Pinto da Costa, que morreu no sábado aos 87 anos, gerava confiança e respeitava o trabalho das pessoas em seu redor, testemunha Domingos Gomes, médico do FC Porto nos primeiros mandatos do antigo presidente dos dragões.

"Dizia-me que eu estava em todos os sítios em que era preciso e que era aquela pessoa certa que tomava sempre a decisão certa à hora certa. Como pode imaginar, uma pessoa destas não é um gestor, mas sim um gerador de confiança para as pessoas. É uma perda muito grande e toda a gente se apercebe disso, mas o FC Porto não para e continua a ser grande. Apesar de ter agora uma nova equipa [de gestão], as coisas funcionam da mesma maneira ou por outras vias, mas bem", reconheceu à agência Lusa o médico, de 84 anos.

Jorge Nuno Pinto da Costa, ex-presidente do FC Porto, clube no qual se estabeleceu como dirigente mais titulado e antigo do futebol mundial entre 1982 e 2024, morreu aos 87 anos, vítima de cancro, numa notícia encarada com tristeza pelo amigo Domingos Gomes.

"Até as coisas que estão previstas são sempre trágicas. Ele deixou coisas fabulosas e difíceis de citar. Além das vitórias, houve factos fantásticos nesta relação", rememorou.

Médico de família do presidente honorário 'azul e branco', Domingos Gomes licenciou-se na área pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e chegou ao departamento clínico da natação do FC Porto em 1973, três anos antes de ter passado a desempenhar funções similares no futebol profissional, aplicando uma série de mudanças significativas.

"Entrei com [o então diretor] Pinto da Costa para o futebol [em 1976] e ele ajudou-me a construir um departamento clínico. A partir de 1982, o FC Porto começou a ser o ponto de irradiação de uma nova medicina de futebol, ao modificar toda a estrutura, desde a rotina alimentar à recuperação [dos atletas], sempre com o aval e a presença dele", partilhou.

Domingos Gomes acompanharia a conquista das quase três primeiras dezenas de títulos da presidência de Pinto da Costa, incluindo uma então designada Taça dos Campeões Europeus (1986/87), uma Supertaça Europeia (1987) e uma Taça Intercontinental (1987).

"Tivemos sempre um apoio extraordinário da parte dele e expandimo-nos claramente em Portugal, com todos os clubes a copiarem a atuação do nosso departamento médico e, depois, espalhámo-nos pela Europa, sempre com o aval e a confiança dele e com a minha retaguarda protegida", reiterou o também médico da UEFA e da FIFA durante 15 épocas.

O vínculo ao FC Porto perdurou até 1999, ano assinalado pelo quinto título de campeão nacional seguido, um feito iniciado em 1994/95 e exclusivo na história do futebol português.

"O departamento clínico teve uma atividade única, extraordinária e expansiva. O Pinto da Costa motivava tudo isso, ajudava-nos a fazer congressos e estava sempre em cima da jogada. Depois, fui para deputado [do PSD durante a VII Legislatura] e abandonei o FC Porto. Seria convidado a voltar por duas vezes, mas não foi possível", evocou Domingos Gomes, distinto por nunca olhar a rivalidades futebolísticas no exercício da sua profissão.

Pinto da Costa tinha sido diagnosticado com um cancro na próstata em setembro de 2021 e agravou o seu estado de saúde nas últimas semanas, menos de um ano depois da derrota para a presidência do clube frente a André Villas-Boas.

"Não o acompanhei [nos tempos mais recentes], mas fui sabendo e tinha informação de uma pessoa muito próxima dele, o Fernando Póvoas. Mesmo assim, vendeu cara a derrota e, como fazia sempre, lutou até ao fim com as forças todas. Vai continuar a conquistar coisas, seja elas quais forem, no sítio para onde irá", finalizou.

Empossado pela primeira vez em 23 de abril de 1982, seis dias depois de ter sido eleito sem oposição como sucessor de Américo de Sá, o ex-dirigente exerceu funções durante 42 anos e 15 mandatos consecutivos, levando o FC Porto à conquista de 2.591 títulos em 21 modalidades - 69 dos quais no futebol sénior masculino, incluindo sete internacionais.