- Que opinião tem sobre este Farense com vida complicada, sem pontos somados e já agora sobre a hora da partida, às 15.30 horas, isso muda a preparação da equipa?

- Enquanto preparação, nada mudou. Equipas com poucos pontos são sempre imprevisíveis. Já estive desse lado. Sei que muitas vezes se agarram a tudo e unem-se. É preciso estarmos em alerta permanente. Teremos que saber identificar a melhor forma de atacar um Farense que, do ponto de vista estrutural, posicional, poderá oferecer algumas dúvidas naquilo que foi a nossa preparação, até pelas notícias que vieram a público. Teremos de estar muito ligados ao que somos e no que fizemos nestas duas semanas de trabalho. Farense vai estar alimentado em esperança. Temos de atacar o jogo de frente. Teremos de estar muito ligados àquilo que nós somos, muito ligados àquilo que fomos reforçando enquanto construção do nosso jogo nestas duas semanas de paragem, e altamente vinculados com o desejo de vencer. Em relação ao horário: é apelativo. Recordo-me nos tempos de infância ver, em Coimbra, a Académica e com gente que me levava. Lembro-me de levar bandeirinhas pretas e brancas na altura, num estádio que estava cheio. Obviamente aqui é um contexto diferente, mas eu acho que o futebol deve ser sempre um meio unificador daquilo que é o vínculo entre famílias, catalizador muito daquilo que tem de ser um sentimento familiar, forte.

- Duas questões: que reação pretende e espera da sua equipa depois da derrota em Alvalade e se é difícil gerir a ausências de alguns jogadores nas seleções, além dos que já estão lesionados?

- Após uma derrota, a nossa vontade é atacar o jogo numa fase imediata. Nós fomentamos muito uma regra aqui dentro, que é não entrarmos em agonia mais do que 24 horas. Eu acredito muito naquilo que é a energia, nas sinergias criadas, em laços, em vínculos, e acho que só através de energia conseguimos construir o sucesso de uma organização. Por isso, as primeiras 24 horas após o jogo de Alvalade foram difíceis, duras, e agonizantes. Obviamente que isto não se perdeu ao longo destas duas semanas, está sempre cá guardado, nós não esquecemos, mas em termos de trabalho diário, totalmente vinculados de forma enérgica, muito fiéis àquilo que é o nosso jogar, àquilo que são as nossas convicções, àquilo que temos construído desde o início dos trabalhos. Mas isso durou 24 horas. Em relação à perda de internacionais, é o que é, é o que é. É um fator que é incontrolável, nós não temos como, como controlar, vai ser alvo de matéria de debate, tenho a certeza absoluta, porque este ano estamos a falar de um ano sui generis, com o Mundial de Clubes, com a pausa de seleções, jogadores que consigam casar seleção com o Mundial de Clubes poderão acabar a fazer quase o número, a rondar os 100 jogos numa época que me parece absurdo, sem qualquer sentido, desprovido de qualquer nexo lógico.

- Recebeu alguns dos reforços. Alguém o tem surpreendido no treino e se não teme a perda de dinâmicas com a chegada desses jogadores tão tarde?

- Não nego, se calhar quem ficou cá, quem veio mais recentemente, pode estar mais preparado para iniciar o jogo com o Farense. Se calhar foi uma forma de absorver muito daquilo que são os nossos conceitos, de validar muito aquilo que são as nossas ideias, ou para simular muitos dos comportamentos que nós queremos. E quem ficou e teve estas duas semanas aqui de trabalho connosco, estará claramente mais preparado e mais habilitado a dar uma boa resposta do que quem esteve fora. É olhar para o momento.

- Acha que a lesão de Fábio Vieira é preocupante?

- Preocupante não será, está a ser reavaliado diariamente. Está com uma vontade enorme de ajudar. Também é genial naquilo que é o teto máximo dele, a forma de se adaptar a um novo grupo, vem com hábitos diferentes de Inglaterra. Traz energia boa e isso vai reabilitá-lo o mais rápido possível. Esperemos que seja o mais rápido possível.

- Sobre a indefinição da situação do Galeno no mercado e o não avanço da sua transferência para o futebol da Arábia Saudita, até que ponto isso o afetou?

- Tem sido um profissional de excelência, com uma aceitação brutal mesmo estando numa zona mais recuada no campo. Não vou negar que tem algum impacto, estamos a falar de uma questão financeira que qualquer jogador procura. Sempre com a noção que representa um grande clube. Fez-lhe bem ter ficado aqui, não ter ido à seleção foi bom. E o casamento dele dá-lhe estabilidade. O Galeno é muito fiel aos valores, muito satisfeitos com ele e com o que pode dar

- Alguns comentadores e colunistas afetos ao FC Porto fizeram reparos ao não apostar nos três reforços para o jogo com o Sporting, porque só utilizou um. Está ainda preso ao grupo da Áustria?

- Estou preso ao que os jogadores me dão, tem de haver espaço e opinião. Faço o meu trabalho com base em convicções. Sempre a defender a questão desportiva do clube. Se é com gente que vem de fora, se é com gente que tem vários anos são os que estão mais habilitados no momento. Nem os meus pensamentos consigo controlar. Lido bem com as críticas. Depende do que os jogadores me dão. Sou fiel ao trabalho e pouco tolerante à falta de compromisso.

- Os cinco reforços, já que Fábio Vieira está lesionado, estão todos convocados?

- Estão muitos convocados, sim.

- O FC Porto perdeu dois atacantes experientes, Taremi e Evanilson, e contratou Samu e Deniz Gul, que são mais jovens. Acha que estão preparados para aquilo que é a exigência dos adeptos do FC Porto?

- A exigência é boa, gosto de gente exigente e apaixonada como são os adeptos. Gosto que os jogadores se comprometam com o jogo e o treino. A idade, religião e cor tem pouco valor. Terão de fazer pela vida para lutar pelos lugares. Cabe-me decidir.

- Ao fim de 100 dias como treinador qual foi o melhor dia e o desafio mais exigente?

- São 100? Provavelmente. Já que vai por aí, tenho de dizer, em relação a amanhã, que são 100 dias enquanto treinador, mas à frente do FC Porto, dos jogos profissionais como treinador principal são cinco. Do outro lado está alguém que tem quase 500. A nível de tudo aquilo que é passado e experiências acumuladas, José Mota está claramente à minha frente. Não o direi no nível da ambição, porque a ambição dele não será maior que a minha, se calhar a minha também não é maior do que a dele. Queremos muito ganhar, mas não nos podemos esquecer que o Farense também quer.