"Vou àquele jantar de campeões à terça-feira e vão ter de me escorraçar daqui para fora quando tiver 90 anos."

O bom humor de Rory McIlroy condizia com a satisfação do norte-irlandês. "Foi o melhor dia da minha vida no golfe", confessou o jogador de 35 anos, novo campeão do Masters de Augusta. Pouco depois de conquistar o major que lhe faltava, Rors fez logo referência a uma das principais tradições do torneio que se realiza no Augusta National Golf Club, no estado norte-americano da Georgia.

O Masters começou em 1934 e, desde 1952, o jantar de antigos vencedores é um ponto alto do cerimonial. Na noite de terça-feira do torneio que se disputa na primeira semana completa de abril, os ex-campeões juntam-se para uma refeição exclusiva.

Por ter sido o melhor em 2025, McIlroy terá uma tarefa especial para 2026. O norte-irlandês, como detentor do troféu, terá de escolher a ementa do jantar, que depois é cozinhada pelo chefe do Augusta National Golf Club. Não faltam exemplos de golfistas que puxaram pelas respetivas tradições locais: em 1986 o alemão Bernhard Langer escolheu wiener schnitzel, em 1989 o escocês Sandy Lyle fez servir haggis, em 2009 o sul-africano Trevor Immelman optou por bobotie. Em 2011, Phil Mickelson elegeu um jantar com pratos espanhóis, em homenagem a Seve Ballesteros, mas o mítico golfista estava demasiado doente para marcar presença, tendo mesmo falecido pouco depois.

Há ainda o caso de Tiger Woods. Em 1997, o norte-americano tornou-se, aos 21 anos, o mais novo campeão de Augusta e escolheu cheeseburger, sandes de frango, batatas fritas e milkshakes. "Disseram-me que podia escolher o que quisesse... Bem, sou novo, isto é o que gosto", justificou Woods.

Scottie Scheffler, vencedor de 2024, dá o casaco verde a McIlroy
Scottie Scheffler, vencedor de 2024, dá o casaco verde a McIlroy Ben Jared

Profissional desde 2007, McIlroy junta Augusta ao PGA Championship, que venceu em 2011 e 2014, ao US Open, de 2011, e ao Open britânico, de 2014. É apenas o sexto homem a conseguir o Grand Slam, depois de Jack Nicklaus, Tiger Woods, Ben Hogan, Gary Player e Gene Sarazen, tornando-se no primeiro europeu a lograr a proeza.

No ambiente bucólico de Augusta, verde e idílico, o grito do triunfo do norte-irlandês foi visível e audível. A celebração teve euforia, lágrimas e quase sentido de missão cumprida.

Para quem já recebeu mais de €100 milhões só em prémios monetários do PGA Tour — o total da carreira é bem maior para o 19.º desportista da lista Forbes de 2024 —, os cheques por ganhar títulos terão uma importância menor face à glória desportiva em si. Ainda assim, no ano em que o Masters distribuiu mais dinheiro que nunca (cerca de €18,5 milhões), McIlroy regressou a casa com €3,69 milhões.

"Uma tradição diferente a qualquer outra." É assim que Augusta se define, orgulhosa dos seus rituais e hábitos.

Entre esses costumes está a entrega da peça de vestuário mais famosa do desporto internacional. É o casaco verde, o qual foi presenteado a Rors por Scottie Scheffler, vencedor de 2024. O norte-irlandês, que em 2014 cancelou por telefone o casamento que estava marcado com a tenista Caroline Wozniacki, pode usar o green jacket quando quiser durante os próximos 12 meses, mas depois o casaco terá de permanecer nas instalações do Augusta National Golf Club.

Ao ganhar a 89.ª edição do Masters, estreando a Irlanda do Norte nos registos de campeões e aumentando para 15 as vitórias europeias, McIlroy virou membro vitalício do Augusta National Golf Club, podendo ir lá jogar quando quiser, com exceção do período entre maio e outubro, quando o clube está fechado.

De casaco verde vestido, Rors exibiu o troféu perante um público singular no desporto global. Em Augusta ninguém pode ter telefones perto do recinto de jogo, ninguém pode estar com os aparelhos enquanto a ação decorrer. Ninguém. Nem espetadores, nem jornalistas, nem adeptos. Quem transgredir corre o risco de ser expulso e, no caso dos jornalistas, de ver a sua acreditação retirada.

Existem, à antiga, duas cabines de telefone grátis. Uma está atrás do buraco 6, outro perto do 18.

Todos os golfistas elogiam a serenidade da competição sem vídeos, selfies ou fotografias. O sueco Ludvig Aberg foi um dos mais contundentes: "Como o público não está sempre à espera de tirar uma fotografia ou de fazer qualquer coisa, centra-se mais no jogo e isso é muito melhor para nós. As pessoas estão mais atentas, apoiam mais, é tudo melhor."