Caro leitor, a experiência literária desta crónica fica muito mais completa caso seja acompanhada pela música Estrela Do Mar, de Jorge Palma.
Foi «numa noite em que o céu tinha um brilho mais forte» que Rúben Amorim se despediu de Alvalade. Eventualmente, ainda comparece na noite de sexta-feira, frente ao Estrela, mas será um mero formalismo. O divórcio, ainda que não consumado, foi esta noite. Mesmo que as burocracias se alonguem mais uns dias, já não existe amor, mesmo que a admiração e o respeito durem toda uma vida. Pelo meio, houve um jogo frente ao Nacional (3-1) e uma passagem à final four da Taça da Liga - claros atores secundários.
Reconhecer o histórico passado...
Durante anos numa profunda crise, os adeptos leoninos estavam «sozinhos ao relento». Isto, até ao dia cinco de maio de 2020 - o dia da oficialização da «Estrela do mar».
Rúben Amorim foi um oásis no universo leonino. Reanimador da constantemente gorada esperança leonina. Do dissimulado - mas assertivo - e «se corre bem?»... «Houve qualquer coisa impossível» que fez «acreditar» os adeptos do Sporting e levou Amorim até ao Olimpo verde e branco. Fez história. Marcou uma era.
Dois campeonatos, duas Taças da Liga e uma Supertaça Cândido de Oliveira. Ainda não «passaram mil anos», mas foram cinco épocas de muitas alegrias, eternizadas na memória dos sportinguistas.
Adeptos estes que se mostraram mais tristes esta noite, em Alvalade. Percetível, face às circunstâncias, e justificável, tendo em conta o boicote das claques aos jogos da Taça da Liga. Um clima estranho, sobretudo quando contrastado com o «vulcão de Alvalade» que tem teimado em entrar em erupção, sobretudo, desde a última época.
... e seguir em frente
Os jogadores tentaram, contudo, animar a plateia. Esforçados - Fresneda, Harder, Maxi, Edwards, Inácio, Geny... -, mas ineficazes na primeira parte. O Nacional, alheio a todo este enredo, fez o seu jogo: quebrou os ritmos do jogo quando entendeu e não menosprezou as investidas ao último terço. Primeira parte a deixar saudades de um futebol que ainda não foi, mas já cá não estava.
Passes errados, um ou outro assobio na bancada e alguma falta de paciência. Quiçá, flashbacks na cabeça de alguns adeptos de tempos mais cinzentos, alturas em que tudo corria mal. Era preciso fibra. Um homem que afirmasse: «Sai o Rúben, não cai o Sporting». Era preciso um pontapé nos fantasmas e, por isso, Hjulmand, o capitão, chegou-se à frente; encheu o pé e 1-0. Alívio nas bancadas.
O bombeiro do costume, Viktor Gyokeres, não foi chamado para inaugurar o marcador, mas apareceu - inevitável - pouco depois. De bola parada, bisou: primeiro de grande penalidade e depois de livre. Sim, de livre! O Sporting voltou a marcar de livre, passados quatro anos!
Antes do terceiro do Sporting - o segundo de Viktor - o Nacional ainda reduziu. Um remate de Luís Esteves bateu caprichosamente nas costas de Rúben Macedo e traiu Vladan. Golo de honra - merecido face à postura ofensiva; apesar de algumas perdas de tempo, não houve autocarro - para os madeirenses.
O Sporting venceu e, agora, vai para a final four da Taça da Liga. Rúben Amorim caminhou «enquanto houve estrada para andar» e, agora, vai para o Manchester United.