Nas paredes do United Cafe, a 300 metros do estádio de Old Trafford, em Manchester, as paredes estão decoradas com dezenas de fotografias de lendas dos Red Devils, em especial o antigo treinador Alex Ferguson.
O proprietário, Robert, admite que um dia o novo técnico do Manchester United, o português Ruben Amorim, possa entrar para a sua galeria de estrelas, num lugar de honra ao lado de David Beckham ou Andy Cole.
"Não sei muito sobre ele, mas a imprensa diz muito bem, que é bom taticamente e a melhorar os jogadores", confessou hoje à Agência Lusa, num intervalo entre servir um tradicional pequeno-almoço inglês a um turista americano e uma caixa de batatas fritas com molho de caril a um trabalhador local.
Até agora, Ruben Amorim não foi apresentado oficialmente e a sua primeira conferência de imprensa como treinador do Manchester United terá lugar na sexta-feira, na antevisão do jogo no domingo contra o Ipswich Town.
Bobby, como prefere ser chamado, afirma que um desafio do português vai ser trabalhar com os jovens jogadores do plantel, como Kobbie Mainoo, Alejandro Garnacho ou Mason Mount, que considera estarem a jogar abaixo do nível desejado.
"Esse foi o principal problema de [Erik] ten Hag, ele não fez evoluir os jogadores. Espero que o novo treinador consiga tirar mais dos jogadores, especialmente os jovens, porque temos alguns muito bons", vincou.
Na opinião deste adepto, os jogadores mais novos "precisam de incentivo e de um abraço amigo" e o plantel em geral deve ser mais unido.
Apesar de as expectativas serem favoráveis, Bobby não espera milagres instantâneos de Ruben Amorim, apenas que "consiga acabar a época nos primeiros quatro lugares" da Primeira Liga.
A caminho do estádio de Old Trafford, a sudoeste do centro de Manchester, a história do clube é recordada nas ruas, com murais nas paredes e retratos de George Best e Alex Ferguson nas paredes exteriores do pub The Trafford.
No espaço em frente ao recinto, conhecido por "Teatro dos Sonhos", destaca-se uma estátua da "Trindade do United", juntando os jogadores George Best, Bobby Charlton e Denis Law, que guiaram os Red Devils à vitória da Taça dos Campeões Europeus, em 1968, contra o Benfica de Eusébio.
Em redor, o movimento nesta manhã soalheira mas fria era diminuto, com apenas alguns turistas a aproveitar para tirar fotografias e fazer compras na loja do clube ou visitas guiadas.
Um grupo de jovens franceses confessa desconhecer Rúben Amorim, tal como um casal de argentinos, que aperta o passo para atravessar a cidade e visitar o estádio do rival, Manchester City.
De passagem, Ollie, um jovem adepto local, mostra-se informado sobre os poucos vídeos que o clube publicou na sua página de Internet com uma entrevista e imagens dos treinos liderados por Ruben Amorim.
"Ele parece carismático, ao contrário de Ten Hag, e fala bem inglês. Penso que ele tem boas hipóteses de fazer um bom trabalho", refere.
Sobretudo, acrescenta, o português tem a vantagem de ter sido escolhido pela atual administração, nomeadamente o presidente-executivo, Omar Berrada, e o acionista Jim Ratcliffe.
Na praça de táxis, enquanto aguarda por clientes, Karen Kermin desliga o rádio para revelar que recebeu "comentários positivos" de fonte segura - o companheiro de uma amiga que é um agente de futebol português.
"Dizem que ele gosta de usar jovens da academia e que forma boas relações com os jogadores. Isso é bom porque este plantel precisa de mais coesão", referiu à Lusa.
"Genuinamente entusiasmada" como não se sentia há vários anos, Kermin espera que o técnico português seja melhor do que o antecessor a "pôr os jogadores nas posições certas e a jogar com mais paixão".
Esta nativa de Manchester quer ver a equipa "motivada, os jogadores a lutar em campo e a merecer o muito dinheiro que ganham, porque precisamos de ganhar jogos e pontos".
Frustrada com o atual 13.º lugar da Liga inglesa e as 11 épocas sem vencer o campeonato, espera que o português seja aquele que vai levar o clube de volta às velhas glórias.
"Precisamos de voltar ao lugar onde pertencemos", exclamou.