![Exigente, competitivo e “absolutamente incorruptível”: o perfil de Pedro Proença, líder do futebol português nos próximos quatro anos](https://homepagept.web.sapo.io/assets/img/blank.png)
Antes de, naquele impressionante ano de 2012, em que apitou final da Champions, final do Euro e foi considerado o melhor do mundo, muito antes de colocar o pé no dirigismo e liderar a Liga Portugal por 10 anos e muito, mas muito antes de se tornar presidente da Federação Portuguesa de Futebol, sucedendo a Fernando Gomes, Pedro Proença foi um jovem árbitro a quem as primeiras vezes não correram particularmente bem.
Depois de jogar andebol no Sporting e no Benfica (chegou a partilhar pavilhões com Carlos Resende), a entrada na universidade, no curso de gestão, tornou impossível o balanço com a prática desportiva. Surge aí a arbitragem, aos 18 anos, mais fácil de conciliar no atribulado horário de Proença. “No início foi uma brincadeira, como um miúdo que vai jogar no distrital. Depois, tornou-se sério”, confessou ao Expresso em 2015.
Os pais preferiam que o rapaz se dedicasse aos estudos, acreditavam que seria apenas um passatempo. Não seria. O primeiro jogo, em 1988, foi um Damaiense-Picheleira, mesmo às portas de Lisboa, onde nasceu há 54 anos. Com o nervosismo da estreia, nem dormiu. “Eu era fiscal de linha - era assim que se chamava ao árbitro assistente. Cheguei ao jogo e a minha primeira ação foi um erro crasso: a partir de um lançamento lateral, assinalei um fora de jogo”, revelou ao nosso jornal.
A estreia na I Liga aconteceu em setembro de 2000. Um Desportivo das Aves - Campomaiorense. Fez “uma péssima exibição”, assume o próprio. O jogo foi durinho, o cartão amarelo saiu-lhe ligeiro do bolso. Expulsou “dois ou três” dirigentes. “Estive muito nervoso, tive uma péssima nota do observador, deixei duas agressões por punir”. Saiu do estádio duas horas depois do apito final, sob escolta.
Contas feitas, isto não é como se começa, é como se reage aos escolhos que vão aparecendo. Diz quem o conheceu nesse percurso até à elite que se preparou bem, obcecado em saber as leis do jogo na ponta da língua. Respeitado pelos jogadores, com quem sempre procurou ter uma postura pedagógica, diz que foi de alguns deles que recebeu as primeiras mensagens de parabéns a cada feito pessoal. Assumiu-se benfiquista estando ainda em atividade, algo pouco comum, corajoso até. Poucos meses depois de estar no Mundial de 2014, foi considerado o árbitro do século pela FPF. Em janeiro de 2015, pousou o apito. Fê-lo não por limitação de idade, mas porque já tinha vivido um pouco de tudo, nomeadamente impressionantes 37 jogos na Liga dos Campeões.
Queria, disse então, dedicar-se à atividade enquanto gestor e professor em universidades. Enquanto corria o país de apito na mão, foi mantendo a atividade profissional. Começou a trabalhar como auditor, tornou-se administrador de insolvências em tribunais de várias comarcas, depois sócio, gerente, diretor e proprietários de diversas empresas.
Mas a necessidade de estar perto do futebol falou mais alto.
A profissionalização da Liga
Sete meses depois do adeus aos relvados, anunciou que seria candidato à presidência da Liga. Venceu o incumbente, Luís Duque, por nove votos. A instituição vivia, na altura, uma profunda crise, com anos de prejuízos fortes e uma situação de pré-falência técnica. Em dois mandatos e meio, Proença modernizou a Liga, profissionalizou-a, mudou-lhe a cara, e estabilizou-a financeiramente. A Liga, que é hoje um ecossistema empresarial, tem uma previsão de resultados financeiros para esta época de 1,13 milhões de euros.
Quem com ele trabalhou no organismo, diz que é obstinado, exigente, metódico, profissional. E que está sempre ligado. Em 2015, ao Expresso, assumiu-se “absolutamente incorruptível”, de esquerda e muito competitivo: “Não gosto de perder nem à carica”.
A sua passagem pela Liga tornou-se consensual. Em 2019 foi reeleito com 95,8% dos votos e quatro anos depois também sem oposição, tornando-se no primeiro presidente da Liga eleito para três mandatos consecutivos. Em 2023, dias depois de ser eleito para o terceiro mandato, viveu o momento mais difícil à frente da Liga, quando o presidente da Mesa da Assembleia Geral, Mário Costa, se tornou nome central de uma investigação por tráfico de seres humanos, enquanto diretor de uma academia de jovens jogadores.
A demissão chegou a estar em cima da mesa, numa altura em que Mário Costa resistia a afastar-se. “Caso não tivesse ocorrido a renúncia ao cargo por parte do Presidente da Mesa da Assembleia Geral, estávamos, eu e os presidentes do Conselho Jurisdicional e do Conselho Fiscal, preparados e alinhados para renunciarmos aos cargos”, escreveu numa mensagem pública. “Foi, sem sombra de dúvida, um momento completo, complicado”, assumiu ao nosso jornal no final de 2023.
Pelo meio, Proença colocou o futebol português na cúpula europeia. No último ano, tornou-se presidente da European Leagues, a associação que junta as ligas europeias, e por inerência, assumiu o lugar no Comité Executivo da UEFA. Com Fernando Gomes de saída da FPF, as portas da instituição abriram-se à ambição de Pedro Proença, que ainda assim demorou a assumir uma candidatura que há meses e meses era vista como inevitável. Alguns dos grandes desafios do primeiro mandato passam por preparar desde já o Mundial de 2030, a candidatura de Portugal ao Europeu feminino de 2029 e a centralização dos direitos audiovisuais.
As 433 medidas
Valentim Loureiro e António Simões, que o apoiaram, dizem que Proença pode ir ainda mais longe. “Acredito que ele vai ser presidente da FIFA”, atirou o Major durante a inauguração da nova sede da Liga, no Porto, obra que Proença também deixa. Já a antiga glória do Benfica não tem dúvidas que Proença tem “não só as condições técnicas e profissionais, mas também humanas para poder chegar ao topo do futebol mundial”.
Mas primeiro, a Federação Portuguesa de Futebol. Num longo programa com 433 medidas, a candidatura Unir o Futebol assume a vontade de criar uma “nova era de governação, verdadeiramente inclusiva” e a implementação de um Plano Nacional de Arbitragem, com o objetivo, entre outros, de triplicar o número de árbitros em 12 anos. Pedro Proença promete ainda “reformar a Disciplina e a Justiça, tornando-a mais célere e eficaz” e uma “mais e maior justa distribuição dos recursos” entre toda a “comunidade do futebol”.
A tomada de posse acontece já na próxima terça-feira, 18 de fevereiro, na Cidade do Futebol.