A Fórmula 1 vinha de um Grande Prémio em Austin em que os limites de pista e as regras nas corridas foram muito discutidos. No México, a história não foi muito diferente, com mais uma luta entre Max Verstappen e Lando Norris – mas não só – a reabrir esse debate.

Já depois de momentos discutíveis na Áustria e nos Estados Unidos, desta vez Verstappen levou as coisas a outro nível, deixando bem claro que estava disposto a impedir, fosse por que meio fosse, que Norris o ultrapassasse. Foi penalizado duas vezes no último domingo (bem penalizado em ambas as ocasiões, na minha opinião), e, embora o incidente da curva 4 possa ser mais discutível, o da curva 7 mostrou bem as intenções do campeão do mundo.

Ninguém consegue mergulhar assim numa curva que não tem uma zona de travagem significativa à espera de conseguir manter o carro em pista. Com esta manobra, particularmente esta da curva 7, Max mostrou que prefere claramente ter posição em pista, mesmo que seja por meios irregulares, do que aceitar ser ultrapassado por um carro mais rápido, preferindo também esperar pela decisão dos comissários. Já vimos esta faceta do neerlandês em 2021, na sua luta pelo título com Lewis Hamilton, e agora voltamos a uma posição semelhante.

É muito utilizado o argumento de que antigos campeões do mundo recorreram a este tipo de meios para ganhar, mas contam-se provavelmente pelos dedos de uma mão antigos campeões que levavam a sua pilotagem a este extremo. E o problema é que estamos a ver pilotos com esta mentalidade e incidentes deste género com muito mais frequência, não só na frente da grelha.

Para além de Norris e Verstappen, Sergio Pérez teve momentos com Liam Lawson e Lance Stroll em voltas consecutivas, enquanto Lawson teve outra luta com Franco Colapinto mais tarde. Todos esses incidentes tiveram um piloto a empurrar outro para fora de pista imediatamente, com alguns a atalharem pela chicane, enquanto Lawson e Colapinto acabaram por bater.

As diretrizes da Fórmula 1 estão escritas de uma determinada forma, mas tornaram-se muito mais do que simples diretrizes e estão a ser interpretadas como as verdadeiras regras. Quem chega primeiro ao apex da curva, tem o suposto ‘direito’ à curva, mas esta corrida ao apex não é o que queremos ver, na minha opinião. Mas é o que os pilotos têm feito, entrando com excesso de velocidade na curva só para garantir que chegam primeiro ao vértice, empurrando o adversário para fora de pista para garantir que a posição é ganha ou mantida.

Pessoalmente, prefiro ver lutas como a que tivemos entre os Mercedes no México. Obviamente que são colegas de equipa e a Mercedes dificilmente permitiria grandes excessos, mas havia certamente vontade dos pilotos de terminarem à frente. Contudo, felizmente não tivemos uma luta que acabou numa curva com um piloto a queixar-se pela rádio que tinha sido empurrado para fora. George Russell defendeu o interior o mais que podia, enquanto Hamilton procurava passar por fora ou a famosa tesoura à saída de uma curva.

Outros exemplos de lutas boas e justas que vimos ao longo da época foi o duelo entre Oscar Piastri e Charles Leclerc em Baku e a própria luta entre Verstappen e Norris em Austin, antes de Norris tentar passar por fora, com Verstappen a defender-se extremamente bem, protegendo sempre a linha interior enquanto Norris procurava formas de passar. No México, Russell nunca facilitou, mas defendeu sempre de forma justa, até que Hamilton conseguiu passar com uma manobra limpa, que não deixou dúvidas a ninguém.

Tudo isto para dizer que acho que devia ser dado mais espaço nas lutas, com o respeito nas batalhas a parecer estar a desaparecer. Hoje em dia, também há cada vez mais escapatórias de asfalto, o que também ajuda a que haja este tipo de infrações. Mas o essencial é que, quando dois pilotos chegam praticamente lado a lado a uma curva, devia ser dado espaço dos dois lados e não obrigar os comissários a parar o frame para ver quem estava marginalmente à frente no apex, seja lá onde ele for.

Também não acredito que algo mude de repente e estou à espera de ver mais do mesmo nos próximos Grandes Prémios. Mas, a longo prazo, gostava mesmo que as guidelines dos stewards fossem usadas apenas como diretrizes (reescrevê-las também não seria mau), mas o principal é que os pilotos se respeitem na pista.