O recente boom de atenção da Fórmula 1 deve-se em certa parte à ligação criada com os fãs. Ouvir os pilotos não é raro e quem assiste às corridas sente-se conectado com os protagonistas. A Fórmula 1 abriu os bastidores a milhões de pessoas que se renderam e se tornaram seguidores. A esse vasto público chegam os comportamentos e reações instintivas que se propagam mundialmente, por vezes sem filtro.

O Mundial atravessa uma pradaria de tensão. Na frente, Max Verstappen e Lando Norris estão separados por 59 pontos. O GP do Azerbeijão, como costuma acontecer nos circuitos citadinos, tornou-se caótico. O praguejar foi especialmente audível quando Carlos Sainz e Sergio Pérez colidiram na penúltima volta. Pi, pi, pi. O som agudo que se sobrepõe aos impropérios desembocou na transmissão da corrida. No final, Oscar Piastri venceu e Norris encurtou a distância para Verstappen.

Sem tempo a perder, a Fórmula 1 viajou para Singapura onde, este fim de semana, se realiza nova corrida. Num ambiente mais controlado em comparação com o interior de um monolugar, o tricampeão do mundo voltou a abordar a corrida no Azerbaijão dizendo desconhecer o motivo pelo qual o colega de equipa na Red Bull, Sergio Pérez, retirou melhor rendimento do carro. “O meu carro estava f*****”, respondeu Verstappen quando questionado sobre o tema na conferência de imprensa.

A declaração difundiu-se com rapidez. O tom não agradou à FIA, o organismo que tutela a Fórmula 1, que anunciou, já com os treinos livres do GP de Singapura a decorrerem, uma punição para o uso de linguagem brejeira. Max Verstappen foi castigado com a obrigatoriedade de “realizar trabalho de interesse público”. A FIA justificou a medida com a necessidade de “garantir que a linguagem usada nos seus fóruns públicos, como conferências de imprensa, corresponde a padrões aceites por todos os públicos”.

Ainda antes da reprimenda oficial, Mohammed bin Sulayem, o presidente da FIA, tinha sido menos formal na abordagem do caso. “Temos que diferenciar o nosso desporto da música rap”, disse em declarações ao portal “Motorsport.com”. “Não somos rappers”, continuou o dirigente, referindo-se à generalidade dos pilotos. “Eles usam a palavra começada por F quantas vezes por minuto?”

A posição de Mohammed bin Sulayem mereceu a desaprovação de Lewis Hamilton. O sete vezes campeão do mundo considerou que a crítica do presidente da FIA envolve um “elemento racial” que podia ter sido evitado. "Não gostei da forma como [Mohammed bin Sulayem] se expressou. A maioria dos rappers são negros. Quando diz ‘não somos como eles’, está a escolher as palavras erradas”, reagiu Hamilton também junto do “Motorsport.com”.

Neste momento, faltam sete corridas para o final do Mundial de Fórmula 1. O castigo de Max Verstappen não tem qualquer interferência na luta pelo campeonato, mas é um sinal para o neerlandês que não ganha uma corrida desde junho: pé no acelerador, tento na língua.