Roger Federer estava a falar. Estava sempre a falar, como um tio a gozar a reforma enquanto comenta a vida alheia. Carlos Alcaraz, nas bancadas ao lado do mestre suíço, tinha uma postura diferente, mais concentrado no que via no court, mas também leve e sorridente. Juan Carlos Ferrero era um professor explicando o que se passava lá em baixo.

Alheio a tudo isto, indiferente à vida, Jannik Sinner jogava ténis como Jannik Sinner parece viver, um modelo de inteligência artificial otimizado para esconder emoções, bater bolas pré-programadas, não cometer erros. Do lado oposto, Novak Djokovic, talvez possuído pela nostalgia de ver Roger nas bancadas na semana em que Rafa se retirou, era uma figura algo triste.

O melhor Djokovic aparece quando consegue sugar a alegria dos adversários, roubar-lhe a esperança, um Dementor no court. Mas, na China, Foi Sinner a assumir esse papel.

Na final do Masters 1000 de Shanghai, o italiano duplicou a sua própria aposta, foi tudo o que lhe conhecemos — frio, indiferente ao contexto, regular, sereno — vezes dois. Dessa forma, derrotou a lenda do outro lado por 7-6 (4) e 6-3, ao longo de uma hora e 39 minutos.

ALEX PLAVEVSKI

Nenhum jogo de serviço de Sinner foi, sequer, discutido nas vantagens. Djokovic nunca arranhou o saque do italiano, que fechou a exibição com um ás.

O primeiro set ainda foi ao tie-break, após minutos de regularidade de parte a parte. Mas, no desempate, começaram a ser evidentes os sinais de frustração do sérvio, com erros de movimentação e execução, como se o gelo que estava do outro lado o frustrasse, lhe tirasse o discernimento.

Sem soluções para contrariar a superioridade transalpina, Djokovic transportou a versão pouco sólida do tie-break para a segunda partida. Era, então, um Novak algo resignado, sem rebeldia, quase aceitando a derrota como desfecho natural.

Aos 23 anos, Sinner chega ao 17.º título da carreira. Foi o sétimo em 2024, temporada de alto nível, com dois torneios do Grand Slam — Austrália e US Open — e três Masters 1000, com Shanghai a juntar-se a Miami e Cincinnati.

Djokovic vê, por sua parte, adiada a hipótese de chegar aos 100 títulos na carreira. Para Sinner, que já confirmou que terminará o ano como líder do ranking ATP, foi uma noite de vitória à Sinner. Ah, e durante tudo isto, Roger Federer lá continuava a falar nas bancadas.