O FC Porto entrou num abismo. Desde as 12 badaladas que marcaram o arranque de 2025 que a equipa só sabe perder (já são quatro consecutivas) e a derrota desta quinta-feira frente ao Olympiacos, na Liga Europa, não foi em nada diferente das anteriores: uma equipa sem ideias, sem ligação, mentalmente incapaz de se levantar perante uma qualquer adversidade. Vítor Bruno já saiu, Martín Anselmi estará para chegar e o argentino terá, como primeiro labor, recuperar emocionalmente uma equipa que vive, neste momento, num enorme vazio existencial.
E se no campeonato os quatro pontos de desvantagem serão recuperáveis, a Liga Europa começa a fugir por entre os dedos de uma equipa que começou a competição como uma das favoritas ao troféu. Os parcos 8 pontos não são uma sentença, mas o FC Porto terá certamente de pontuar na última jornada, daqui a uma semana, frente ao Maccabi Tel Aviv. Talvez já com Anselmi no banco, mas com muitos problemas para resolver até lá.
Há pouco para retirar de um jogo que teve tanto sumo quanto uma laranja fora de época. No FC Porto, Pepê foi titular, uma primeira surpresa e um primeiro sinal de perdição porque há erros que não devem ser premiados. E o brasileiro fez um jogo ao nível do que tem vindo a apresentar: um imenso nada. Só aqui, o FC Porto perdeu logo duas vezes. Na 1.ª parte, valha a verdade, a equipa esta noite dirigida por José Tavares entrou com vontade de ter bola, com Mora, Nico e Alan Varela em razoável bom plano a tentar encontrar fio de jogo no corredor central. Nos flancos, Galeno e João Mário acumularam erros e más decisões. Samu, a baixar várias vezes para dar apoio, só desajudou.
Ainda antes da meia-hora, já o Olympiacos havia equilibrado e o jogo passou a ser uma sucessão de momentos, com a iniciativa a passar de mão em mão, ainda que ninguém soubesse muito bem o que fazer com ela.
Foi preciso chegar quase ao intervalo para se sentir um pequeno frisson numa das áreas, na dos gregos neste caso, num lance confuso com a bola no ar à mercê da cabeça de vários jogadores, mas nenhum deles acertou o timing do salto.
Os 45 minutos seguintes não trouxeram um incremento significativo na qualidade de jogo, que continuou baixa, baixinha, incompreensível de parte a parte, já que as duas equipas entraram em campo a precisar de pontos. Com o Olympiacos organizado atrás (bom jogo de David Carmo, já agora), sucederam-se as iniciativas individuais entre os jogadores do FC Porto, todas elas inconsequentes. Aos 60’, nem um erro garrafal do guarda-redes Tzolakis ajudou a fazer vir ao de cima uma qualquer luz de criatividade, um instinto de perseguir o sangue. O FC Porto foi sempre uma equipa zombie em campo, mais morta que viva, à espera de uma qualquer salvação que, face ao perfil do homem escolhido para a tarefa, talvez demore.
Uma arrancada de ponta a outra de Tiago Djaló aos 67’ seria do mais excitante que as bancadas veriam, ainda que o lance tivesse tido o destino de tantos outros: um mau passe final, uma bola travada sem dificuldade.
A 20 minutos do fim, o Olympiacos via a oportunidade de crescer, sem particular oposição. David Carmo quase se tornou protagonista ao teleguiar um passe para El Kaabi, que no drible pré-remate deixou-se desarmar por Nehuen Pérez, mas o golo viria pouco tempo depois: aos 79’, Zé Pedro atrapalhou-se, Nehuen surgiu para atrapalhar ainda mais e Mouzakitis aproveitou para cruzar para El Kaabi, que desta vez, de primeira, não falhou.
A reação foi a mesma de tantos outros jogos do FC Porto em 2025: tímida, sem crença. Já pertos dos descontos, Fábio Vieira quase empatava, com Tzolakis a salvar com defesa de recurso, um remate que pareceu surpreender toda a gente, até os próprios jogadores do FC Porto, que pareciam já bem conformados com a derrota. Yaremchuk, ex-Benfica, ainda colocaria a bola dentro da baliza de Diogo Costa, depois de um passe costa a costa do seu guarda-redes (o que diz muito do posicionamento da defesa do FC Porto), mas estava ligeiramente adiantado.
A derrota pela margem mínima e não por dois golos não deixa de ser igualmente brutal para uma equipa descaracterizada, sem fio, sem alma, o que quer que lhe queiram chamar. Quatro derrotas seguidas é coisa pouco vista na história do FC Porto. O abanão tem de ser para ontem.