São tão ricas de gás natural as terras por onde se ergueu o Azerbaijão que em algumas delas as chamas queimam infinitamente à superfície, para quem quiser sentir o poder dos seus subsolos. Mas as outras nações também têm direito à sua chama. E, para a Terra do Fogo, a seleção nacional levou na bagagem também muito poder atacante, para deixar desde já quase escancarada a porta para o segundo playoff de apuramento para o Euro 2025, naquela que poderá ser a terceira participação consecutiva de Portugal na prova.

Acontece que o poder de fogo tem de ser dirigido. A vitória por 4-1 frente ao Azerbaijão na 1.ª mão, em Baku, diz-nos que a equipa de Francisco Neto marcou quatro vezes, o que não é de menorizar. Mas, paradoxalmente, parece saber a pouco, tal a superioridade portuguesa no encontro, principalmente na 1.ª parte. Depois do intervalo, mesmo com um jogo menos conseguido de Portugal, as oportunidades não aproveitadas continuaram a surgiram em catadupa e o golo azeri foi como não um balde, claro está, mas um copo de água fria desnecessário por cima do fogo português.

Ainda assim, mesmo com esse golo indesejado e que não fica bem naquele resultado, olhando para o que a seleção do Azerbaijão mostrou em casa só uma pequena desgraça afastará Portugal do seu objetivo. Na terça-feira, em Vizela, a seleção nacional só terá de confirmar que o sonho do Euro mantém-se bem vivo.

Tribuna

Frente a uma equipa que entrou a defender com duas linhas claras, Portugal sempre teve muito espaço para definir o seu ataque por entre as lacunas que o processo rival cedo revelou. O primeiro golo português chegou logo aos 5 minutos, com Ana Capeta a encher o pé para a recarga depois de um primeiro cruzamento de Tatiana Pinto ter batido inesperadamente na barra. A guarda-redes azeri não leu bem o lance, mas o pé de Capeta sim.

Cedo se percebeu que o Azerbaijão, por mais vontade, teria sempre muitas dificuldades em construir um ataque com cabeça, tronco e membros, mesmo que Francisco Neto tenha avisado que a equipa do Cáucaso gosta de ter bola - e talvez por isso a pressão portuguesa tenha sido quase sempre impiedosa.

Portugal ia atacando com mais intenção pela esquerda, mas o segundo golo até surgiu após jogada pela direita, depois de boa combinação entre Kika e Capeta, com a jogadora do Sporting a cruzar atrasado para a entrada da média pela área, um movimento que se repetiu e repetiu ao longo do jogo, tal era a dificuldade da equipa do Azerbaijão em controlar a sua zona frontal. Um remate rasteiro e colocado, sem grande força, deixou o resultado em 2-0 e a ideia de que uma goleada poderia estar a caminho, até porque dois minutos depois Kika teve nova oportunidade flagrante.

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As jogadoras portuguesas apareciam facilmente em posição de tiro e o espaço era tanto que por vezes até se deslumbravam, deixando fugir por entre os dedos oportunidades claras. Ainda antes da meia-hora, Diana Gomes marcou de cabeça na sequência de um canto e o resultado deixava Portugal mais descansado. Sharifova, a guarda-redes do Azerbaijão, ia salvando o resto.

A seleção nacional voltou do intervalo com a mesma atitude, mas com problemas semelhantes na hora de marcar. Telma Encarnação, apagada na 1.ª parte, apareceu na 2.ª, com um par de oportunidades criadas, outras falhadas e uma bola ao ferro já depois do inesperado golo do Azerbaijão. Aos 58’, Ana Borges falhou a interceção a um lance aéreo, permitindo a superioridade no ataque das adversárias. Inês Pereira ainda defendeu um primeiro remate, mas nada pôde contra a recarga de Nazlican Parlak, extremo de visual de inspiração rapinoeniana.

O tal pequeno copo de água fria abalou a confiança portuguesa. Não que o Azerbaijão tivesse crescido ou assustado, mas o jogo tornou-se mais partido, menos organizado. As alterações de Francisco Neto não alteraram a toada do encontro, mas novo golo de Portugal, já aos 89’, por Diana Silva, após bom lance de Joana Marchão pela esquerda, deu ao resultado um ar mais apropriado ao que se passou em campo.

Podia ter sido um pequeno massacre, terminou com um certo gosto agridoce, mas tudo está encaminhado para Portugal poder começar em breve a pensar na Chéquia ou Bielorrússia. Um deles será o derradeiro adversário para chegar à Suíça no próximo verão.