À medida que o campeonato caminha para o final, os pontos tornam-se cada vez mais caros, sofrem uma inflação maior que os combustíveis.
Quem anda nisso há largos anos percebe que no topo e na cauda da classificação o custo de vida pode arruinar num ápice as mais bem intencionadas carreiras.
Os três primeiros e os três últimos conhecem o mesmo drama, sentem as mesmas angústias, com a óbvia diferença de o medalha de ouro ser catapultado para uma galáxia que lhe permite uma invejável folga.
Do ponto de vista financeiro, o acesso direto à Liga dos Campeões, sem nenhuma espécie de dependência da carreira nas provas europeias, faz do vencedor da Liga portuguesa o excêntrico do ano, um multimilionário já de si habituado a extraordinárias receitas no mercado de transferências.
E foi no campo das receitas que Jorge Nuno Pinto da Costa voltou a dar provas da vitalidade e astúcia que o tornaram numa figura ímpar. Em jeito de resposta à última publicação oficial de André Villas-Boas, que se regozijara pelos êxitos de tesouraria, Jorge Nuno redigiu um comunicado publicado pelo diário “O Jogo” em que fez a defesa da honra e reivindicou os louros da recuperação económica do clube.
O homem que esteve 42 anos na cadeira alta do Dragão refuta a tese de ter deixado somente oito mil euros no cofre (“nada de mais falso, conforme agora se tornou evidente”), reclama mérito total nas últimas injeções de milhões (“investimos e valorizámos um plantel que permitiu à atual administração, apenas na primeira metade da época, um encaixe de 167 milhões de euros”) e explica o silêncio cumprido até este fim de semana como uma tentativa de “contribuir para a preservação do bom nome do FC Porto e para não suscitar qualquer foco de instabilidade, visto como causador de insucesso desportivo”.
Respeitador da verdade ou mero instrumento de contrainformação na inacabada batalha mediática com Villas-Boas, o comunicado de Pinto da Costa (PC), redigido 24 horas depois do duelo entre Martín Anselmi e Rui Borges, reflete a clara intenção de continuar a fazer a agenda do futebol português e de querer interferir pela sombra na eleição do próximo campeão nacional.
Ao pronunciar-se num momento em que os azuis e brancos experimentam um sabor que nunca conheceram nas últimas quatro décadas, atravessando um ciclo de cinco jogos sem vitórias na Liga, PC sabe que continua a entrar no coração dos adeptos que só vibram com o esplendor na relva. E sabe acima de tudo que as suas palavras podem ter uma repercussão diferente se os resultados dentro das quatro linhas não representarem a curto prazo uma inversão na espiral negativa.
Como de ingénuo deve continuar a ter pouco ou nada, o penúltimo presidente portista esperou com toda a calma e paciência pela onda de insucessos para regressar à esfera pública e voltar a causar ruído num reino em polvorosa por causa dos quatro pontos de atraso face ao Benfica e sobretudo por causa dos oito pontos de atraso face ao líder Sporting.
ESTADOS (DES)UNIDOS
Apoquentado pela recuperação pontual do Sporting de Braga (tem também 43 pontos e partilha o terceiro lugar), o onze que para Anselmi continua autenticamente a ser um(a) Cruz Azul tem abertas várias frentes e feridas internas difíceis de cicatrizar, oferecendo um caminho que faz as delícias da oposição.
Exceção feita ao triunfo por 1-0 em Belgrado sobre o Maccabi Tel-Aviv, o detentor da Supertaça, nos últimos oito desafios, colecionou desfechos pouco condizentes com o prestígio e a própria história. Derrotas ante Sporting (meia-final da Taça da Liga), Nacional, Gil Vicente (Liga Betclic) e Olympiakos (Liga Europa) e empates com Santa Clara, Rio Ave e Sporting (Liga Betclic) denunciam um rendimento em 2025 a roçar a mediocridade, hipotecando seriamente as probabilidades de reconquista do título.
Neste quadro, até as declarações do capitão Diogo Costa sobre as expectativas no que toca à participação no Mundial de clubes parecem extraídas de um sonho de criança, com o guarda-redes a assumir a vontade de ganhar a prova que vai testar a capacidade organizativa dos Estados Unidos. Se há equipa europeia que está longe de indiciar um comportamento imaculado em território norte-americano é este FC Porto incapaz de contratar um patrão para a defesa no mercado de inverno e que tem visto o goleador Samu perder fulgor na hora de faturar.
No final da temporada, perceber-se-á até que ponto o substituto de Vítor Bruno conseguiu lutar contra o tempo e sobreviver às guerras de bastidores dentro de um universo que permanece desunido e sem a mínima capacidade de agregação para se pronunciar a uma só voz.
Ao contrário, os maiores rivais só beneficiam com a entrada em cena de Pinto da Costa e este, de igual forma, tira natural partido da superioridade que Sporting e Benfica mantenham sobre o terceiro classificado. Após uma jornada em que se disputou um clássico apaixonante e em que os casos de arbitragem não se circunscreveram à atuação do elenco liderado por João Pinheiro, o único líder que se “ouviu” foi o carismático Jorge Nuno.
Catalogado como o presidente dos presidentes durante a corrida eleitoral de abril de 2024, PC, hoje em dia, mais parece o presidente dos três grandes, porque ao assegurar que a turbulência na Invicta segue a respetiva auditoria dá uma ajuda que não tem preço à estabilidade na Segunda Circular. Por muito combustível que tenha sido derramado nas redes sociais com o penálti camuflado de Florentino, esse, nem Pinto da Costa apitava.