou, os minhotos tiveram todo o espaço e tempo para fazerem chegar a bola a Fran Navarro (grande empréstimo, para quem o fez e recebeu…) que sem grande oposição bateu Trubin; e aos 40 minutos, Bambu, após um pontapé de canto apontado por Ricardo Horta, foi o único jogador na área encarnada a saltar à bola para fazer, à vontade, o 0-2. Na primeira parte, quantos remates enquadrados teve o Benfica? Zero. Apenas aos 8 minutos Pavlidis esteve perto do golo, mas acertou na malha lateral. Curto, para quem precisava de ter uma abordagem mais assertiva ao jogo, e revelou uma ansiedade que fez o esférico queimar os pés dos jogadores, subtraiu na dinâmica, e levou a que se notasse, à exaustão, a incapacidade de pressionar a saída de bola do adversário e, mais grave ainda, conseguir manter, de forma a mandar nos acontecimentos e não de ir atrás deles, o controlo da partida.

Foi da tática? Não. Bruno Lage, depois de um primeiro tempo amorfo em Alvalade, optou pela solução da segunda metade, que tinha correspondido melhor, mas que acabou por ser um ‘flop’ contra os arsenalistas. Estes, vindos de uma derrota caseira frente ao Casa Pia, começaram a partida em 4x2x3x1, mas cedo, logo que se viram em vantagem, optaram por um 5x4x1, com o recuo de Gabri e a passagem de Marin para zonas mais interiores, que nunca esteve perto de ser um ‘autocarro’. E, para os minhotos, em boa hora não baixaram demasiado as linhas, porque as ‘encomendas’ que iam chegando do Benfica eram de fraca qualidade.    

OS RISCOS DE LAGE

Após o intervalo, o Benfica regressou em 4x4x2, com o sacrifício de Aursnes para a entrada de Arthur Cabral, que se juntou a Pavlidis, passando o duplo pivot a ser assegurado por Barreiro e Kokçu. Mas as soluções dos encarnados pouco assustaram Matheus, e só aos 52 minutos enquadraram o primeiro remate, que saiu à figura do guarda-redes minhoto. E os males da primeira parte, no que respeita à vulnerabilidade defensiva – por exemplo, como foi possível Bruma ter ‘vivido’ entre linhas a fazer o que melhor sabe, sem que cuidados especiais fossem tomados? -  mantiveram-se, embora, especialmente a partir da tripla alteração do Benfica, aos 67 minutos (Pavlidis/Amdouni, Arkturkoglou/Schjelderup e Bah/Renato, passando Barreiro para a direita da defesa), o domínio territorial, também por escolha de Carvalhal, passasse a ser mais evidente, embora não melhorasse a lucidez, como vários passes sem rei nem roque de Renato Sanches mostraram.

Foi neste contexto de falta de soluções que Arthur Cabral, aos 78 minutos, tirou um coelho da cartola e, com um belo remate de meia-distância, reduziu para 1-2. Pela Luz passou a ideia de que os derradeiros 18 minutos (12 até aos 90 e mais seis de compensação) iriam ser de grande sofrimento para o SC Braga. Porém, não foi isso que sucedeu. Sem mexer no 5x4x1, Carlos Carvalhal foi ao banco, aos 82 minutos, em jogada de mestre, refrescar o ataque (Horta por Roger e Navarro por El Ouazzani), mantendo um Benfica que, já depois de Di María ter saído, apostava muitas fichas nos cruzamentos de Beste, Carreras e Barreiro, que procuravam Cabral, Amdouni e Otamendi, em contenção, sem que os donos da casa tivessem disposto de alguma oportunidade clara para empatar a partida.  

Janeiro, mês de mercado, talvez traga a Bruno Lage soluções que compactem a equipa, que se mostra de uma permissividade defensiva incompatível com altos voos. Porque, ninguém duvide, se os seis pontos perdidos nas últimas duas jornadas da primeira volta contra adversários do ‘top quatro’ – especialmente da forma que o foram - não fizer soar todas as campainhas de alarme instaladas no eixo Luz-Seixal, a época de 2024/25 dificilmente terá um final feliz para o Benfica.