
Paul Pogba revelou detalhes da sua vida nos últimos meses, antes e depois de ter tido um controlo antidoping positivo. O médio francês de 32 anos recebeu uma suspensão de 4 anos, mas cumpriu apenas 18 meses, estando atualmente sem clube.
O antigo internacional, dispensado pela Juventus há quatro meses, relatou tudo o que lhe aconteceu e o quanto sofreu em Manchester, primeiro, e depois no período na Juventus.
Em entrevista à revista GQ francesa, fala de depressão, stress, problemas físicos e psicológicos, lesões, solidão e sofrimento por ser forçado a ficar longe do futebol e do relvado, longe da bola, a sua grande paixão desde a infância.
«Não conseguia falar, não havia qualquer tipo de comunicação»
O regresso a Manchester em 2016, depois de 4 anos na Juventus., é longamente analisado. «Fiquei muito triste quando deixei Manchester aos 19 anos [a saída para a Juventus em 2012]. Chorei no início. Voltar ao clube que me era tão querido sempre foi o meu objetivo», recorda hoje o francês sobre o regresso, numa grande campanha de marketing que envolveu o patrocinador Adidas, num ano em que houve também a contratação de Zlatan Ibrahimovic e do treinador José Mourinho. Mas não foi como esperava.
No seu primeiro ano conquista três troféus: a Taça da Liga Inglesa, a Supertaça Inglesa e a Liga Europa, com um golo dele na final. Mas a relação com o treinador deteriora-se significativamente. «O treinador português não gosta que lhe roubem as atenções e sonha com uma equipa em que nenhuma cabeça sobressaia», escreve a revista francesa.
Na entrevista, o médio centro refere que acaba por ser enviado para o banco de suplentes: «Não entendia. Era um jogador com um papel importante na equipa e de repente vi-me no banco. Não conseguia falar, não havia comunicação. Não estava feliz, e um futebolista que não está feliz não consegue jogar bem. Caí em depressão, sem me aperceber. Porque ninguém nos ensina o que é a depressão. Até que comecei a ter falhas no couro cabeludo. Não percebia porquê. Disseram-me que era tudo por causa do stress.» José Mourinho acabou por ser demitido por falta de resultados em dezembro de 2018.
Era um jogador com um papel importante na equipa e de repente vi-me no banco. Não conseguia falar, não havia comunicação. Não estava feliz, e um futebolista que não está feliz não consegue jogar bem. Caí em depressão, sem me aperceber. Porque ninguém nos ensina o que é a depressão. Até que comecei a ter falhas no couro cabeludo. Não percebia porquê
«Se tivesse levado quatro anos tinha deixado o futebol»
Avança o filme e Pogba volta à Juventus, joga pouco e por fim é apanhado num controlo antidoping em 2023.
A 11 de março, o francês viu a suspensão reduzida para 18 meses, cumprida desde agosto de 2023, e agora pode voltar aos treinos e, sobretudo, procurar uma equipa que acredite nele e lhe permita voltar a jogar a um nível elevado após quase três anos.
«Se me tivessem tirado quatro anos de futebol, teria parado! Não queria dizê-lo publicamente, mas foi o que pensei. Não entendia. Porquê? Deram-me a pena máxima, o que significa que não consideraram nada do que lhes disse [na defesa]. Em Turim, costumava pegar na bola e jogar sozinho lá fora. Desenrascava-me com o que tinha. De manhã levava os meus filhos à escola que ficava mesmo ao lado do campo de treinos, que sofrimento e que dor», diz Pogba na GQ.
Em Turim, costumava pegar na bola e jogar sozinho lá fora. Desenrascava-me com o que tinha. De manhã levava os meus filhos à escola que ficava mesmo ao lado do campo de treinos, que sofrimento e que dor
O campeão mundial de 2018 deu ainda detalhes sobre o processo em que ele e a sua família estiveram envolvidos na tentativa de extorsão por parte de um grupo de criminosos, do qual fazia parte o seu irmão, Mathias, em 2022. «Escondi tudo sobre esta extorsão. A minha mulher não sabia, nem os meus filhos. Quando chegava a casa dos treinos, tinha de representar o papel de pai e marido tranquilo. Guardei tudo para mim. No fim de contas, isso desgastou-me por dentro. Nessa altura fiz tudo o que pude para me concentrar no futebol, mas tornou-se demasiado difícil. Tinha tantas preocupações que deixei de jogar. Ainda assim, tentei. Sabia que era a única maneira de me fazer esquecer todos esses problemas. Mas, na verdade, o que representa o futebol? Duas horas por dia? Apenas duas horas por dia para me divertir», recorda.
Escondi tudo sobre esta extorsão. A minha mulher não sabia, nem os meus filhos. Quando chegava a casa dos treinos, tinha de representar o papel de pai e marido tranquilo. Guardei tudo para mim. No fim de contas, isso desgastou-me por dentro
«Sempre que acabava o treino, tentava ficar no balneário, estar com os meus colegas de equipa. Mas no fim, temos de ir para casa. Perguntava-me quando é que tudo ia acabar. Teve um impacto terrível no meu corpo», recorda.
'Tenho propostas de todo o lado, mas vou ponderar bem a minha decisão»
Sem clube de momento, está na hora de escolher. «Futuro? Tenho propostas. Vêm de todo o lado, não apenas da Europa. Quero ver o que me convém melhor. Porque estou num momento crucial da minha vida e da minha carreira. É uma decisão que vou ponderar», refere.