Foram cerca de 3,6 milhões de euros em despesas não justificadas, entre viaturas de trabalho usadas por familiares para viagens privadas ou faturas de jantares, por vezes de mil euros, “sem justificação profissional”. Detetaram-se perdas de €5,1 milhões relativas a “irregularidades” na venda de bilhetes aos Super Dragões e alguns dos seus membros terão ido de férias a Cuba, Cancún, Maldivas ou Tanzânia, destinos exóticos onde não houve jogos do FC Porto, com fundos do clube. Em resumo, os administradores da SAD dos dragões usufruíram, nas últimas 10 épocas, “de 3,6 milhões de euros em despesas de representação que não são elegíveis em consonância com o regulamento interno, evidenciando um encargo significativo de custos adicionais” segundo o relatório da auditoria forense realizada pela Deloitte.

Os resultados escancararam uma suposta gestão danosa de Jorge Nuno Pinto da Costa e de quem com ele governava o FC Porto. Conhecidos em janeiro, não mereceram logo uma reação ao anterior presidente do clube e foi preciso quase um mês para “o silêncio” deixar “de ser uma opção”. É o que se lê no comunicado, divulgado esta segunda-feira pelo “Jornal de Notícias” e “O Jogo”, assinado pelo ex-líder dos dragões, que serve para responder às conclusões da auditoria que “tristemente” constatou terem ido “ao encontro do que quem as encomendou pretendia” para lançarem “uma série de informações descontextualizadas”.

Num documento com cinco pontos, o homem que governou o clube durante 42 anos ripostou contra várias dessas conclusões, incluindo a dos bilhetes. Pinto da Costa critica que “se preferiu a aposta nos episódios mediáticos” devido “à constatação de que não se pode imputar diretamente à anterior administração qualquer atuação à margem da lei”. Explica que “dirigir um clube com a dimensão e ambição” do FC Porto “não é fácil”, justificando que tal “implica tomar decisões complexas, arriscar, falhar algumas vezes” e “lidar com as consequências do que não corre bem”. Sem abordar diretamente as irregularidades apontadas pela auditoria forense, defende que “não pode ser esquecido que foi o modelo de gestão” implementado por si que “permitiu ao FC Porto os inúmeros sucessos desportivos que lhe são reconhecidos nacional e internacionalmente”.

O hoje presidente honorário dos dragões salienta que as contas da SAD “foram sempre auditadas pelas maiores empresas internacionais do setor”, incluindo a Deloitte, autora da auditoria forense, “sem nunca algo ter sido assinalado de irregular”. Quanto aos 3,6 milhões em despesas de representação alegadamente inválidas, evoca um “recurso” que “não é de agora” e era aprovado pela Comissão de Vencimentos, apontando o exemplo de Angelino Ferreira, líder do Conselho Fiscal da direção de André Villas-Boas e administrador da SAD “no período imediatamente anterior ao da autoria” - porque “já depois de ter abandonado o cargo continuou a apresentar faturas para esgotar o saldo que deixou”. Pinto da Costa indica que nenhuma autoria anterior sinalizou esse hábito como uma má prática.

Outro dos pontos visado pelo recente relatório da investigação pedida por quem, em abril de 2024, venceu as eleições dos dragões, foi a dívida (€46 milhões) em comissões de representação a agentes e intermediários de transferências. O mais titulado presidente da história do futebol reclama que “se procurou qualificar como absurdo” esse tipo de pagamento sem ser destacada “qualquer ilegalidade ou discrepância relevante” face ao que os “clubes concorrentes” também fazem. “A importância das comissões (...) não muda através de operações de cosmética”, refere, em alusão ao novo Portal de Transparência criado por AVB, especificando a “alteração do nome das comissões ou a inflação de negócios para que aparentemente não as incluam”. Pinto da Costa aguarda pelo fim da investigação para verificar se “o tão relevante valor referido como indevido se verifica”.

O antigo líder do FC Porto, lamentando o momento “por demais evidente” em que “o objetivo” é “denegrir o caráter, o trabalho e o legado de quem dedicou longos anos ao serviço do clube”, defende ainda que “nada é mais falso” do que as notícias de que a sua direção teria deixado apenas 8 mil euros nos cofres dos dragões. Advoga que investiu e valorizou o plantel que permitiu “um encaixa de €167 milhões” nesta primeira metade de época, concretizou “novas parcerias” - realça a da Ithaka -, recolhe louros da transferência de Octávio para o Al Nassr e da qualificação para o Mundial de Clubes, lembra “o estádio e o pavilhão integralmente pagos”. E despede-se com o desejo de “um FC Porto ganhador, no futebol e em todas as modalidades (...), esteja quem estiver a dirigi-lo”.