As redes sociais têm manias passageiras. O algoritmo satisfaz-se com tendências que difunde batendo a todas as portas da aldeia global. Não foi assim há tanto tempo que o meme mais em voga era um cão endireitado em duas patas, calçadas por sapatilhas, e vestido com camisola e calças. Tratava-se de uma figura impávida, ladeada por despreocupação e com as mãos (?) nos bolsos. Os serviços de notariado da internet batizaram-no como chill guy [rapaz tranquilo].

Sempre que marca ao serviço do Bournemouth, Dean Huijsen mimetiza a imagem. Abre as pernas à largura dos ombros e improvisa bolsos de que os calções não dispõem. A celebração já foi repetida algumas vezes pelo central que se assume como uma das revelações da Premier League e da equipa treinada pelo basco Andoni Iraola.

Luis de la Fuente chamou-o pela primeira vez para a seleção principal de Espanha. Inicialmente, o defesa de 19 anos não estava nos planos, mas a indisponibilidade física de Iñigo Martínez fez o técnico retocar a convocatória. É uma das novidades que os campeões da Europa vão apresentar no setor recuado. A outra é Raúl Asencio, jogador do Real Madrid que está a ser investigado devido à alegada prática do crime de pornografia infantil.

Dean Huijsen vestiu a camisola de La Roja pela primeira vez nos sub-21. Até lá, representou os Países Baixos. Nascido em Amesterdão, mudou-se para Málaga aos cinco anos e por lá passou toda a juventude. Após ter obtido nacionalidade espanhola, sempre lhe fez mais sentido representar o país onde cresceu e fez a maioria dos amigos. Ironicamente, pode somar a primeira internacionalização A por Espanha nos quartos de final da Liga das Nações, contra a seleção neerlandesa.

Robin Jones - AFC Bournemouth

Trata-se de “um central que vai marcar a próxima década do futebol internacional”. Assim o avaliou Rui Malheiro, analista da Tribuna Expresso, no podcast “No Princípio Era a Bola”. Dean Huijsen é “muito competente do ponto de vista defensivo”, tem “bom sentido posicional”, é “forte nos duelos” e tem um “bom jogo aéreo”. No entanto, destaca-se sobretudo pela “capacidade de construção de jogo, que é absurda”, tarefa facilitada por se tratar de “um jogador ambidestro”.

São garantias às quais o Real Madrid parece estar atento. Para Dean Huijsen, confessou à agência EFE, “é um orgulho” atrair o interesse de “uma equipa tão grande”. “É algo especial e significa que estás a fazer as coisas bem.” Não é a primeira vez que os merengues almejam o jogador que com 15 anos já treinava com a equipa principal do Málaga e com 16 assinou pela Juventus. Numa altura em que o Real Madrid já o desejava, decidiu ir para Itália e tentar “melhorar defensivamente” no local de afamada produção de defesas centrais.

Pode jogar com os dois pés, mas também sabe falar quatro línguas. Com os progenitores, ambos nascidos nos Países Baixos, comunica em neerlandês. E decorria uma conversa com eles, à mesa de jantar e na noite de Natal, quando o telefone tocou. Do outro lado estava José Mourinho a dizer-lhe maravilhas e a convencê-lo a ir para a AS Roma. Apenas com um jogo na equipa principal da Juventus, foi emprestado aos giallorossi antes de se mudar para Inglaterra. Publicamente, o treinador português descreveu-o como “um dos projetos de mais qualidade no futebol europeu”, apontando-o como um “grandíssimo jogador no futuro”.

Dean Huijsen tem Sergio Ramos como referência e vai engrossar o lote de centrais com dupla-nacionalidade na seleção ou não tivesse sido com a parceria Robin Le Normand/Aymeric Laporte (ambos nascidos em França) que Espanha venceu o último Europeu. Está condenado, embora seja muito novo, a não ser o mais jovem. A culpa é de Lamine Yamal (17 anos) e Pau Cubarsí (18 anos). Eis o ritmo suave da renovação.