À terceira foi mesmo de vez para Raphinha. Depois de dois anos relativamente discretos ao serviço do Barcelona, o extremo brasileiro, ex-Sporting e V. Guimarães, está a ser um dos principais jogadores do Barça de Hansi Flick. Em entrevista ao El País, o jogador relembrou os tempos que passou no futebol do Brasil e da relação que tinha com Xavi, ele que, com o antigo médio em campo, só terminou sete dos 60 jogos que fez a titular.
«Não é uma crítica a Xavi. Inconscientemente, já sabia que ia sair. Tentava fazer tudo em 60 minutos e nada saía. Outras vezes, quando as coisas resultavam, ele tirava-me na mesma. São decisões do treinador», disse Raphinha sobre o antigo técnico do Barcelona, afirmando que, apesar de «os treinos serem mais difíceis agora», é importante a mudança para Hansi Flick: «São pessoas diferentes, que têm maneiras diferentes de fazer o seu trabalho e de lidar com o plantel. Também ajuda a mudar a mentalidade, depois de não se ganhar nada.»
Diz o brasileiro do Barcelona que pensou muito na saída. «Especialmente antes do Mundial 2022, mas também em todas as janelas de transferências, diziam-me que, se não funcionasse, tinha de ser vendido», afirmou, não sem destacar a importância de Deco no processo: «Disse-me para ter calma, como os meus pais e a minha esposa.»
Há 10 anos, Raphinha jogava nas bases do futebol no Brasil, onde, diz, havia muito mais pressão: «Quando és pequeno e moras numa favela, acostumas-te a ver pessoas a passar com armas. Há fãs a ver o jogo com armas. Tentam assustar-nos para que a nossa equipa não vença. Lá, é pior [que na Europa]. As pessoas atiram fogo de artifício à tua casa, seguem-te com o carro. Aqui é difícil também, mas por outras circunstâncias. Quando se joga por um clube tão grande como o Barcelona, as críticas são normais. Precisava de algum tempo para me adaptar, tanto no meu futebol, como a nível mental», explicou o extremo.
Apesar da qualidade técnica que apresenta, Raphinha admite que havia jogadores tecnicamente melhores, mas que a disciplina fez a diferença. «Conheci muitos tipos que, na minha opinião, eram melhores que eu. Muito melhores tecnicamente. Mas o atleta é muito mais que técnica. Sem disciplina... Se não tens consciência que vais sofrer por estar longe de casa, longe da festa, se achas que não tens de deixar tudo isto de parte, a técnica é inútil. A técnica é importante, mas tem de estar de mãos dadas com o trabalho», analisou.
Lamine Yamal também tem brilhado no ataque blaugrana e, frente ao Real Madrid, marcou um golo e, em seguida, foi vítima de insultos racistas. O jovem de 17 anos, que lembra Raphinha «mais de Neymar que de Messi», não quis abandonar o encontro apesar disso e Raphinha explicou o porquê: «Cada pessoa é diferente. Claro que isso te incomoda, estamos a fazer o nosso trabalho. Sabemos que os adeptos da outra equipa podem tentar fazer de tudo para que as coisas não corram bem e devemos estar focados, mas quando eles te insultam e esses insultos os levam para outro lugar, é mais complicado. Falei com Ansu [Fati] depois e ele contou-nos o que se tinha passado. Ele estava mais triste. Com Lamine, ouvimos que eles nos estavam a dizer coisas, mas não entendíamos exatamente o quê. Mas Ansu entendeu. Depois do jogo, assistimos aos vídeos e foi aí que percebemos o que eles nos disseram.»