As teorias dos ataques que ganham jogos e das defesas que ganham campeonatos tendem a não colher na Fórmula 1. A capacidade de resistir a ataques dá jeito, claro, mas nem sempre é testada nesta era de DRS e circuitos sem pontos de ultrapassagem. Mas está aí Oscar Piastri para provar que saber defender ganha corridas.

No GP Azerbaijão, o australiano de 23 anos venceu pela segunda vez, e pela segunda vez esta temporada, ajudando ainda a McLaren a voltar ao topo do Mundial de construtores, por troca com uma mais uma vez desastrada Red Bull, algo que não acontecia há 10 anos. Fê-lo com a calma que já lhe é reconhecida, com a frieza, controlo e, também, coragem que já se viu em outros futuros campeões mundiais.

A corrida nas ruas de Baku pode dividir-se em duas partes. Do arranque até à primeira paragem nas boxes, Charles Leclerc liderou tranquilamente, deixando Piastri a uma distância não decisiva mas confortável de cinco segundos. O monegasco parecia finalmente perto de transformar uma das suas quatro poles consecutivas no Azerbaijão em vitória. Mas após trocar os seus quatro pneus médios para quatro duros, o piloto da Ferrari voltou à pista com o australiano a cheirar-lhe a asa traseira. À entrada da volta 20, Piastri travou no limite na reta da meta e na curva 1 sacou da cartola uma extraordinária manobra para ultrapassar Leclerc.

E, a partir daí, era preciso, parafraseando Fernando Alonso, defender que nem um leão.

Joe Portlock - Formula 1

Dessa volta 20 até final, na volta 51, Leclerc tentou de todas e maneiras e feitios usar o DRS para devolver a ultrapassagem a Piastri, numa fabulosa luta no braço, em pista, feita não só de potência mas também da qualidade dos pilotos. O australiano nunca se deixou enganar, defendeu-se aguerrida e inteligentemente de todos os ataques de Leclerc, enquanto os dois pilotos tentavam fazer durar os pneus duros. E se em Monza nessa particular luta das borrachas a Ferrari foi superior, aqui Piastri conseguiu gerir melhor e nas últimas voltas Charles Leclerc precisou defender o seu 2.º lugar de Sergio Pérez, que rondou sempre os dois primeiros.

Perez, até então o melhor Red Bull do dia, depois de uma corrida discreta de Max Verstappen, chegou mesmo a ultrapassar Leclerc na penúltima volta. Só que o monegasco respondeu bem no contra-ataque, recuperou a posição, permitindo ainda que o seu colega de equipa, Carlos Sainz, passasse Pérez. Num momento de grande tensão na luta pelo pódio, o mexicano errou, bateu em Sainz e os dois terminaram a corrida no muro.

Beneficiou George Russell, que terminou em 3.º depois de uma corrida fraca dos dois Mercedes, que tantas esperanças tinham para Baku. Lewis Hamilton, que começou no pit lane após fazer mudanças no motor, nunca conseguiu encontrar ritmo competitivo e só terminou nos pontos devido ao acidente de Pérez e Sainz.

Na corrida pelo campeonato, Max Verstappen foi 5.º, ultrapassado nas últimas voltas por Lando Norris, que na qualificação foi apenas 17.º e fez uma corrida de recuperação. Ainda assim, o britânico perdeu mais uma oportunidade de cortar pontos decisivos na luta pelo Mundial de pilotos. Mesmo com resultados desapontantes nas últimas corridas - não vence desde o GP Espanha, em finais de junho - o neerlandês continua a liderar o campeonato com 59 pontos de vantagem para Norris. Já nos construtores, a McLaren tem agora mais 20 pontos que a Red Bull.

O GP Azerbaijão viu ainda a Williams a colocar os seus dois pilotos nos pontos. Alex Albon foi 7.º e Franco Colapinto, argentino apenas na sua segunda corrida na F1, foi 8.º. Também na sua segunda aparição na categoria rainha, Oliver Bearman voltou a pontuar, agora com a Haas. O britânico foi 10.º, depois de ter sido 7.º na Arábia Saudita, quando substituiu Carlos Sainz na Ferrari.