A Real Sociedad foi-se transformando nos últimos anos num crónico candidato aos lugares de acesso às competições europeias, à semelhança do grande rival, o Athletic. As duas forças, juntamente com o Deportivo Alavés, representam o País Basco na La Liga e em 2023/24 somaram pontos positivos e figuraram nos destaques. De facto, o conjunto liderado por Imanol Alguacil tem cumprido um projeto a longo prazo ao qual se propôs, que permite um aumento de qualidade e exigência nas expectativas, ao mesmo tempo que ocorre uma aproximação com o seu aglomerado. O famoso sistema 40/60, implementado por Roberto Olabe como uma política obrigatória, tem dado os seus frutos.

No entanto, se houve época que não começou da melhor maneira para a equipa de San Sebastián foi precisamente a de 2024/25, com um futebol fraco e resultados pobres, ao ponto de ser considerada a Real Sociedad mais fraca desde que Imanol Alguacil assumiu a chefia da equipa técnica. O espanhol nunca foi questionado e mantém-se como pedra basilar de uma ideia sólida, mas sentiu-se um coro de críticas que outrora nunca tinha existido. Para ele, para o plantel e para a estrutura.

Ao dia de hoje, a Real Sociedad está na décima quinta posição da tabela classificativa, com nove pontos em nove jogos, apenas um terço da pontuação possível. Ponto positivo: apenas oito golos sofridos. Ponto negativo: somente sete tentos marcados. São números de meio de tabela e de futebol aborrecido, maquilhados pela penúltima partida frente ao Valência, que vive uma crise dantesca, que provavelmente já nem Rubén Baraja poderá travar. No entanto, concentremo-nos no Anoeta. Os txuri-urdin são a deceção de 2024/25 em Espanha, mas existem várias razões para justificar tal problema, sem perder a esperança que a equipa termine num lugar cimeiro, que cumpra os objetivos mínimos que eram pedidos. Para explicarmos o momento atual, teremos que socorrer-nos do verão e do trabalho realizado pela direção desportiva.

O facto é: o plantel da Real Sociedad está mais fraco. É um ponto assente que podia ser justificado somente pelos nomes que saíram da equipa, mas que encheram as contas bancárias da instituição. No entanto já era esperado. A Real Sociedad não é o destino final dos melhores jogadores, mas sim apenas um ponto de passagem. Foi assim com Alexander Isak ou Martin Odegaard e não será assim com Martín Zubimendi porque o médio defensivo é um apaixonado pelo clube que o viu crescer, existindo esse sentido de gratidão. Porém, para 90% dos atletas que almejam chegar ao topo, esta turma e vista como um ‘trampolim’. Afinal, os txuri-urdin não estão decerto no patamar de Barcelona ou Real Madrid.

Comecemos pelo primeiro problema: o golo. Seis golos marcados em oito rondas é um valor manifestamente curto, mas não se trata de uma novidade, mais bem um prolongamento do que ocorria em 2023/24. Não havia um ponta de lança goleador no plantel, Mikel Oyarzabal acabou por estabelecer-se como o 9 titular, embora seja um jogador de banda. Carlos Fernández passou a época lesionado, Umar Sadiq voltou de baixa muito abaixo das expectativas e André Silva não rendeu o esperado. Em janeiro chegou Sheraldo Becker, que é igualmente um elemento para funcionar mais perto da linha e também não se distinguiu como um goleador. Jon Karrikaburu teima em não conseguir uma vaga na equipa principal e nunca pareceu merecer uma chance para ser chamado de volta da sua cedência ao Deportivo Alavés (na primeira metade de 2023/24).

Assim sendo, a aposta em Oyarzabal para o posto transformou-se em algo compreensível, anotando 14 golos em 44 desafios. No entanto, não anula o problema, que teria que ter sido resolvido no verão de 2024. Em agosto acabou por chegar Orri Óskarsson por 20 milhões de euros, proveniente do Copenhaga. O valor investido é considerado pesado e é um elemento para o futuro, mas também para o imediato. Os dois golos frente ao Valência auguram algo de bom, mas não fazem esquecer os cinco jogos em branco que aconteceram anteriormente, numa fase em que já começaram a soar os alarmes no Anoeta. O islandês tem sentido como uma aquisição a largo prazo e não era esse o perfil que se desejava. A ideia passaria por trazer alguém mais experimentado, com bom conhecimento da La Liga e que fosse capaz de arcar com as exigências. Daí o nome de Borja Mayoral ter sido tão badalado no verão, acabando por ficar no Getafe.

O segundo tópico a analisar é a falta de Mikel Merino. A Real Sociedad perdeu o motor da sua equipa e não foi capaz de o substituir. O espanhol rumou ao Arsenal por 32 milhões de euros e a equipa basca tem dois nomes claros para ocupar o seu lugar, embora ambos não possuam as valências do agora gunner. Beñat Turrientes era visto como a aposta ideal, mas é um elemento que é muito menos completo, além de mais jovem. O jogador da cantera aparentar ter capacidade de progressão (capaz de transportar bem a bola), mas ao nível defensivo ainda fiquem aquém e no ponto do ataque nunca chegará ao nível de Merino, já que são perfis distintos, não sendo Turrientes um elemento tão ofensivo e ‘condenado’ a jogar num sistema de três médios.

A Real Sociedad foi também ao mercado para trazer um reforço para o posto. Luka Sucic, croata de 22 anos aterrou em San Sebastián proveniente do Red Bull Salzburg, por 10 milhões de euros e é novamente um perfil de jogador entusiasmante (tal como o é Beñat Turrientes), mas não é Merino. Conta com uma capacidade ofensiva muito acima da média, mas ao nível defensivo deixa um pouco a desejar, ainda que demonstre relativa competência na área dos bloqueios. É alguém que necessitará do conforto em ter Martín Zubimendi a acompanhá-lo.

Mikel Merino é um jogador que podemos considerar como insubstituível. Com o seu perfil há poucos e a Real Sociedad teria que gastar uma grande fatia do seu orçamento para poder encontrar um sucessor à sua alturar. Beñat Turrientes e Luka Sucic são atletas moldáveis e que podem desempenhar as funções. Vão melhorar com o passar do tempo e quanto mais experiência de jogo obtiverem, melhor.

Imanol Aguacil tem apostado também em Sergio Gómez como interior esquerdo, desempenhando bem a função. O ala esquerdo tem provado que consegue fazer diversas posições do seu lado do terreno e tem sido um dos reforços do ano na La Liga, com três assistências, em 10 jogos. É supercompleto e facilita muito a tarefa à equipa técnica.

A acompanhar a baixa de Mikel Merino, Robin Le Normand também saiu do Anoeta e assinou com o Atlético de Madrid, mas a chegada de Nayef Aguerd tem mostrado que o franco-espanhol pode ser ‘esquecido’, evitando um problema que uma dupla Zubeldía – Jon Pacheco/Jon Martín poderia passar, pelo menos no curto prazo.

A tudo isto podíamos adicionar o nome de Takefusa Kubo, que em 2022/23 era considerada a futura estrela do clube, com capacidade de dar o salto rapidamente, mas encontra-se estagnado e já não é tão elogiado assim. Outrora titular absoluto, hoje em dia não completa os 90 minutos com tanta regularidade, figurando no banco de suplentes em certas ocasiões. Aos 23 anos não deu o passo que se esperava e por isso segue no Anoeta, onde é adorado pelos aficionados, mas tem sido alvo de críticas. Não é a estrela da companhia.

Há que olhar para fora de portas também. Em 2023/24 foi muito claro que Real Bétis, Athetic e Villarreal (em ascenso) eram os grandes rivais da Real Sociedad (o Girona estava a lutar por algo mais). A figura em 2024/25 é diferente. O Mallorca de Jagoba Arrasate tem perfil para ser uma das surpresas da temporada, com uma equipa que está a encaixar com as ideias do antigo treinador dos txuri-urdin. O Osasuna, que se perfilava como um projeto preocupante (dada a saída precisamente de Jagoba Arrasate), está a começar muito bem com Vicente Moreno, contando com um Bryan Zaragoza que quer ter um lugar no Bayern Munique em 2025/26. O Rayo Vallecano e o Celta de Vigo são para se manter debaixo de olho. Parece que existem mais candidatos ao acesso às competições europeias em comparação ao ano passado. Isto é muito bom para a competitividade da La Liga, mas péssimo para a Real Sociedad, que pode perder um comboio interessante e ficar perdida a meio da classificação. Assistimos a downgrades de Valência e Sevilha nos últimos anos e sabemos que existem ciclos e a erreala pode ser a próxima instituição a desiludir (o Real Bétis encaixa igualmente neste perfil).

Estamos na nona jornada da La Liga e vamos viver uma paragem de seleções que promete ser fundamental para as equipas que estão bem poderem descansar, e para as turmas que não começaram com o pé direito, trabalharem as suas debilidades e analisarem o que tem faltado. A Real Sociedad está mais do que a tempo de recuperar, mas é necessária uma reação, para não ter de começar a olhar para baixo com desconfiança. A resposta à segunda pergunta presente no título (‘há crise?’, escrita em basco) não é simples. A olho nu podemos afirmar que sim. No entanto, ao vermos todos os fatores, ‘fazer soar os alarmes’ ainda é algo precipitado.