O documentário, produzido pela SkyShowtime, oferece uma visão de mais de duas décadas da carreira futebolística do guarda-redes agora com 61 anos. A história desenrola-se não só no ambiente familiar, mas também nos balneários dos clubes.
«Desde pequeno, sempre quis chegar ao topo», são as palavras de Peter Schmeichel no início do filme.
«Foi o melhor guarda-redes que já tivemos. Quando se tem um guarda-redes assim, nem é preciso defesas», afirmou o treinador escocês sobre o jogador que, ao longo de oito anos, entrou para a história do Manchester United.
«Cresci com a convicção de que tinha de ser o melhor. Uma vez, a minha professora disse-me que eu tinha talento. Respondi-lhe que um dia jogaria pela Dinamarca e pelo Manchester United. E eu tinha apenas nove anos», recorda o antigo jogador.
O documento inclui imagens exclusivas da sua vida privada, revelando também a vida do seu filho Kasper, guarda-redes do Celtic e internacional dinamarquês. Além de Sir Alex Ferguson, inclui entrevistas com Eric Cantona e Gary Neville.
Peter Schmeichel recorda-se vividamente do dia em que chegou a Old Trafford. «Primeiro, levaram-me ao museu do clube para que eu compreendesse a responsabilidade que estava a assumir. Não tinha vindo apenas para um clube de futebol, mas sim para um lugar histórico», afirma.
«Nunca antes tinha visto este estilo de defesa. Foi muito interessante. E aqueles lançamentos de 70 a 80 metros... Era como uma montanha, destruía tudo no seu caminho», diz Gary Neville. «Quando estavas à frente dele, não era como com outros guarda-redes. Era completamente diferente, tinha algo especial», acrescenta Eric Cantona.
Uma das memórias mais chocantes no documentário provém do balneário após um jogo em 1994, quando o Manchester United estava a vencer o Liverpool por 3-0, mas os "reds" conseguiram empatar, o que enfureceu Alex Ferguson. «A razão pela qual explodi foi o golo do 3-3. Devia ter sido a bola dele, foi isso que me irritou», explicou o treinador. O guarda-redes descreve então o que se passou no balneário.
«Estava desapontado e zangado. Culpou-me, mas não foi culpa minha. Lamento, no entanto, a minha reação subsequente - disse muito sobre os meus colegas de equipa que não devia ter dito. Não era o meu papel criticar os colegas», recorda Schmeichel.
«Pena não ter tido uma câmara de filmar. Sinceramente, não consigo expressar por palavras o que aconteceu lá. Nunca vi nada parecido. Pensei que ia começar uma luta. Caos absoluto», recorda Gary Neville sobre os momentos tensos.
«Ultrapassei os limites. Fui para casa de autocarro, estava nervoso e fumei. Estava convencido de que me iam despedir. Liguei ao meu empresário para me encontrar uma nova equipa. Passados alguns dias, houve uma grande reunião no estádio, mas nada aconteceu, por isso continuei», acrescenta o dinamarquês.
«Foi um erro enorme ter saído do Manchester United. Bastava ter ido falar com o treinador e dizer-lhe que já não tinha energia para jogar todos os jogos, mas que ainda podia ajudar a equipa. Mas o meu orgulho era demasiado grande, não queria mostrar a minha vulnerabilidade», confessa.
Segue-se entrão o Sporting e Portugal. «É muito difícil falar de 'arrependimentos', porque fui a Portugal e passei um tempo fantástico lá, não tanto a nível futebolístico, mas a nível humano. Conheci lá pessoas que hoje são minhas amigas. Por isso, sim, deixei o Man United, mas ganhei algo mais», recorda ao jornal Dateline.
No documentário, Schmeichel fala sobre os problemas que enfrentou na sua vida pessoal. Estes centravam-se principalmente na sua relação com o pai, Antonio: «Ele disse-me que era alcoólico há 40 anos e eu vi que a situação estava a piorar muito. Mudei-me para Portugal e a minha mãe fugiu comigo. Não dei ao meu pai o número de telefone nem a morada. Um dia acordei e ele estava ao meu portão. Estava muito bêbedo. Disse-lhe que não o queríamos ali, então passados dez minutos foi-se embora. Foi muito difícil.»
«Mais tarde, conseguiu superar o alcoolismo e reconstruir as relações com a família, mas continuava sem me falar. Tinha-o humilhado de tal forma que ele não conseguia esquecer. No entanto, depois de uma conversa com a minha mãe, acabámos por nos reconciliar», revela o antigo guarda-redes sobre o seu pai, que faleceu em 2019 aos 86 anos.
Após deixar o Sporting, onde esteve duas épocas, jogou ainda no Aston Villa e Manchester City. Em 2003, encerrou a carreira profissional e voltou à sua paixão de infância: a música e o piano.