É a modalidade que esteve nas bocas do mundo, este ano - não só pela estreia enquanto desporto nos Jogos Olímpicos, mas pelos insólitos passos de dança que colocou todo o mundo a ver, durante o evento. O breakdance, ou breaking, está agora, contudo, a atrair atenções por outro motivo: uma lesão rara na cabeça que está a surgir entre os breakanceres, o “buraco do headspin”.
Em causa está uma saliência que se forma no couro cabeludo, provocada pelo rápido e contínuo movimento giratório da cabeça no chão - o headspin, um dos mais icónicos movimentos do breakdance.
A lesão, sobre a qual a ciência ainda não se tinha muito debruçado, é agora analisada num estudo publicado, esta quinta-feira, na revista médica BMJ Journals.
Os cientistas explicam que o “buraco do headspin” traduz-se na formação de uma massa fibrosa no couro cabeludo, além de queda de cabelo e do aumento da sensibilidade na cabeça.
A doença é, explicam os investigadores, causada pela contínua fricção entre o couro cabeludo e o chão, combinada com a pressão do corpo do atleta.
Um caso de estudo na Dinamarca
O estudo agora publicado analisa o caso de um breakdancer dinamarquês, na casa dos 30 anos, que desenvolveu esta saliência na cabeça, após praticar headspins – ficando com aquilo a que os cientistas se referem, no artigo, como a chamada “cabeça de cone”.
O breakdancer treinava cinco dias por semana e em cada sessão fazia pelo menos sete minutos de headspinning.
O atleta continuou a dançar, mesmo após ter desenvolvido a lesão, ao longo de 19 anos de breakdance. Limitava-se a usar um boné para esconder a saliência. Mas, nos últimos cinco anos de treinos, o problema agravou-se, com o “cone” na cabeça a tornar-se cada vez maior e mais doloroso.
Acabou por ter de procurar ajuda médica. O Hospital Universitário de Copenhaga, a que recorreu, não sabia a que se devia o problema. Colocou várias hipóteses, incluindo cancro, mas todas elas foram descartadas. Finalmente, foi feito o diagnóstico: tratava-se mesmo de um “buraco do headspin”.
Para resolver o problema, o breakdancer teve de se submeter a uma cirurgia de remoção da saliência – através da qual conseguiu, além de melhorias a nível estético, o alívio dos sintomas.
Agora, diz ter uma cabeça “que parece completamente normal”. “Já posso sair em público sem ter de usar chapéu, o que é um sentimento ótimo”, afirmou, em declarações à agência noticiosa PA.
Aos primeiros sintomas, deve-se parar
Os cientistas responsáveis pelo estudo agora publicado ressalvam que o relatório não é “contra o headspinning”, mas aconselham os breakdancers a evitar esta manobra, se começarem a ter sintomas do “buraco do headspin”.
“Aos primeiros sinais de que estão a desenvolver uma saliência na cabeça, os breakdancers devem evitar os headspins. Continuar a fazê-los pode agravar o problema”, sublinha Christian Baastrup Sondergaard, um dos autores do estudo, ouvido pela PA.