Há pessoas que parecem saber fazer tudo. Veja-se o caso de Diego Forlán.
Um dos melhores futebolistas da sua geração, representou o Uruguai 112 vezes, ganhando a Copa América 2011 e chegando às meias-finais do Mundial 2014. Não contente com isso, criou uma fundação que promove a segurança rodoviária e, quando assinou pelo Cerezo Osaka, chegou à conferência de imprensa de apresentação e conseguiu dizer várias frases em japonês.
Diego Forlán, ser humano completo, ambidestro, que rematava com força e colocação com ambos os pés. Diego Forlán, melhor jogador do Mundial 2010, quando dominou a imprevisível Jabulani como ninguém.
Diego Forlán, ex-futebolista, agora tenista. E não, não apenas um reformado que pega na raquete de vez em quando. Diego Forlán, tenista que, pelo menos uma vez, entrou num torneio do circuito profissional.
Em 2018, o homem que alcançou a proeza de ganhar a Bota de Ouro com o Villarreal, primeiro, e com o Atlético de Madrid, depois, deixou a carreira de jogador. Dera a volta ao mundo de chuteiras calçadas: Argentina, Inglaterra, Espanha, Itália, Brasil, Japão, Uruguai, Índia, Hong Kong. Era altura de recuar uns 20 anos.
Na adolescência, o filho de Pablo e o neto de Juan Carlos, ambos futebolistas internacionais uruguaios, jogava, simultaneamente, futebol e ténis. Quando teve de optar, escolheu a bola de maiores dimensões. Ao deixar o futebol, voltou a virar-se para o treino com a bola amarela.
Diego passou os últimos anos a treinar sob a tutela de Enrique Pérez Casarino, antigo capitão do Uruguai na Taça Davis. Fiel ao domínio que já evidenciava no futebol, Forlán joga ténis com a mão esquerda, apesar de escrever com a direita. Enfim, gente que faz tudo.
Em 2023, Forlán, de 45 anos, começou a competir no circuito de veteranos. Teve bons resultados na sua categoria etária, chegando a uma final. Mas havia “um sonho” para cumprir".
Jogar no circuito profissional. A intenção concretizou-se formando equipa com Federico Coria, argentino que é 101.º do ranking de singulares. Numa grande ação de marketing, o Uruguay Open, da categoria challenger — circuito secundário —, convidou a parelha a entrar no seu quadro principal.
A competição deu-se, justamente, no Carrasco Lawn Tennis Club, onde Diego jogava na adolescência. A ocasião reuniu um nível de atenções pouco comum fora dos grandes palcos da modalidade. Recinto cheio, presenças de Remo Monzeglio, ministro do turismo do Uruguai, Sebastián Bauza, secretário de estado do desporto, ou Diego Lugano, companheiro de seleção de Forlán, 95 vezes internacional.
Antes da estreia, Forlán reconheceu que, “apesar de ter melhorado muito nos últimos anos”, continua “muito longe dos profissionais”. Seria “um privilégio”, assegurou quem sabe o que é pisar grandes palcos, tendo atuado em três Mundiais, três Copa América ou vestido as camisolas de Manchester United, Atlético de Madrid ou Inter.
O cenário da primeira eliminatória não se afigurava fácil. Alinhando com Coria, que não é um especialista em pares, Forlán teria, do outro lado da rede, a dupla formada pelos bolivianos Boris Arias e Federico Zeballos, parelha habituada a competir junta. Os bolivianos ocupam, ambos, a 109.ª posição do ranking de pares, já tendo estado entre os 100 melhores em 2024.
As previsões de dificuldades cumpriram-se. Em somente 49 minutos, Arias e Zeballos impuseram-se por claros 6-1 e 6-2.
As crónicas da imprensa uruguaia falam de um recinto completamente entregue ao ídolo do futebol do país. Diego Forlán, que muito jovem foi terminar a formação no Independiente, da Argentina, fez parte da geração que recolocou o Uruguai nos grandes palcos do futebol.
Depois da ausência do Mundial 2006, a equipa do maestro Tabárez, com Forlán como estrela e Cavani e Suárez como acompanhantes no ataque, brilhou em 2010. Forlán bisou na fase de grupos frente à anfitriã África do Sul e, na fase a eliminar, explodiu, marcando nos quartos de final ao Gana, nas meias-finais aos Países Baixos e no duelo pelo terceiro lugar contra a Alemanha.
Na memória coletiva ficaram os seus remates de longe, dando efeitos imprevisíveis à Jabulani. Diego chegou a ser o melhor marcador da história do Uruguai, marcando 36 vezes, mas, entretanto, foi superado por Cavani (58 golos) e Suárez (69).
Após a derrota na estreia no ténis profissional, Forlán reconheceu que “a probabilidade de não vencer era muito alta”, pelo que se preparou “para desfrutar”. “Diverti-me muito. Foi muito especial. Sonhei com isto quando era miúdo, es muy lindo fazê-lo aos 45 anos”, confessou.