Álvaro Pacheco assinou pelo Al-Orobah em julho passado, antes do começo da nova temporada da liga da Arábia Saudita. No entanto, logo desde o arranque da aventura do português no Médio Oriente, os salários em atraso foram o companheiro indesejado.

O treinador, de 53 anos, foi fazendo o seu trabalho. Orientou a equipa em 14 partidas, nas quais defrontou o Al-Nassr, de Cristiano Ronaldo ou o Al-Ittihad, de Karim Benzema. O português foi, segundo a lista da “Forbes”, o futebolista do mundo que mais dinheiro ganhou em 2024, recebendo cerca de €270 milhões, num ranking em que o francês, com cerca de €100 milhões, surge em quarto. O terceiro foi Neymar, do Al-Hilal, que averbou em torno de €105 milhões.

Vivendo neste contraste entre os milhões que uns encaixam e os atrasos que outros somam, Álvaro Pacheco decidiu acabar a experiência saudita. Alegando salários em falta desde o começo da época, o técnico decidiu rescindir contrato com o Al-Orobah com justa causa.

Segundo o “Record”, o mal-estar de Pacheco vai mesmo além da situação salarial. Várias promessas terão ficado por cumprir, afetando diversas áreas do clube, como certos aspetos do trabalho diário ou da composição e escolha do plantel.

Álvaro Pacheco não foi a única saída do Al-Orobah, atual 13.º classificado do campeonato saudita, devido a salários em atraso. Emmanuel Boateng, avançado ganês ex-Moreirense e Rio Ave, também rescindiu pela mesma razão. O atacante já assinou pelo Gaziantep, da Turquia.

Emmanuel Boateng, ex-Rio Ave e Moreirense, saiu da Arábia Saudita por salários em atraso
Emmanuel Boateng, ex-Rio Ave e Moreirense, saiu da Arábia Saudita por salários em atraso Carlos Rodrigues

Álvaro Pacheco chegou à Arábia Saudita depois de uma ainda mais breve passagem pelo Vasco da Gama, no Brasil. Antes disso, o treinador destacou-se no Vizela, que levou do terceiro escalão até à I Liga, e no Vitória SC, ajudando os vimaranenses a obterem a sua melhor pontuação de sempre no campeonato na temporada passada.

A situação de Pacheco não é uma novidade na Arábia Saudita. Apesar do dinheiro pago a grandes estrelas, das construções planeadas ou do acolher de grandes competições, os profissionais menos mediáticos — mesmo os que estão na principal divisão da principal modalidade do país — queixam-se regularmente de incumprimentos.

Em 2023, um relatório da FIFPRO, sindicato internacional de jogadores, colocou a Arábia Saudita numa lista de países a evitar pelos profissionais, partilhando esse estatuto com a Argélia, China, Roménia ou Turquia. Os futebolistas foram aconselhados a não rumarem à Arábia Saudita porque os salários em atraso eram “um problema recorrente.”

Também em 2023, Pepa contou à Tribuna Expresso como foi anunciado um treinador para o substituir sem que o português soubesse do seu próprio despedimento. No mesmo ano, Filipe Gouveia também acusou, em entrevista a “OJogo”, o Al-Hazm de salários em atraso.

Lewis Grabban, inglês que trocou o Nottingham Forrest pelo Al-Ahly em 2022, colocou o clube em tribunal devido a falta de pagamentos, os quais incluíam salários e prémios de assinatura. O jogador reclamou mais de €2 milhões em indemnizações ao emblema saudita, acabando a receber algo mais de €1 milhão.