Quando foi criado, há 30 anos, o K-1 rapidamente cresceu e tornou-se na referência global no mundo das lutas. A primeira versão, a ideia inicial de desporto de combate com entretenimento, saída da mente do mestre jeponês Kazuyoshi Ishii, era ir buscar algo de várias modalidades de luta (karate, kickboxing, kempo, taekwondo, entre outras) e juntar as principais estrelas para encontrar o número 1. Tudo num âmbito profissional, tudo num só espaço e numa só competição. Estrelas como Ernesto Hoost, Peter Aerts, Jerome Lebanner, Andy Hug ou Badr Hari elevaram o nome do K1 ao Olimpo e transformaram-se em heróis de várias gerações naquele que é o primeiro evento de Mixed Martial Arts.
E é agora, com uma verdadeira passagem pelo deserto pelo meio, onde perdeu espaço para outras modalidades que até foram beber das suas ideias e processos - o UFC é o maior exemplo disso mesmo -, que o K1 está novamente a renascer das cinzas. K1 Reborn foi o nome que voltou a fazer sorrir, há dois anos, o mundo dos desportos de combate. O regresso à Europa aconteceu no ano passado e, este ano, voltou às bocas do mundo com uma prova no Brasil. A WAKO Pro tem sido um parceiro forte nesse processo, com um trabalho de aliança com o mestre Ishii, a mente que em 1993 colocou em ação um ambicioso projeto e que agora, três décadas depois, trabalha para recolocá-lo no topo. No caso, na condição de conselheiro do K-1 e também da WAKO Pro.
O processo não é fácil, assume, pois de momento a marca "não se está a expandir", mas é com essa aliança que tudo pode mudar. "Se o K-1 tentar fazer tudo sozinho, se tentar operar diretamente, será dificil porque há diferentes nacionalidades, diferentes pessoas em diferentes regiões. O K-1 não pode fazer tudo sozinho desde o Japão. É necessário este trabalho que está ser desenvolvido com a WAKO Pro, que se trabalhe com promotores que estão localizados nas regiões para fazê-lo crescer. E, nesse âmbito, esta parceria com a WAKO é muito importante. É necessário levar a marca K1GP de volta ao palco internacional e de forma rápida. Hoje é mais fácil de acompanhar as lutas estejam onde estiverem, nomeadamente no telemóvel".
Para lá desse ganho de dimensão internacional com ajuda dos promotores, Kazuyoshi Ishii assume que nada será possível sem uma grande figura. "Ter uma estrela é algo importante. Na maior parte dos grandes desportos todos têm uma estrela, como o caso do futebol. Tudo tem de ir de mão dada. Não é possível ser feito só de um lado, tem de haver um trabalho em conjunto: os fãs e as estrelas têm de trabalhar juntos" enalteceu Ishii. "Não há base de fãs sem estrelas; não há estrelas sem fãs. No kickboxing atual, os atletas acham que são as estrelas, mas os fãs não acham isso. Apenas os que estão no meio acham que determinados atletas são estrelas, mas o público não concorda. Imaginem o Neymar: se ele aparece, as pessoas vão atrás. No kickboxing não há tanto disso. Antes havia algumas estrelas, mas agora não há nenhuma daquele nível", sublinhou, ele que foi o grande responsável por muitos dos nomes que estão hoje na vanguarda do kickboxing global, desde o primeiro evento em Toquio até aos super palcos de Las Vegas, Nova Iorque ou Paris.
A simplificação da receita do sucesso é simples, na cabeça deste mestre japonês de 71 anos. "No mundo ideal, há uma super estrela e depois um rival que aparece e que quer roubar-lhe o lugar. Esta guerrilha promove o desporto, atrai patrocinadores e cria novos heróis e com isso tudo cresce. No contexto do kickboxing atual não há uma estrela em particular global como havia noutros tempos. E, se surgir, essa estrela tem de ser jovem. Uma potencial estrela nos 30, 40 anos, não pode ficar por muito tempo. Alguém nos 20 ou abaixo disso sim. Tem de haver uma estrela na qual invistas a tua paixão, que vejas crescer, para que os fãs e os atletas possam crescer de forma conjunta, como o fizemos com tantos heróis que surgiram antes. Só assim foi possível ter 50 mil pessoas a pagar bilhete para ver a final de 2002 ao vivo, no Toquio Dome, e ter milhões no mundo a ver ao vivo", explicou.
Abu Dhabi recebeu em Dezembro um evento que serviu para mostrar uma vez mais o K-1 ao mundo e Kazuyoshi Ishii sente que este é o passo certo a dar. Até porque, na sua opinião, não há melhor modalidade de luta do que esta. "Noutras, agarras o adversário e a luta pára. Isso não é entusiasmante, especialmente se a luta tem 3 minutos. Mas os fãs querem ver socos e pontapés, muita ação e este agarrar tira emoção, tira espetáculo. As pessoas quando vêm muito agarrar, muita luta de chão, não gostam e assobiam. As lutas em pé são mais entusiasmantes, o caminho dos desportos de combate na área do espetáculo é este. Nós queremos é luta, luta, luta, é mais entusiasmante".