
É uma expressão popularmente utilizada por terras lusitanas, foi eternizada pela música de Mão Morta e apropriada na perfeição para o espetáculo assistido esta noite no Estádio Benito Villamarín: dente por dente, olho por olho entre duas equipas niveladíssimas.
Ao nível que bem nos habituou nos grandes jogos esta temporada, o Vitória SC arrancou um encorajador empate (2-2) num dos mais míticos recintos do futebol espanhol ao fazer frente a um Betis que possuiu reconhecidamente as melhores individualidades, mas que não foi capaz de refletir todo o favoritismo daí proveniente ao longo do tempo de jogo. Eliminatória em aberto e despique dos bravos para o duelo agendado para o D. Afonso Henriques.

Capaz de refrescar meia equipa face ao triunfo contra o Real Madrid, nem por isso Manuel Pellegrini retirou os vários pesos pesados, com Isco e Antony à cabeça. Já Luís Freire surpreendeu com a aposta totalmente renovada no flanco direito, onde Hevertton Santos e Úmaro Embaló se estrearam a titulares na equipa.
Se dúvidas houvesse sobre um dos jogos de cartaz destes oitavos de final, elas rapidamente se dissiparam com a qualidade de interpretação de alguns dos seus principais atores. É verdade que os golos ficaram na bagagem durante toda a primeira parte, mas o bloqueio no marcador não resultou, nem de perto nem de longe, num filme entediante.
Suportado pelas largos milhares de almas minhotas que, destemidas, fizeram frente ao incansável apoio caseiro, o Vitória SC assumiu as rédeas da partida com uma personalidade assinalável. Tiago Silva e Händel foram mestres no carregamento do jogo, enquanto Úmaro Embaló maltratou, vezes sem conta Romain Perraud. Na ponta da lança, Nelson Oliveira assumiu o papel de pivot com distinção, ajudando às várias transições que foram surpreendendo a lenta recuperação betica.
É claro que a conhecida qualidade do adversário não desapareceu com a bela demonstração lusitana e, ao primeiro sinal de tremor encabeçado por Embaló, Cédric Bakambu fez estremecer as bancadas do Benito Villamarín com um golo que não contou, mas serviu de aviso às tropas de Luís Freire.
Apesar do aviso, o Vitória SC não se encolheu e, pelo contrário, apertou o Betis pelas golas. Pelo meio Bakambu ainda proporcionou uma defesa digna das maiores loucuras a Bruno Varela, contudo nada intercetou a alma trazida do Berço da Nação. João Mendes chegou ligeiramente atrasado ao centro pingado saído do pé esquerdo de Embaló, com Hevertton Santos a desperdiçar a ocasião mais clarividente - passe delicioso de Nuno Santos - da etapa na cara de Vieites.
Perdurava o nulo, mas mantinha-se a indecisão para uma segunda parte na qual não se esperava menos do que o festival dos 45' iniciais.
Expetativa gera expetativa!
E se não se esperava menos, o que dizer dos primeiros seis minutos? Mais agressivo e proativo, o Betis pegou no jogo como nunca até então e chegou ao golo na primeira aproximação. Desta vez letal, Bakambu atirou a contar no meio da confusão, fazendo explodir pouco mais de 40 mil aficionados afetos aos heliopolitanos. Parecia ser uma reentrada para esquecer do Vitória SC, mas toda essa teoria caiu por terra no minuto seguinte.

Artista dos grandes golos e grandes momentos, João Mendes surgiu com um destemido e indefensável bilhete que só parou no fundo das redes de Vieites. Escusado será dizer: consumava-se a total loucura num dos topos do anfiteatro andaluz. Tudo equilibrado de novo, em boa hora para o Vitória SC, diga-se.
Daí em diante, o Betis pautou a tendência ainda que sem ser avassalador e o jogo caminhou para o final nesses moldes. Bakambu viu o poste e Bruno Varela negar-lhe o bis, enquanto os vitorianos conseguiam reagir e incomodar a espaços no último terço. A sentir alguma quebra na equipa, Luís Freire fez entrar Miguel Maga e Samu à procura do equilíbrio até então verificado.
No entanto, à entrada do último quarto de hora a lâmpada do maior génio a pisar o relvado andaluz brotou nova felicidade para os da casa. Ruibal cruzou atrasado para uma zona da área onde não morava ninguém dos minhotos e Isco encontrou as redes de Varela com um remate repleto de classe e de primeira.
Só que até ao fim, a abnegação e força trazida de Guimarães não esmoreceu e Nelson Oliveira chocou a a nação verdiblanca. O tiro tão cruzado quanto enrolado beijou mesmo as redes de Vieites e o empate atribuiu a justiça a um clube que tem feito por merecer todas as conquistas europeias que tem alcançado em 2023/24.