
O ano de 2024 em Espanha foi de domínio absoluto do Real Madrid na primeira metade do mesmo. A equipa merengue conseguiu ganhar folgadamente a Liga 2023/2024 e com várias jornadas de antecedência.
Já a segunda parte do ano de 2024, foi pautada por um início avassalador do Barcelona, na qual a equipa blaugrana ganhou os primeiros sete jogos da época, sendo que chegou a uma série impressionante de 11 vitórias (!) nos primeiros 12 jogos, incluindo um resultado bastante expressivo (0-4) na casa do seu arquirrival Real Madrid.
Mas as constantes limitações físicas do seu prodígio Lamine Yamal e a perda de intensidade da equipa, fez com que nos últimos dois meses do ano de 2024, perdesse uma vantagem que chegou a ser de nove e dez pontos para Real Madrid e Atlético de Madrid respetivamente, que o derrotou no último jogo no último lance do mesmo e termina assim na liderança da classificação, com mais um ponto do que o Real Madrid e mais três pontos do que o Barcelona, mas tendo a equipa de Simeone um jogo a menos do que a equipa catalã.
Este ano foi um ano de afirmação para vários dos jogadores a quem já se projetava um futuro brilhante e a consolidação de determinados jogadores de equipas mais modestas.
A contratação mais sonante do ano foi a do astro francês Kylian Mbappé pelo Real Madrid, mas o avançado gaulês tem tido uns primeiros seis meses bastante abaixo das expectativas.
Distribuídos numa tática 4-4-2, vou enunciar aqueles que para mim foram os grandes protagonistas deste último ano em Espanha, distribuindo-os criteriosamente num onze que mescla regularidade exibicional, experiência e irreverência.
Guarda-Redes

Unai Simón – Titularíssimo do Athletic e da seleção de Espanha, teve na época 2023/2024 a sua época de afirmação. Vencedor do prestigiante prémio Zamora (atribuído ao guarda-redes com menor percentagem de golos sofridos no campeonato com base nuns critérios muito específicos) pela primeira vez, foi um dos grandes responsáveis pela excelente época do seu clube e igualmente peça-chave no título da seleção espanhola no último Europeu de seleções.
Ágil entre os postes e com um excelente jogo de pés, Unai Simón é sem dúvida um dos melhores guarda-redes da liga espanhola. Depois do Europeu (que Simón jogou lesionado), esteve quase seis meses parado, tendo voltado à baliza da equipa basca muito recentemente.
Apesar de haver uma grande mística e sentimento pelo clube por parte dos jogadores do Athletic, quem sabe se essa lesão não terá sido o impeditivo para que Simón pudesse ter dado o salto para um clube com outras aspirações. Com 27 anos, ainda vai muito a tempo de que isso aconteça. Qualidade não lhe falta.
Lateral Direito

Dani Carvajal – Uma das figuras de proa do fantástico ano 2024 do Real Madrid, é na minha opinião, o melhor lateral-direito do mundo da atualidade. Um defesa extremamente completo a que aliou recentemente, uma capacidade de chegada a zonas de finalização, que nunca tinha explorado anteriormente. Prova disso, é o fato de ter sido ele a inaugurar o marcador contra o Borussia Dortmund na última final da Champions League, com um belo cabeceamento na sequência de um canto.
Competentíssimo a defender e bastante eficaz a atacar, Carvajal é um daqueles jogadores de grandes garantias, quer para o seu clube, quer para a sua seleção, onde foi igualmente um dos grandes destaques da Espanha campeã europeia.
Tendo ficado em quarto lugar na votação da última Bola de Ouro, Carvajal foi um dos jogadores mais regulares do ano de 2024, sendo que o seu ano foi bruscamente interrompido por uma grave lesão contraída em inícios de Outubro, que faz com que a sua época tenha terminado e só vá regressar aos relvados no próximo Mundial de Clubes (que começa em Junho), na melhor das hipóteses.
Defesa Central

Pau Cubarsí – Com apenas 17 anos de idade, já é o “patrão” da defesa do Barcelona. Um defesa-central que está chamado a ser um dos melhores na sua posição nos próximos anos. Apesar de não ser muito rápido (podemos considerá-lo um falso lento), tem um excelente sentido posicional, uma grande leitura de jogo, é exímio na arte de colocar os jogadores adversários em fora-de jogo e joga com a maturidade digna de um veterano.
Lançado por Xavi e continuando a merecer a confiança de Flick, Cubarsí tem tido uma grande regularidade exibicional e já é um dos grandes destaques deste novo Barcelona, que mergulhado numa grave crise financeira, teve que fazer uso da sua excelente formação, sendo que Cubarsí é mais um dos produtos de inegável qualidade que sai de La Masia.
Se controlar a sua impetuosidade, tornar-se-á ainda melhor do que já é. Campeão olímpico com a seleção espanhola, está igualmente chamado a ser um dos esteios da Espanha no futuro.
Defesa Central

Antonio Rudiger – Fazendo uso da sua enorme compleição física, conseguiu controlar e dominar grande parte dos seus adversários em Espanha e até a nível internacional e teve um ano de 2024 simplesmente impressionante ao serviço do Real Madrid.
Beneficiando das lesões de longa duração de Alaba e Militão, o defesa central alemão conseguiu vencer por fim toda a desconfiança e falta de carinho que os adeptos do Real Madrid sentiam por ele e transformou essa animosidade numa grande admiração.
Rudiger é daqueles centrais que dá tudo em campo, extremamente agressivo e que tem a raça que os adeptos merengues gostam de ver nos seus jogadores, sendo agora o grande líder da defesa e um dos indiscutíveis do onze do treinador italiano Carlo Ancelotti.
Lateral Esquerdo

Miguel Gutiérrez – Produto dos escalões de formação do Real Madrid, foi um dos grandes destaques do Girona, equipa sensação da época transacta em Espanha, tendo conseguido um fantástico e histórico terceiro lugar e a consequente qualificação para a Liga dos Campeões.
Com um pé-esquerdo fabuloso, Gutiérrez tem uma grande preponderância no jogo ofensivo da equipa catalã, mas necessita melhorar alguns aspectos defensivos.
Tem uma grande qualidade de passe, incorpora-se muito bem no ataque onde faz várias assistências. Foi a par de Yan Couto, o grande municiador do goleador Dovbyk. Titularíssimo da sua equipa e já a bater à porta da seleção de Espanha, Miguel Gutiérrez é sem dúvida um dos nomes que devemos continuar a seguir no ano de 2025.
Médio Defensivo

Martin Zubimendi – Uma das equipas que pratica melhor futebol em Espanha é a Real Sociedad. Liderada pelo audacioso treinador Imanol Alguacil, Zubimendi é indubitavelmente o que domina a casa das máquinas e um dos grandes responsáveis por essa identidade de jogo tão marcada da equipa basca.
Com 25 anos, está no auge da sua maturidade futebolística e neste Verão, rejeitou uma proposta suculenta do Liverpool para poder continuar a ajudar o clube dos seus amores, depois de o clube basco ter perdido Mikel Merino para o Arsenal.
Contudo, surge o rumor de que estará a caminho do Manchester City, pois a equipa inglesa está carente de um cérebro que domine todos os momentos do jogo, pois vê-se órfã de Rodri até ao fim da época.
Por alguma razão, consideram que Zubimendi é o sucessor ideal para o atual Bola de Ouro. Joga sempre de cabeça levantada, tem uma grande visão de jogo e grande capacidade de antecipação.
De destacar também a segunda parte e o prolongamento que Zubimendi jogou contra Inglaterra na última final do Europeu. Naquele momento em que Rodri se lesionou, os corações dos adeptos de Espanha gelaram, mas Zubimendi demonstrou toda a sua personalidade e qualidade, dando um recital de futebol.
Médio Centro

Jude Bellingham – Quando chegou a Espanha, contratado pelo Real Madrid, vinha de se destacar como um médio defensivo de grande qualidade nos alemães do Borussia Dortmund.
Mas Ancelotti cedo percebeu que Bellingham tinha qualidades que o poderiam fazer destacar dos demais, de que seria um “desperdício” confiná-lo apenas a tarefas defensivas (que quando é necessário, continua a executar na perfeição) e deu-lhe uma preponderância maior na manobra ofensiva da equipa, e o médio inglês superou as expectativas de todos de imediato.
Bellingham foi na minha opinião, o segundo melhor jogador do mundo no ano de 2024, depois de Rodri. É verdade que uma lesão no ombro e a excessiva carga de jogos fez com que tivesse uma baixa de forma considerável, mas mesmo assim conseguiu ser dos melhores da seleção inglesa, levando a sua seleção a mais uma final de um Europeu. Foi fundamental na final da Champions League e tem tido uns últimos três meses fantásticos ao serviço do Real Madrid.
Voltou o Bellingham dos golos decisivos, o Bellingham que está chamado a ser um dos grandes nomes do futebol mundial nos próximos anos. Convém recordar que o médio inglês apenas tem 21 anos e a sua margem de progressão é enorme.
Extremo Esquerdo

Raphinha – Poderia escolher Vinicius Júnior ou Nico Williams para este onze ideal, mas não estaria a ser justo com os números absolutamente impressionantes que Raphinha tem tido desde que começou a época 2024/2025.
Um jogador que se reinventou com a chegada de Hansi Flick, que já não é apenas um extremo que joga na direita para poder fazer uso do seu fantástico pé-esquerdo. Um jogador total, que sabe jogar pelo centro do terreno, que não perdeu eficiência quando cai numa ala e que tem tido uma veia goleadora como nunca lhe foi vista.
É sem dúvida um dos melhores jogadores do momento em toda a Europa, não só na Liga Espanhola. No início desta época, esteve na porta de saída do Barcelona (que queria Nico Williams para o seu lugar) e foi muitas vezes considerado o patinho feio e um jogador que se dizia só ter chegado ao Barcelona por ter sido agenciado durante quase toda a sua carreira por Deco, atual diretor desportivo do Barcelona.
Mas Raphinha tem calado todas as bocas fruto das suas excelentes exibições, de golos e de assistências. Na Liga Espanhola, são já 11 (!) golos e seis assistências, e tem igualmente sido um jogador-chave na débil seleção do Brasil.
Extremo Direito

Lamine Yamal – Uma menção honrosa a Savinho (nove golos e dez assistências ao serviço do super Girona na época passada), mas mais nenhum jogador poderia ocupar esta posição no onze a não ser Lamine Yamal.
Tem apenas 17 anos de idade, mas para mim já é dos melhores jogadores do mundo. Titular indiscutível do Barcelona e da seleção de Espanha, com uma extrema importância na manobra ofensiva de ambas as equipas e que vem de fazer um Europeu assombroso (aquele golo contra a França é uma delícia e não me canso de o ver).
A sua margem de progressão é infinita e se as lesões o respeitarem (Flick tem que começar a gerir melhor o seu tempo de utilização e dos seus tornozelos), vai ser várias vezes o melhor jogador do mundo.
Um extremo puro, joga como se estivesse no pátio do seu bairro, que não tem medo de encarar os adversários, que nunca faz a jogada mais óbvia e que já apresenta uma inteligência e entendimento do jogo só ao alcance dos predestinados.
Certamente que a sua veia goleadora irá chegar com o tempo, mas mesmo sem isso, é para mim o grande craque do momento.
Na época passada, deu ao todo cinco assistências. A meio desta época, já deu nove (!). E continua a acrescentar novos recursos ao seu arsenal, como os maravilhosos passes de trivela.
Avançado Centro

Artem Dovbyk – Era desconhecido da maioria dos adeptos do Girona e do futebol mundial antes de ingressar em Espanha. Contratado aos ucranianos do Dnipro, teve um impacto tremendo na equipa catalã, tendo sido a par do seu treinador Míchel o grande obreiro da época sensacional da equipa catalã.
O avançado ucraniano deixou um legado impressionante no futebol espanhol e ganhou o troféu Pichichi (que premeia o melhor marcador do campeonato).
No início desta época, transferiu-se para os italianos da Roma e tem caído um pouco no esquecimento. Mas mesmo que tenha sido uma época sem continuidade, não poderia deixar de colocar Dovbyk no meu onze ideal.
Trinta e seis jogos, 24 golos e 8 assistências. Estes foram os números do ucraniano Artem Dovbyk ao serviço do Girona na época 2023/2024. Contra fatos, não há argumentos.
Avançado Centro

Robert Lewandowski – Um dos melhores avançados da última década do futebol mundial, Lewandowski foi crucial para a Liga Espanhola conquistada pelo Barcelona na época 2022/2023.
Apesar da passada época convulsa e de um fim nada amigável da sua relação com Xavi, com a chegada de Flick (treinador que retirou o seu melhor rendimento num ano em que juntos ganharam tudo ao serviço do Bayern Munique), temos assistido desde o início desta época ao renascer do avançado polaco.
Um “matador” com um grande sentido de oportunidade, que tem apresentado números impressionantes.
Já são 16 (!) golos na Liga espanhola, sendo que na época passada marcou 19 no total.
36 anos de muita experiência, maturidade e um líder dentro e fora dos relvados, tão necessário numa equipa tão jovem como esta do Barcelona.
Na Liga dos Campeões, também tem sido decisivo, sendo o melhor marcador da atual competição, e, fruto desses golos, tornou-se recentemente o terceiro melhor marcador da história da competição, só atrás dos estratosféricos Messi e Cristiano Ronaldo.
Já são 101 (!) os golos apontados pelo mortífero avançado polaco na edição da liga milionária.