As tradições natalícias impossibilitam um indivíduo de, nos vários contextos que este frequenta (quando não em mais do que um), fugir à maior proatividade de outros membros da mesma espécie que não conseguem passar a quadra sem dinamizarem o desafio do amigo secreto. Em ambiente corporativo, a bem-intencionada atividade pode ganhar contornos críticos. E se ao recém-chegado à empresa calha ter que brindar um consagrado líder? A situação faz-nos suar de empatia ou não pudesse estar o pupilo em pânico face à possibilidade de uma prenda escolhida debaixo do critério de poder ser adquirida na loja com menos fila do inundado centro comercial levar ao seu despedimento.

Samu Aghehowa já ganhou o seu estatuto no FC Porto, subindo por um escadote na hierarquia dos jogadores com o apetite goleador que possui. Rodrigo Mora, por sua vez, estreou-se a titular em Moreira de Cónegos. Andava o minuto 16 a fazer o seu desfile e chegou o momento do mais inexperiente entregar ao comandante o que tinha para lhe dar. O jovem de 17 invernos deixou o embrulho pendurado no espaço aéreo da grande área do Moreirense e o avançado espanhol abriu-o com a cabeça: era um golo cantado pela afinação de quem o assistira. Teve sorte o estagiário que o chefe gostou e, num abraço que evidenciou o contraste dos seus tamanhos, assinalou-se o agradecimento. Foi apenas um dos momentos quentes da 15.ª jornada em que a vitória por 3-0 do FC Porto até apagou os tremeliques que o Moreirense foi capaz de provocar a certa altura.

HUGO DELGADO

Seria de bom tom que o FC Porto demonstrasse apreço por camisolas quadriculadas. Caso contrário, não fosse o padrão verde e branco do Moreirense do agrado dos dragões, facilmente estas criaturas enjoariam um convívio tão constante com a farda cubista do destacamento minhoto. Não deixava de ser a terceira vez na época que os clubes se encontravam e, no único embate que tivera o Estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas como testemunha do aparato, os portistas acabaram eliminados da Taça de Portugal e Vítor Bruno ouviu a bancada pronunciar-se contra ele.

O FC Porto saturou o onze de virtuosismo. Até no lado esquerdo da defesa plantou qualidade técnica com o recuo de Galeno. O peso do posicionamento do brasileiro tombou o jogo para aquele lado do espectro. Parecia ser do batimento de uma só asa que a equipa esperava levantar a tampa atarraxada ao último terço. A influência de Pepê, que com o corredor central entupido por vezes foi à ala espairecer, somou-se ao flanco com sotaque.

Quando o Moreirense parecia começar a ganhar capacidade para entalar o FC Porto naquela zona com a bondade defensiva de Sidnei Tavares, que acumulou quilómetros para ajudar Dinis Pinto, eis que um intruso procedeu a realizar a sua intervenção. Rodrigo Mora fez Maracás tremelicar e cruzou para o golo de Samu. Contribuíssem todos como Mora e os ataques teriam sido mais cativantes. Veja-se o caso de Fábio Vieira que, sobre a direita, escapou à relevância, exceto quando, depois de ser pisado por Ismael, fez um headspin para se queixar.

Como o futebol não está feito para os envergonhados, a equipa de César Peixoto lá ganhou confiança para que os criativos ativassem o perfume de que se sabe serem portadores os cónegos. E uma coisa é lei no Moreirense: quanto mais Alanzinho estiver envolvido nas artimanhas, mais vistosa e produtiva é a produção dos axadrezados. Porém, demorara a chegar tal desenvoltura e só à meia hora de jogo Benny se recordou do alvitre de que tudo aquilo tinha como intuito visar a baliza de Diogo Costa.

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O FC Porto acabaria por passar os 36 minutos seguintes a tentar evitar o descalabro. Tanto que chegou a recorrer a algumas demoras, essa arte das trevas, para se defender do fluxo de jogo imposto pelo Moreirense, a dominar por completo o corredor central. Depois, apareceu o novato das parras loiras a desmistificar o problema. O próprio Rodrigo Mora conduziu o lance e num remate com vários tragos encontrou a baliza, sem nunca no meio da carambola perder o objeto que lhe é inerente. Por esta ocasião, Samu ergueu-o como se de um troféu se tratasse e lá que, ao longo da noite, foi um menino de ouro, isso foi. Mora esgotara as energias a fazer aquilo que lhe valeu o estatuto de estrela deste encontro. Para revitalizar a veia criativa, Vítor Bruno lançou André Franco que deu ao treinador o último golo do jogo.

Se da última vez que esteve em Moreira de Cónegos, há menos de um mês, o FC Porto saiu apupado, desta feita, foi diferente: recebeu aplausos, tornou-se na primeira equipa a vencer no Estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas e alcançou a liderança à condição do campeonato. O futebol é mesmo o momento.