Revelações, críticas e muitos ralhetes, principalmente a Rui Costa. Em entrevista à CMTV, Luís Filipe Vieira atirou farpas durante mais de duas horas, atirou-se ao homem que trabalhou para ser o seu sucessor, pedindo mesmo desculpa aos sócios por o ter feito, mas negou estar disponível para voltar a candidatar-se às eleições do Benfica, em 2025. Mas tem preferidos para o senhor que se segue.
O clube, sublinhou, “está em crise desportiva e financeira, principalmente desde a saída de Domingos Soares de Oliveira”, antigo administrador para a área financeira, agora na Arábia Saudita, e recente pré-temporada foi “mal planeada”, aponta.
“Sabia que o Rui [Costa] tinha fragilidades na gestão e por isso disse-lhe que ele não podia mexer nos quadros do Benfica. Ele mexeu e tem aí as consequências”, atirou o antigo presidente das águias, que se diz surpreendido “de forma negativa” com a gestão desportiva de Rui Costa: “Talvez a muleta do Vieira faça falta”.
Ainda nos primeiros momentos da entrevista, Luís Filipe Vieira chegou mesmo a pedir desculpas aos associados do Benfica “por ter indicado” Rui Costa como seu sucessor. “Hoje já toda a gente viu: o Rui Costa não é líder”, frisou, acusando o atual presidente dos encarnados de não lhe ter dado “nem uma palavra de solidariedade” quando Vieira deixou o clube, após ser detido em julho de 2021, algo que o marcou “profundamente”.
“Até era proibido falar no meu nome no Benfica”, garante Vieira, que diz ter as portas fechadas no Estádio da Luz e que as suas palavras não são “para atacar” Rui Costa, mas sim “para o presidente do Benfica crescer”. Mais um ralhete.
Os pecados de Rui Costa
A forma como Rui Costa se relaciona dentro do Benfica parece incomodar Luís Filipe Vieira e este não se reprimiu na hora de o dizer. “Tem de mudar de posição no Benfica, não pode permitir que as pessoas o tratem por Rui. Eu nunca permiti que me tratassem por tu”, continuou o empresário, que apontou de “gravíssima” a maneira como o presidente do Benfica comunica com Rui Pedro Braz, a quem também deixou vários reparos, mesmo que tenha sido pela sua mão que este chegou ao Benfica.
“Nunca falei com um diretor-desportivo e perguntei: ‘Oh mano, como estão os negócios?’ Mas aquilo é alguma creche? Se estivesse no Benfica, o Rui Pedro Braz não tinha a liberdade que tem, nem se passeava nos aviões nem nos aeroportos com jogadores de um lado para o outro”, queixou-se. Rui Costa, diz, “dificilmente aguenta a pressão”, porque “não tem a pedalada” que Vieira diz que tinha e ainda tem. “Para dar e para vender”, reforçou.
Na CMTV, Luís Filipe Vieira apontou a continuidade de Roger Schmidt para lá da segunda época como um dos pecados da gestão de Rui Costa e que tinha despedido o alemão “na hora” quando este criticou os adeptos do clube: “Foi tão baixo, tão baixo, tão baixo. Nenhum treinador, enquanto estive no Benfica, fez isto à massa associativa”. Bruno Lage, sublinha, não foi “a primeira escolha” para treinar o Benfica depois da saída de Schmidt, com Vieira a garantir que, no seu tempo, nunca impôs um treinador ao clube. “Se tivesse imposto, se calhar o Rúben Amorim era hoje treinador do Benfica”, arrogou-se.
Críticas também à venda de João Neves, que “não queria sair do Benfica”, garante Vieira. “Em vez do João Neves, mais valia ter vendido três ou quatro monos que estão para lá”. Os elogios ficaram reservados a Sérgio Conceição, “um grande treinador, um treinador ganhador”, mesmo com o seu génio: “Se o presidente do Benfica se impusesse, ele não tinha aquele temperamento”.
Vieira não aponta a 2025. Para já
Era a pergunta inevitável: será Luís Filipe Vieira de novo candidato às eleições do Benfica? A resposta demorou a chegar. Com mais rodeios aqui, menos ali, o antigo líder encarnados começou por dizer que é “indecente se alguém neste momento andar a preparar eleições”. Rui Costa, frisou, apesar das profundas discordâncias, “foi legitimado pelos sócios para ir até 2025”.
Nessa altura, a luta não será com Vieira. Pelo menos para já. “Não vou avançar. Neste momento, a minha prioridade é a família”, começou por dizer, emocionado, para mais tarde avisar que “a palavra nunca não se deve dizer”.
“Tive um linchamento popular, fui julgado. Muita gente do Benfica foi ingrata para mim, fui traído por pessoas do Benfica”, apontou ainda como razões para não acalentar, para já, um regresso à presidência. As críticas maiores e mais diretas foram para Nuno Costa, que chegou ao Benfica ainda na presidência de Vieira, a pedido de um seu “grande amigo”, neste caso João Gabriel, e que se manteve na equipa de Rui Costa, de quem é braço direito.
Já Eduardo Stock da Cunha, antigo presidente do Novo Banco, e que é um dos três novos nomes recentemente chamados por Rui Costa para a SAD encarnada, é visto por Vieira como um excelente futuro candidato à presidência do Benfica: “Seria um descanso para os benfiquistas se fosse candidato, todos iam bater palmas”. Vieira disse ainda que “dois presidentes de duas grandes empresas portuguesas” já o contactaram para pedirem conselhos sobre uma possível candidatura em 2025.
Caso se candidatasse, Vieira garante não ter dúvidas que os sócios voltariam a confiar em si, fosse ou não contra Rui Costa. Acredita que o seu legado permanece. “Acho que ganhava, sem dúvidas nenhuma. Quem é que tem os títulos que eu tenho? Quem é que recuperou isto tudo? Quem é que profissionalizou o clube?”.
Para terminar, defendeu a continuidade do voto eletrónico no Benffica e sobre os processos judiciais em que é arguido Vieira diz também ter “a certeza” que vai ser ilibado em todos eles, sublinhando que a justiça não o impediu de continuar “como presidente do Benfica”, ele próprio é que pediu a suspensão do mandato.