Assim de repente, Andy Mangan é um nome que pouco dirá a quem se resuma a acompanhar os principais campeonatos de futebol na Europa, tantos são que já exigem muita atenção: inglês de nascimento, preencheu os seus tempos de jogador a ser avançado no Accrington Stanley, no Wrexham antes de o clube ser hollywoodesco, no Shrewsbury Town ou no Tranmere Rovers, humildes equipas que o fizeram passar entre a 3.ª, a 4.ª ou 5.ª divisões de Inglaterra. Apesar de ter feito para lá de 300 jogos, a sua carreira foi compreensivelmente incógnita para os holofotes da atenção, o maior dos feitos talvez a singela internacionalização que teve com a Inglaterra C, seleção reservada a jogadores das divisões amadoras.

Arrumadas as chuteiras, Andy quis ser treinador e as voltas da vida fizeram-no coincidir num dos cursos da UEFA com Davide Ancelotti, italiano de apelido famoso. Os santos de ambos bateram um com o outro e mantiveram o contacto enquanto os seus percursos divergiram, sem comparação.

Davide é adjunto do pai, Carlo, os seus empregadores foram o Paris Saint-Germain, o Bayern de Munique, o Nápoles e o Everton antes de aparecer constantemente no enquadramento da televisão a ajudar o progenitor a conquistar Ligas dos Campeões com o Real Madrid, o clube que assenta em mais êxito no futebol europeu. O italiano já tinha uma Champions vencida quando Andy Mangan virou treinador-adjunto do Fleetwood Town, da League One, terceira divisão inglesa onde ele ainda hoje está, no Stockport County, também como técnico secundário. Mas, porque a vida dá voltas, teve a oportunidade de ir trabalhar para Madrid.

Vários jornais espanhóis e ingleses noticiaram, nos últimos dias, a intenção do Real em rejuvenescer o seu staff e Andy Mangan era, por recomendação de Davide, um dos alvos do atual campeão europeu para reforçar a equipa técnica da equipa principal. O “The Athletic” escreveu até que o clube, vá-se lá saber porquê, pretendia alguém com experiência no futebol inglês, pelo que o filho de Carlo Ancelotti sugeriu o seu amigo. O Real terá mesmo avançado para a contratação do técnico e, posto a andar o processo, surgiu a fase da papelada para um cidadão inglês poder ir trabalhar para Espanha, um país da União Europeia onde o Reino Unido já não está.

Aí esbarraram na burocracia do Brexit, denominação que se deu à saída britânica da UE, em janeiro de 2020. Devido às regras e prazos legais para a obtenção de um visto de trabalho, Andy Mangan poderia demorar até nove meses a obter a sua licença e o pedido para obter um visto imediato terá sido rejeitado.

Dedicado ao treino da parte ofensiva e a trabalhar com os avançados das equipas onde trabalhou recentemente, Andy Mangan viu o tipo de oportunidades que se diz só aparecer uma vez na vida a escapar-lhe por culpa das consequências do Brexit, que impõem regras distintas para trabalhadores não comunitários ingressarem em países da UE.