Atualmente ao leme do Al Akhdoud, na Arábia Saudita, o treinador português Paulo Sérgio mantém-se atento ao que se passa no futebol luso, onde treinou durante largos anos, com destaque para a longa passagem pelo Portimonense.

A luta pelo título, a afirmação de novos talentos e a resiliência dos técnicos nacionais continuam a prender-lhe a atenção, conforme relevou em entrevista à agência Lusa.

"Este foi um ano no qual os três grandes passaram por períodos de maus resultados, de turbulência. O Sporting com um conjunto de lesões significativo, desperdiçou uma vantagem boa que tinha. O FC Porto talvez tenha sido demasiado audaz ao pôr a fasquia tão alta num ano tão difícil de mudança. Uma presidência de 40 anos para uma nova direção, um novo rumo. Com um treinador completamente inexperiente, quer na carreira quer em relação à nossa liga. Não quer dizer que não tenha valor, mas também ele a precisar dessa adaptação e desse conhecimento", analisou o técnico, de 57 anos.

Na opinião do treinador português, que orientou, entre outros, Paços de Ferreira, Vitória de Guimarães, Sporting e Portimonense, a disputa pelo título vai mesmo ficar entre os rivais lisboetas.

"Chega-se agora à parte final e Benfica e Sporting estão muito fortes. Serão os candidatos até final pelo título. Tudo pode acontecer", admitiu, vaticinando uma fase de preparação a norte: "O FC Porto está agora a estabilizar. Já não tem possibilidades, na minha opinião, de chegar ao título. Está a permitir-se trabalhar mais tranquilamente e talvez a organizar um caminho mais risonho para a próxima época".

Paulo Sérgio não esquece o bom momento de outras equipas e técnicos da 1.ª Liga portuguesa, salientando o trabalho desenvolvido por Carlos Carvalhal.

"Quero destacar o trabalho fantástico do Carvalhal em Braga, com a equipa a lançar muitos jovens. A segunda volta do Braga tem sido brilhante. Se o campeonato fosse só esta fase, provavelmente estavam na liderança", atirou.

Para o treinador, os méritos estendem-se a outros emblemas: "Há trabalhos de muito significado nas equipas que estão ali a disputar tudo, desde o Santa Clara, ao Casa Pia, com uma época muito assertiva. Os treinadores estão a trabalhar muito bem e a dar qualidade à nossa liga".

Também o Portimonense, clube que orientou durante quase cinco épocas, entre 2020 e 2024, mereceu palavras sentidas. Apesar do regresso atribulado da equipa à II Liga, Paulo Sérgio não perde a esperança num futuro mais risonho para os algarvios.

"Todos contávamos com uma passagem na 2.ª Liga mais assertiva, mas o futebol tem destas coisas. Sei da seriedade e da capacidade de trabalho das pessoas que lá estão, quer da parte da estrutura, quer da parte da equipa técnica. Creio que, com os devidos acertos, na próxima temporada, o Portimonense lutará novamente pela subida de divisão, que é o lugar que a cidade e o clube merecem. Sou um fã, um adepto, um amigo. Foram quase cinco anos. Estamos juntos", admitiu.

Apesar de continuar ligado emocionalmente ao futebol português, é na Arábia Saudita que Paulo Sérgio trava hoje a sua batalha pela manutenção, ao serviço do Al Akhdoud, atual 17.º e penúltimo classificado do campeonato local. A seis jornadas do final da prova, o emblema de Najran está a um ponto da primeira equipa acima da 'linha de água'.

O regresso ao Médio Oriente, após uma primeira passagem pelo Al-Taawoun, em 2019/20, tem sido marcado por dificuldades competitivas, mas também por um percurso positivo desde a sua chegada.

"Chegámos com a equipa muito mal classificada, sem fazer pontos, muito desanimada. E invertemos esse ciclo. Temos estado sempre a somar pontos. Em sete jogos tivemos apenas uma derrota, num jogo em que podíamos ter tido um resultado completamente diferente", explicou à Lusa, pouco menos de dois meses depois de ter chegado ao clube.

As mudanças na liga saudita desde a sua primeira experiência são, segundo Paulo Sérgio, evidentes.

"Na altura já era um campeonato com bastantes bons jogadores. Neste momento, com a permissão para se jogar com oito estrangeiros e com um investimento muito forte no futebol, é um projeto bem pensado e estruturado. Vêm para aqui jogadores de primeiríssima água, que estariam certamente a jogar nos melhores campeonatos da Europa", apontou.

Neste contexto, é impossível ignorar o impacto do internacional português Cristiano Ronaldo, que atua no Al Nassr.

"O Cristiano é uma bandeira do campeonato. Move tudo o que é marketing à volta desta liga, dá muita visibilidade e continua a fazer golos estupendos e a abrilhantar cada jogo em que participa", disse.

Focado no objetivo da permanência, Paulo Sérgio mostra-se otimista: "Temos agora seis jogos finais com equipas com que temos obrigação de nos bater com igualdade. Tudo faremos, lutaremos de forma galharda para conseguir o nosso objetivo final."