«Estrela Vermelha-Benfica? Temos de tentar falar com o Zoran Filipovic»

A forma imediata com que o nome do antigo internacional jugoslavo surgiu na nossa redação aquando do sorteio da Liga dos Campeões é demonstrativa do impacto que o mesmo teve em Portugal- passou duas épocas e meia no Benfica e três épocas e meia no Boavista. A chamada foi atendida com um sorriso igual àquele que os adeptos soltavam sempre que o goleador fazia balançar as redes adversárias.

Zerozero: Quão especial é este Estrela Vermelha-Benfica para si, Zoran?

Zoran Filipovic: Surgiu um sentimento estranho por perceber que vou ter o Benfica em Belgrado. O Estrela Vermelha é o clube onde nasci e cresci como jogador, mas o Benfica é o meu outro clube de coração. No entanto, foi com alegria que vi o sorteio. Vou ver o jogo e antes terei um convívio com os meus amigos do Benfica, com o Rui Costa e a direção. Quando vou a Portugal vou sempre ao estádio e mantenho boa relação com muita gente no clube.

zz: Como foi crescer num clube com a dimensão do Estrela Vermelha?

ZF: Comecei a treinar no Estrela Vermelha com 15 anos e com 17 estava na primeira equipa, algo bastante complicado na altura. Tive a sorte de entrar numa geração de jogadores muito bons e assinei contrato com 18 anos- com 17 não podia e tive de esperar. Lembro-me que assinei contrato para dez anos! Fiz perto de 500 jogos pelo clube e continuo a ser o melhor marcador do clube em jogos internacionais, é um privilégio ter estes registos.

Zoran Filipovic
Benfica
Total
84 Jogos 6200 Minutos
41 4 1 0 2x
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zz: Como descreve o ambiente que o Benfica vai encontrar na Sérvia?

ZF: É um ambiente que não se encontra em nenhum outro sítio da Europa, os adeptos do Estrela Vermelha são incríveis. O estádio vai estar cheio, ainda para mais sendo o primeiro jogo desta edição da Liga dos Campeões, e não vai ser fácil para nenhum clube. O túnel tem quase 100 metros e é estranho para os visitantes, mas acredito que todos os jogadores do Benfica vão dar o máximo para ultrapassar esta adversidade. Em termos de qualidade individual, o Benfica é mais forte.

zz: Recuando agora alguns anos, como surgiu a possibilidade de reforçar o Benfica em 1981/82?

ZF: A possibilidade de vir para o Benfica surgiu através de um empresário, que sabia que o Benfica estava à procura de um ponta de lança. O Lajos Baróti, treinador do Benfica na altura, lembrou-se de mim porque dez anos antes eu tinha-lhe marcado dois golos ao serviço do Estrela Vermelha. Foi com muita alegria que me mudei para o Benfica, mas na altura já tinha 28 anos. Na altura era mais complicado jogar fora da Jugoslávia.

zz: Como foi a adaptação a Portugal?

ZF: Já sabia que o Benfica era um clube grande, até porque há uma curiosidade interessante. O Benfica foi o clube convidado pelo Estrela Vermelha para a inauguração do sistema de iluminação do estádio. Vieram jogadores como o Eusébio, o Toni, o Humberto Coelho, o Nené... Nessa altura tinha 17/18 anos, mas lembro-me bem desse jogo, perdemos 3-2. Só tenho pena de ter chegado com 28 anos ao Benfica, se tivesse chegado mais cedo podia ter ficado mais tempo no clube. Lisboa era um excelente cidade, o clima e a as pessoas também era espetaculares. Para além disso, quando jogas no Benfica é fácil as pessoas gostarem dos jogadores. Fiquei com excelentes amizades desse tempo, foi um excelente tempo para mim e para a minha família.

«Quando cheguei ainda havia campos pelados»

zz: Ainda assim, acreditamos que as diferenças entre Lisboa e Belgrado eram muitas...

ZF: Em termos de infraestruturas, a antiga Jugoslávia era muito melhor do que Portugal. Nunca me esqueço que no primeiro ano havia dois/três campos pelados e que fiquei muito surpreendido com isso. No entanto, Portugal cresceu muito em termos de infraestruturas e de qualidade de jogo.

Antigo avançado enveredou depois pela carreira de treinador @SL Benfica

zz: Com que jogadores tinha melhor relação no Benfica?

ZF: Tinha boa relação com todos os jogadores. Era um plantel jovem e convivíamos muito com as famílias de cada um. Carlos Manuel, Frederico, Chalana... Aliás, até fui padrinho de casamento no primeiro casamento do Chalana! Havia depois jogadores mais velhos como o Pietra e o Humberto Coelho. O plantel era composto maioritariamente por portugueses e havia esse sentimento de união. Depois receberam-me muito bem.

zz: No Benfica cruzou-se também com Sven-Goran Eriksson...

ZF: No meu segundo ano entrou o Eriksson como treinador e ganhámos muita coisa: dois campeonato, uma Taça de Portugal, fomos à final da Taça UEFA... Foi maravilhoso. Aliás, estive presente na homenagem que fizeram ao Eriksson no Estádio da Luz e foi um momento muito bonito. Pedia disciplina, mas tinha muito respeito pelos jogadores e pelos jornalistas.

zz: Para terminar, quer arriscar algum prognóstico para o jogo?

ZF: Que ganhe o melhor! Não consigo fazer uma previsão, estou muito ligado a um e a outro clube.