
Carlos Queiroz esteve no Fórum dos treinadores promovido pela ANTF, onde abordou, num dos primeiros painéis, a diferença entre treinar um clube e uma seleção. O experiente técnico, de 72 anos, comentou o momento atual da Seleção Nacional, que orientou entre 2008 e 2010.
"Continuamos a ter, digamos, as ilusões que os últimos anos nos habituaram. Temos uma geração de jogadores que com o efeito cumulativo do trabalho de anos e anos de formação nos clubes, têm garantido a continuidade de sucesso na Seleção. Nós não temos só jogadores. Temos uma dinastia de jogadores que têm dado continuidade a esta plataforma de sucesso", revelou o técnico, salientando, porém, um "momento crítico" que "os responsáveis" da Seleção das quinas terão de enfrentar: "Mais cedo ou mais tarde vamos ter que enfrentar a grande decisão da saída de um jogador genial e que marcou a história do futebol português para sempre, que é o Cristiano [Ronaldo]. Os responsáveis têm de ter consciência de que é importante tomarmos as decisões certas, inovadoras, criativas, para evitarmos que a nossa Seleção entre num declínio. O problema da dinâmica holística de um declínio é que, se entrarmos nesse processo, para voltarmos para cima é muito mais difícil. As grandes decisões que temos de tomar para o futuro da nossa seleção têm de ser agora."
Nesse sentido, Carlos Queiroz aponta a reestruturção do processo de formação de jogadores como uma decisão a tomar. "Temos de rever os quadros competitivos para tornar os nossos jogadores ainda mais agressivos e mais dinâmicos nas suas decisões, dadas as características do próprio jogo. Enfim, há uma série de outros elementos. Temos de aumentar a base do número de jogadores. Neste momento, com a atração que o futebol tem, não vejo nenhuma razão para que Portugal não possa ter 300, 400 mil jogadores efetivos a jogar", disse, acrescentando: " Quanto mais qualidade tiver a base, maior a possibilidade de podermos ter ainda maiores talentos. E, portanto, esperar que a genética das mães e pais do Figo e do Cristiano Ronaldo continue por aí, por todo o país, para podermos continuar a ter a genialidade dos jogadores que têm trazido este brilhantismo para o futebol português."
Veja, em baixo, mais intervenções do antigo selecionador nacional.
Tem havido alterações na forma de treinar as seleções nos últimos tempos? "Houve, sobretudo, consequência do facto ao tempo. As alterações dos quadros competitivos, das exigências e das obrigações dos clubes têm tirado às seleções o que era o seu espaço temporal próprio de maturação do treino e da preparação da equipa para os jogos. A filosofia de abordagem, hoje, da preparação de uma seleção é completamente diferente de há alguns anos atrás. Eu diria que, no princípio do nosso trabalho, quando chegamos a uma seleção com os jogadores novos, nós deixámos de ser treinadores para se fazer o papel de mágicos. Aquilo ali nos primeiros tempos era fácil, mágico. Além disso, temos de tomar as decisões certas com base em observações e análises e esperar que a nossa visão, a nossa inspiração resulte, pouco a pouco. No fundo, o trabalho de um treinador numa seleção está assente em duas premissas: arte de convencer e arte de ganhar tempo para que depois o trabalho possa ser, fundamentalmente, solidificado."
Aumento do número de seleções nas competições internacionais. "Eu tenho algumas dúvidas pessoais sobre isso, a minha convicção é que, o que é altamente valioso é raro. Se nós proliferarmos as fases finais do Campeonato do Mundo com um número excessivo de jogadores, a atração dos melhores dos melhores, do raro, deixa de existir. É evidente que, como eu disse nesta intervenção, as coisas estão a mudar. Antigamente, os troféus lideravam o processo, hoje ninguém fala nisso. E nós vimos da construção de soluções económicas para os troféus. Uma coisa é certa: o último Campeonato do Mundo, com osos dados oficiais que nós temos hoje,, ultrapassaram pela primeira vez 1,5 mil milhões de pessoas a ver o jogo em direto. Isto é um fenómeno que tem que ser aplaudido."