Kepler Laveran de Lima Ferreira, que ficará eternizado na história do futebol como Pepe, anunciou o fim da carreira. Foram 894 jogos e 31 títulos. É o adeus de um gigante, aos 41 anos.
O defesa central fez o anúncio nas redes sociais, através de um longo vídeo. Numa sala escura, iluminada pelos troféus conquistados ao longo dos anos, Pepe surge sentado, frente a um ecrã gigante que passa o filme da sua carreira. São 33 minutos que tentam resumir uma trajetória tão gloriosa quanto longínqua.
O Portugal-França, que ditou a eliminação da Seleção Nacional do Euro 2024, fica assim como o último jogo da carreira de Pepe. Justamente o encontro que, em 2016, consagrou o jogador com o maior título da história da equipa das quinas.
No torneio disputado na Alemanha, Pepe tornou-se no mais velho de sempre a jogar um Campeonato da Europa, mas o mais impressionante foram as performances de alto nível - principalmente na defesa da área - que teve aos 41 anos.
“Representar outro clube não era sequer opção”
Passado o Europeu, Pepe não confirmou o rumo da carreira, deixando no ar tanto a hipótese de pendurar as botas, como a de ainda jogar mais uma época. Nem uma semana depois da final, Villas-Boas revelou que o jogador não teria lugar no novo FC Porto, por “redução da massa salarial”, o que poderá ter precipitado o adeus do capitão.
No vídeo de despedida, a voz que narra a carreira do central diz que “as suas faculdades não estavam esgotadas” e “ainda não era o momento” de parar, mas representar outro clube senão o FC Porto “não era sequer opção”.
"Os processos de despedida são sempre dolorosos. Sai com a sensação de que as suas faculdades não estavam esgotadas, ainda não era o momento, mas representar outro emblema que não aquele que lhe encheu a alma não era sequer opção. E Pepe ficará para sempre como uma das referências maiores do FC Porto", pode ouvir-se durante o vídeo
Chegou a Portugal “só com dinheiro para ligar à mãe”
Pepe conquistou 31 títulos ao longo da carreira, entre os quais um Campeonato da Europa, três Ligas dos Campeões, dois Mundiais de Clubes e uma Taça Intercontinental.
A trajetória começou ainda no Brasil, nas camadas jovens do Corinthians Alagoano. No dia em que chegou a Portugal, com 18 anos, o jovem nascido em Maceió “só tinha dinheiro para ligar à mãe”.
“Tinha cinco euros, era o que tinha para comer ou ligar para a minha mãe. Expliquei a situação a um empregado e ele deu-me uma baguete de atum que até hoje me recordo. Deu para me satisfazer e usar o dinheiro para ligar à minha mãe”, contou o ex-capitão do FC Porto à UEFA.
Do Porto ao Real, Pepe ganhou tudo
Pepe estreou-se na equipa B do Marítimo antes de assumir a titularidade em 2002. Depois de três épocas na Madeira, chegou a fazer testes no Sporting - e até há uma fotografia do central ao lado de Ronaldo em Alvalade - mas assinou com o FC Porto, naturalizando-se português pouco depois.
Na primeira passagem de azul e branco, conquistou dois campeonatos, uma Taça de Portugal, uma Supertaça Cândido de Oliveira e uma Taça Intercontinental.
O salto para um colosso como o Real Madrid foi um passo natural na carreira, em 2007, e no gigante espanhol permaneceu até 2017, conquistando a Europa em três ocasiões.
Foi lá, durante uma década em que os olhos dos adeptos de todo o mundo estavam voltados para o futebol espanhol, para Ronaldo e Messi, para Mourinho e Guardiola, para o ápice de uma dais maiores rivalidades do futebol, que Pepe atingiu a sua melhor versão.
Foi lá, também, que ganhou a fama de violento, depois do momento mais triste da carreira, quando pontapeou várias vezes um adversário caído no relvado durante um jogo entre Real e Getafe. Acabou suspenso por 10 jogos.
“Pedi desculpa, reconheci o meu erro e mudei", reconheceu, anos mais tarde, admitindo que o episódio “marcou muito a carreira”.
Pepe continuou a ser agressivo, no bom sentido, dentro das quatro linhas. Forte nos duelos, rápido, com excelente posicionamento, juntou a tudo isso a experiência e uma longevidade notável.
Depois de rumar ao Besiktas em 2017, regressou ao FC Porto para continuar a história de amor no Dragão. Homem de confiança de Sérgio Conceição nos últimos anos, ajudou o clube a vencer mais dois campeonatos, quatro Taças de Portugal, três Supertaças e uma Taça da Liga.