
A Federação de uma modalidade em que são onze contra onze, que tem o Canal 11 e que arrancou para a maior conquista da sua história com um slogan de 11 milhões no autocarro, festejou na segunda-feira o 111.º aniversário num ambiente em que não teria sido despropositado ligar para o 112.
Nenhuma investigação da PJ poderia estragar mais o sabor do bolo do que a novelesca troca de acusações entre Pedro Proença (PP) e Fernando Gomes, que obrigou à realização de uma reunião de emergência da Direção da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) na parte da manhã e à elaboração de um comunicado que pediu intervenção do Governo e do Conselho de Ética do Comité Olímpico Português (COP).
No fundo, tem tudo a ver com isso. Com a ética ou com a falta dela e com a corrida a outro Comité, o apetecível Comité Executivo da UEFA, a próxima cadeira de sonho de Proença, precisamente na linha do que fez o seu antecessor na FPF.
Os dois homens têm demasiado em comum e talvez seja essa semelhança outra das explicações para o problema que pode comprometer a representação nacional no organismo que tem em Belgrado sete vagas para… 11 nomes.
O número de candidatos, lá está, não favorece aquele que há 13 anos foi considerado o melhor árbitro do Mundo e que não há muito tempo se dedicava a galardoar o dirigente que também iniciou a carreira de dimensão nacional na liderança da Liga.
Apesar de não ter exercido muito tempo (entre 2010 e 2011), Gomes foi o primeiro a admitir a importância dessa experiência para a lucrativa gestão levada a cabo na Federação durante três mandatos. Ao ponto de ter recebido das mãos de Proença o Prémio Prestígio (2018) e o Prémio de Mérito Desportivo (2024).
Ou seja, a poucos meses de sair pela porta principal, o atual presidente do COP parecia entender-se às mil maravilhas no jogo de galhardetes com o agora melhor inimigo, não se coibindo de o indicar para o Comité Executivo da UEFA quando nem sequer tinham sido apurados os votos do desequilibrado mano a mano eleitoral na Cidade do Futebol.
Mesmo que já se tenha justificado com base na constatação de que PP era o único nome “elegível” para a candidatura, Fernando Gomes não podia nesta altura dar o dito por não dito. Sendo verdade que indicar não é sinónimo de apoiar, para salvaguarda da coerência e para usar uma terminologia tão cara a Luís Neves, diretor nacional da PJ, mais valia ter omitido qualquer nome no grande 31 em que se meteu no último dia de janeiro.
COP VAZIO
Apontar Proença e agora refugiar-se no preciosismo que assenta na circunstância de não ter efetivamente declarado nenhum suporte ao compatriota rouba argumentos a alguém que acaba por prestar um mau serviço à nação que ajudou a glorificar no Euro’2016.
O vazio do presidente do COP na hora de sugerir uma figura para a disputa de Belgrado era mil vezes preferível à rasteira que nestes dias tem pregado ao todo-poderoso patrão de Roberto Martínez.
Nas próximas 48 horas, perceber-se-á quais foram os verdadeiros estragos da carta dirigida por Gomes aos antigos pares, sendo que o candidato português ao Comité Executivo da UEFA não se tem poupado a esforços para mobilizar a máquina fabricada no seu magistério de influência.
Da APAF (Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol) a Sporting e FC Porto, sem esquecer o Sporting de Braga, várias têm sido as instituições a posicionarem-se ao lado do homem que alguns até já catalogaram como o novo Aleksander Čeferin do mapa europeu.
A exceção, até à entrada para a Gala comemorativa dos 111 anos da FPF, chamava-se... Benfica, remetido a um papel de simples e discreta testemunha do estalar de verniz entre duas personalidades que têm de aprender a dividir a sala.
Para já, Pedro Proença não conseguiu estar presente na cerimónia de inauguração da Alameda Dr. Fernando Gomes, aberta na última sexta-feira e assim batizada sob proposta da Divisão de Gestão Administrativa do Licenciamento Urbanístico da Câmara Municipal de Oeiras.
Pelo menos é o que consta da nota informativa publicada no site da Federação Portuguesa de Futebol e na qual se pode ainda ler que o “arruamento em causa, com início na Avenida das Seleções e fim, sem saída, se situa em Caxias”.
É lá que têm de voltar a reunir-se os protagonistas da batalha verbal que tem prendido a atenção do País. Para bem do Desporto português e para a sanidade do futebol em particular. Não é pedir muito.
Não se trata propriamente de negociar um imóvel na Alexandre Herculano. Em 2018, a FPF vendeu aí a antiga sede por... 11 milhões de euros, valor que qualquer anónimo seria capaz de adivinhar sem nenhuma chamada despropositada para a PJ