Difícil escolher a palavra certa para definir o que aconteceu, neste domingo, no Estádio da Luz. Colapso seria a ideal para retratar o que se passou com o FC Porto. Esmagador, por outro lado, definiria o que fez o Benfica.

Quando os encarnados vencem os azuis e brancos por claro 4-1, muito complicado perceber se foi a águia a ser esmagadora ou o dragão a ter colapso inesperado. Um pouco das duas teses será aquilo que mais se assemelha a estes 90 minutos da Luz. Talvez até tenha sido um colapso do FC Porto provocado pela fúria e pela exibição esmagadora do Benfica. Sim, será isto.

Há mais de 52 anos que o Benfica não marcava quatro ou mais golos ao FC Porto (30 de abril de 1972, na meia-final da Taça de Portugal de 1971/1972: 6-0) e há quase 60 que não apontava os mesmos quatro ou mais para a Liga (13 de dezembro de 1964, na jornada 9 da Liga 1964/1965: 4-0).

O Benfica entrou em campo como se o Mundo acabasse já neste domingo e durante os primeiros 40 minutos encostou o FC Porto bem para junto de Diogo Costa. Momentos houve em que chegou a parecer um sufoco, fruto de sucessão de lances em que os encarnados estiveram muito perto de marcar: Di María às malhas laterais (18’), Pavlidis a marcar instantes depois de João Pinheiro ter assinalado (demasiado cedo) falta sobre Akturkoglu (19’) e livre de Kokçu (21).

O FC Porto, até então, limitara-se a pequeno susto num remate de Galeno sobre a barra (13) e outro em que Samu atirou contra Trubin, lance anulado por fora de jogo do espanhol. Os dragões, demasiado encostados atrás, apostavam em começar a construção logo à saída da área, mas perdiam quase sempre a bola.

Até que aos 30 minutos, após longo passe de Tomás Araújo, meio trivelado, da direita para a esquerda, a bola foi parar a Carreras e este, depois de tocar do pé esquerdo para o direito, evitando a oposição de Martim Fernandes, rematou forte e, ajudado por ligeiro desvio em Alan Varela, surgiu o (bem merecido) golo inicial para o Benfica.

Os encarnados marcaram e, em vez de respirarem um pouco, partiram em busca do segundo golo e, logo a seguir, sequência de remates perigosos em que quase parecia tiro ao boneco. Lances, porém, invalidados por fora de jogo. Quase de enfiada, Pavlidis rematou ao poste esquerdo da baliza de Diogo Costa. O FC Porto, face à impetuosidade do Benfica, não conseguia ter bola e, quando a tinha, não sabia bem o que fazer com ela.

Até que, pertinho o final do primeiro tempo, Martim Fernandes teve um remate frouxo, defendido sem problemas por Trubin, lance que pareceu ter arrebitado um pouco a equipa de Vítor Bruno.

Instantes depois, porém, na melhor jogada coletiva do FC Porto, surgiu um golo quase caído do céu aos trambolhões, aos 44 minutos. O cruzamento rasteiro de Francisco Moura apanhou Samu na cara de Trubin e o espanhol, recebendo nos pés a falha infantil de Otamendi, não perdoou e fez o empate.

Acreditavam os portistas que o golo de Samu poderia catapultar a equipa para segunda parte ao nível do grande FC Porto. Esperavam os benfiquistas que a equipa soubesse reagir, sobretudo emocionalmente, a empate tão inesperado. Depressa se viu que a crença do dragões fazia pouco sentido.

O Benfica voltou a entrar muito forte e o FC Porto continuou encostado atrás. Logo aos 56’, recebendo passe brilhante de Aursnes, rasgando a defesa portista de alto a baixo, Di María progrediu uns metros e, à saída de Diogo Costa, picou-lhe a bola e fez o 2-1. Seis minutos depois, Tomás Araújo imita Aursnes e rasga a defesa azul e branca com passe que encontra Bah na profundidade. O dinamarquês cruzou rasteiro e, na luta com Pavlidis, Nehuén Pérez faz o 3-1 na própria baliza.

Faltava quase meia hora para o final do jogo e sentiu-se que o resultado, se não estava fechado, andava perto de o ser. Os jogadores do FC Porto caíram emocionalmente, enquanto os do Benfica, que pareceram mais frescos, foram em busca de uma vitória histórica. E Di María, aos 82 minutos, numa grande penalidade assinalada após falta de Alan Varela sobre Otamendi, fez o quarto e último golo de uma vitória esmagadora.