A Medicina Desportiva, especialidade médica reconhecida pela Ordem dos Médicos desde 1980, viu a sua designação ser alterada no final de 2024. O acrescento do termo “exercício” é um passo decisivo para que a comunidade interiorize que esta especialidade, tradicionalmente associada aos cuidados médicos de atletas profissionais e de elite, está igualmente vocacionada para manter ativos os praticantes de exercício recreativo e doentes crónicos.
As definições clássicas de Atividade Física (qualquer movimento produzido pelo corpo que resulte num dispêndio de energia acima dos valores de repouso), Exercício (atividade física planeada, estruturada, repetida e individualizada, realizada com intuito de manter ou melhorar a condição física ou obter ganhos de saúde) e Desporto (conjunto de movimentos e técnicas desenvolvidos e apresentados num enquadramento competitivo, com regulamentação própria) ajudam a explicar o motivo pelo qual a Medicina Desportiva foi, tradicionalmente, associada ao cuidado de atletas federados, profissionais e de alto rendimento. A nova designação – Medicina Desportiva e do Exercício (MDE) - contribuirá para que melhor se compreenda a abrangência desta especialidade médica, com uma população-alvo que inclui todo e qualquer cidadão que pratica (ou pretende iniciar a prática de) atividade física ou exercício, independentemente do nível competitivo, idade e comorbilidades.
Vários estudos mostram que a prática regular de exercício físico pode ter um impacto significativo na prevenção e tratamento de algumas das doenças crónicas mais prevalentes. De acordo com a American Heart Association, a sua prática regular pode reduzir em até 30% o risco de doenças cardiovasculares. A Diabetes UK sublinha que esta demonstrou melhorar o controlo glicémico em doentes com diabetes tipo 2, diminuindo a necessidade de medicação em até 20%. Investigadores mostraram ainda que exercitar-se regularmente pode reduzir em 20% o risco de depressão, promovendo a liberação de endorfinas responsáveis pelo bem-estar. Além disso, exercícios como a caminhada e a corrida podem ajudar na redução da gordura corporal, contribuindo para uma perda de peso de até 5-10% em indivíduos obesos.
É hoje consensual que o exercício físico é uma arma terapêutica crucial no combate às doenças crónicas não transmissíveis. É por isso inevitável que, nos próximos anos, o nosso sistema de saúde se foque mais na prevenção das doenças crónicas, com uma aposta forte no aumento dos níveis de atividade física e exercício da população. A MDE é a especialidade que, atendendo ao seu corpo de conhecimento, está mais bem posicionada para prescrever exercício físico ao cidadão (doente ou não) que dele pode beneficiar. Por outro lado, a MDE é também a especialidade médica que está mais capacitada para a prevenção, diagnóstico e tratamento das lesões e doenças associadas à prática de exercício físico.
À semelhança do que já se verifica nos países da Commonwealth, Suíça e Países Baixos, Medicina Desportiva e do Exercício é agora o nome da nossa especialidade. Que esta mudança seja um catalisador da afirmação e consolidação da especialidade no panorama da saúde em Portugal. Os doentes e os praticantes de atividade física e exercício merecem que assim seja!