Passos seguros, firmes, cheios de certeza. Depois da reativação do voleibol feminino em 2001/02, o SC Braga está de volta à elite nacional da modalidade.

Os bracarenses estabeleceram-se definitivamente na primeira divisão em 2021/22 e tem crescido de forma sustentada. Assim é quando se sabe o que se quer e para onde se quer ir. Esta temporada, o emblema minhoto terminou entre os quatro primeiros classificados e começou a colher os frutos do investimento que fez na modalidade - não só na equipa sénior como na formação.

«O balanço que faço é bastante positivo. O objetivo traçado para a primeira fase era garantir uma vaga nos quatro primeiros classificados. Era uma meta ambiciosa tendo em conta o histórico recente do clube. Conseguimos cumprir o objetivo com dificuldades, um 3-2 decidido na negra no último jogo, o que foi extremamente importante para nós enquanto clube e grupo», começou por dizer a A BOLA o treinador.

Com passagens por Sporting e pelas seleções nacionais, João Santos aceitou o desafio de estabelecer o SC Braga entre os melhores do país no voleibol feminino.

«O SC Braga apresentou-me um projeto bastante ambicioso. O objetivo a curto/médio prazo é o clube estar a bater-se de igual para igual com os melhores de Portugal. Era também o que procurava para a minha carreira. Identifiquei-me bastante com o projeto, com as condições de trabalho e com a possibilidade de trazer atletas com quem já tinha trabalhado. Alinharam-se as vontades e estou muito satisfeito», referiu.

«A longo prazo queremos estar nos momentos de decisão em todas as competições em que participemos. Ao mesmo tempo, queremos desenvolver novos talentos e colocar mais atletas da formação, uma das mais-valias do clube, na equipa sénior. Não é um trabalho fácil pela exigência das competições», acrescentou.

Uma das atletas que chegaram ao Minho esta época, tal como João Santos, foi a internacional portuguesa Ana Figueira.

«O SC Braga mostrou-me um projeto ambicioso, de competir pelos lugares cimeiros. Além disso, estava a contratar pessoas que conhecia e com as quais já tinha jogado. Foi um dos fatores que me fez vir para aqui», justificou em relação ao motivo para ter assinado pelos bracarenses.

Além de Ana Figueiras, o SC Braga conta com mais internacionais por Portugal nos seus quadros como Matilde Calado, Margarida Maia e Maria Reis Lopes - Dayana Martínez e Thainalien Castillo, por sua vez, já representaram a seleção de Cuba.

«As atletas procuram clubes que lhes proporcionem as condições necessárias para trabalharem da melhor forma. O SC Braga rivaliza com os melhores de Portugal, da Europa e do Mundo nesse aspeto. É legítimo que todas as jogadoras queiram um espaço aqui. Além das infraestruturas, temos vários elementos da equipa técnica que ajudam e toda uma dinâmica que dá bastante suporte. Qualquer atleta sonha ter um clube que lhe permita lutar por títulos e ter visibilidade. Este é o sítio ideal para isso», defendeu Pedro Santos.

No entanto, o projeto do clube não passa apenas por recrutar internacionais, mas também dar espaço a jovens da formação.

«Não é fácil integrar jovens e competir por títulos. Há uma discrepância muito grande entre o nível da formação e o alto rendimento. A Liga tem evoluído bastante de ano para ano com a chegada de atletas internacionais que acrescentam valor. Este contexto obriga a quem chega da formação dar um salto qualitativo para treinar, jogar e competir por títulos. Não é a mesma coisa. Queremos dar condições de trabalho e tempo de jogo para que a sua evolução natural lhes permita estar nesses palcos um dia», refletiu o técnico.

Os valores, a identidade e a história acabam por ser transmitidas por quem cresce a sonhar jogar na primeira equipa. Esse acaba por ser o papel dos ‘produtos’ da formação bracarense, conforme sublinhou Ana Figueiras.

«É superimportante. As mais novas falam-nos da história do clube e acabamos por perceber melhor quer a cidade, quer o clube. Todos são superapaixonados pelo SC Braga. Também nos ensinam as músicas do clube. Isso acaba por ser muito bom», frisou.

Por seu turno, João Santos considerou que a mescla entre juventude e experiência acabou por ser uma das chaves do sucesso da equipa.

«Conseguimos formar um grupo bastante bom. Há uma mescla de atletas internacionais portuguesas, que procuravam um clube organizado e com uma rede de suporte tão grande como a que tem o SC Braga. E juntámos algumas atletas da formação que querem passar para outro patamar. Por vezes, é necessário vir gente de fora para haver maior competitividade e para compor algumas posições. Toda esta mescla funcionou muito bem e ofereceu muito ao grupo. Demorou o seu tempo, naturalmente, mas estamos numa boa fase e tudo isso contribuiu bastante», opinou.

Existiram, porém, dores de crescimento ao longo do processo. Certamente momentos de dúvida, frustração e tristeza, sobretudo quando se falharam a concretização de objetivos. Foi assim, por exemplo, quando o SC Braga caiu nos quartos de final da Taça de Portugal contra o Ginásio Clube Vilacondense.

«Falhámos o objetivo na Taça, o que acabou por ter peso na equipa. Fomos eliminadas por uma equipa que estava abaixo de nós na classificação. Foi um percalço no caminho, não estávamos a contar», admitiu a distribuidora de 27 anos.

O sentimento foi corroborado pelo treinador das guerreiras do Minho. «Foi a derrota mais dura porque tínhamos o objetivo de chegar à final four. Foi difícil, especialmente porque colocámo-nos na posição de favoritos. No dia seguinte perdemos por 3-0 contra o Benfica, em Lisboa, e no jogo a seguir, não fizemos uma excelente exibição [na vitória contra a Associação Avense]», confessou.

O desaire, inesperado, não esmoreceu, porém, o entusiasmo que se vive pelo SC Braga, que acabam por se rever no que a equipa tem feito.

«Sinto que as pessoas perceberam que têm aqui um sítio onde podem trazer as filhas ou os filhos. Eles percebem que podem fazer a formação no clube e ter um bom percurso nas seniores», defendeu Ana Figueiras.

O pavilhão construído pela direção bracarense localiza-se a escassos metros do estádio Municipal de Braga, o que acaba, qual hímen, por atrair ainda mais adeptos.

«É espetacular sentir a simbiose entre adeptos e equipa. Há alguns que ainda estão a perceber a modalidade, mas há outros que são adeptos de voleibol. Os atletas da formação têm, inclusive, músicas próprias. Apercebemo-nos de um crescimento gradual ao longo do ano», disse João Santos.

«O voleibol é uma modalidade bastante querida no Minho e em Braga. É um desporto que tem enorme tradição na cidade e este projeto acaba por engrandecer ainda mais a prática desportiva do voleibol. Acredito que faltava algo assim na cidade. O clube já tinha dado passos nesse sentido, mas entendo que este ano deu um passo ainda maior e já é capaz de ombrear com os grandes rivais do país. A frequência com que os adeptos marcam presença no pavilhão é um reconhecimento do nosso trabalho, é sinal de que se identificam com o que fazemos e com os nossos valores. A boa época deve-se muito aos nossos jogos em casa», acrescentou.

O SC Braga iniciou, no último domingo, a participação nos playoffs com uma derrota caseira frente ao Clube K (1-3). Saiu derrotado do primeiro jogo, mas não perdeu o direito de sonhar que é seu por mérito próprio.