A história entre Feyenoord e Benfica é curta. No total, estes dois emblemas apenas se encontraram por quatro ocasiões em jogos oficiais e tudo na década de 60/70. Ao nível de jogadores, também são poucos aqueles que representaram ambos - apenas cinco - e ainda são menos os portugueses (três) que representaram o clube neerlandês na história.

Um dos poucos, e o mais recente na curta lista, foi João Carlos Teixeira, médio de 31 anos, atualmente ao serviço dos chineses do Shangai Shenhua, que defendeu as cores do emblema de Roterdão entre 2020 e 2021 - antes de se mudar para Famalicão, a sua última passagem por Portugal. Apenas lá esteve um ano e meio, mas foi suficiente para criar uma ligação especial ao clube.

João Carlos Teixeira
Feyenoord
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«É um clube grande nos Países Baixos. Mete 50 mil pessoas no estádio. É um clube muito típico, cultural. Um clube do povo, tradicional. Não diria de bairro, mas que representa bem a sua cidade», começa por dizer, em exclusivo ao zerozero, via telefone, a partir da China.

«Gostei da cidade, mas apanhei a pandemia. Estava tudo fechado, durante muito tempo. Não deu para conhecer muito. Nunca aprendi muito de neerlandês, porque toda a gente fala inglês, então nunca tive essa obrigação. Sabia os básicos, como os números, coisas de treino e aspetos do dia a dia, até para ser mais educado», acrescenta o médio luso, admitindo, pelo meio, que de mandarim - língua oficial da China - sabe «zero» nesta altura.

Apesar do pouco tempo em Roterdão e nos Países Baixos, tal foi suficiente para João Carlos Teixeira dividir balneário com dois jogadores que, hoje, representam o Benfica: Orkun Kokçu e Frederik Aursnes - dois dos tais cinco jogadores a representar os dois clubes na história.

João Carlos e Kokçu no Feyenoord @Getty Images
«O Ori [Orkun Kökçü era um jovem promissor, com uma grande personalidade dentro de campo. Cá fora, era muito tranquilo e reservado, mas quando entrava nas brincadeiras era bastante engraçado. Com o Fredrik Aursnes tive mais ligação, por ser mais velho, com uma idade mais próxima da minha, e ser estrangeiro também. O Ori falava neerlandês, então tive grande proximidade com o Aursnes. É uma pessoa fantástica e um grande jogador. Aliás, quando ele chegou do Molde ninguém o conhecia e, de repente, começou a jogar e ficámos: ‘Uau’», relembra o luso.

«Não me surpreende o sucesso que estão a ter. O Ori era jovem, mas já se notava nele muita qualidade. O Fredrik não conhecia, mas foi uma surpresa muito boa. É um jogador diferente, polivalente, em quem se pode confiar para tudo», complementa.

A influência de Arne Slot

Slot acabou com longo jejum @Getty / ANP

João Carlos Teixeira passou época e meia ao serviço do Feyenoord. Na primeira, em 2020/21, foi treinado pelo famoso Dick Advocaat e foi onde mais jogou - 22 jogos e quatro assistências - embora a época, a nível coletivo, tenha sido um fracasso - 5º lugar no campeonato. A época seguinte foi de mudanças, chegando o também neerlandês Arne Slot, que recentemente assumiu a vaga deixada por Jürgen Klopp no Liverpool

O sucesso coletivo foi imediato, o Feyenoord chegou à final da Conference League na sua primeira época e sagrou-se campeão neerlandês na segunda, algo que não conseguia desde 2017. Contudo, pelo meio, João Carlos Teixeira seguiu o caminho inverso e, em 2021/22, perdeu espaço, acabando por optar por sair em janeiro, rumo a Vila Nova de Famalicão.

«Não estava a jogar, por isso decidimos mudar. Mas gostei muito de trabalhar com ele e não me surpreende nada que esteja no Liverpool. É um treinador que realmente percebe do jogo, jovem, que consegue gerir o balneário. Tem ideias de jogo muito boas. Um treinador completo. Quando saí do Feyenoord, não tinha dúvidas que ele ia chegar longe. Quando chegou, mudou muita coisa e melhorou muito. Notava-se muita diferença. Aprendi muita coisa, apesar de não ter jogador muito», explica-nos.

Feyenoord foi campeão em 22/23 @Getty /
«O Ajax vinha de um domínio muito grande, é a equipa da capital, com dinheiro e mais posses para contratar e pagar salários. Depois o PSV, de Eindhoven, forte e financeiramente com capacidade maior que o Feyenoord. O Feyenoord é a terceira/quarta maior equipa. O Arne Slot chega, não eram campeões desde 2017. Na primeira época chegam à final da Conference e na segunda época é campeão neerlandês. Teve um impacto muito grande, competindo com as outras duas equipas, que têm mais posses e meios», acrescenta.

Agora, Slot saiu e mudou-se para a Premier League, onde está a ter um grande arranque - nove vitórias em 10 jogos e líder da Premier League. Para o seu lugar, o Feyenoord contratou o dinamarquês Brian Priske, mas o plantel também sofreu uma grande remodelação, houve lesões relevantes - como a do avançado mexicano Santiago Giménez, em tempos apontado ao Benfica - e o arranque tem sido tremido. Ocupam o sexto lugar na Eredivisie e levam quatro vitórias, cinco empates e uma derrota.

Por isso, João Carlos Teixeira coloca o favoritismo do lado encarnado.

«Acredito que o Benfica vai ganhar. Além de jogar em casa, o Feyenoord perdeu o treinador e alguns jogadores. Já não está o Feyenoord do Arne Slot, até pelos resultados que têm vindo a ter. O Benfica teve uma mudança, os resultados têm melhorado e tem uma grande equipa e grandes jogadores. Tem tudo para vencer», conclui.