É uma das imagens que vai marcar estes Jogos Olímpicos: Rebeca Andrade a subir ao lugar mais alto do pódio da prova de solo, com Simone Biles e Jordan Chiles, medalhas de prata e bronze, respetivamente, a fazer uma vénia à espectacular brasileira, que nestes Jogos Olímpicos encantou a Bercy Arena e tornou-se também história do Brasil: com seis medalhas no total, a ginasta é agora a atleta do seu país com mais medalhas olímpicas.

O gesto, para mais quando falamos de Biles, a ginasta com mais títulos da história, recebeu uma montanha de elogios, esmagadores face a um par de críticas de quem, provavelmente, não saberá que nem tudo é vencer e é possível respeitar os rivais. Já durante os Jogos de Paris, Biles havia deixado palavras muito bonitas e de elogio a Rebeca Andrade, com quem mantém uma relação de admiração mútua.

“Não quero competir mais com a Rebeca, estou cansada. Ela está sempre muito próxima, nunca tive uma atleta tão próxima de mim. Ela traz a melhor atleta que há em mim, estou animada e orgulhosa por competir com ela”, atirou em jeito de brincadeira, referindo-se a uma rivalidade que obrigou a ginasta norte-americana a trazer o seu melhor jogo para França.

E quando Biles escorregou, quando inesperadamente falhou, como aconteceu no solo, onde tem sido absolutamente dominadora, a brasileira estava lá para arrecadar a sua glória, uma glória há muito merecida e reconhecida pelas rivais.

Logo a seguir à final de solo, que fechou com uma grande história uma grande semana de ginástica artística nos Jogos Olímpicos de Paris, Simone Biles e Jordan Chiles foram questionadas sobre o bonito momento que protagonizaram no pódio e confirmaram que a ideia, trazida à baila por Chiles, surgiu no momento.

GABRIEL BOUYS

“A Rebeca é fantástica, é uma rainha. Primeiro, era um pódio todo de atletas negras e isso é muito entusiasmante para nós. Depois a Jordan [Chiles] perguntou: ‘Devemos fazer-lhe uma vénia?’. E eu disse: ‘Sem dúvida!’”, explicou Simone Biles em conferência de imprensa.

“É muito entusiasmante vê-la, os adeptos nas bancadas estão sempre a torcer por ela. Acho que era a coisa certa a fazer”, continuou a campeoníssima de 27 anos.

Jordan Chiles, ao seu lado, lembro que Rebeca “é um ícone, uma lenda” e que as duas atletas norte-americanas sentiram que era necessário “reconhecê-la”.

“Por isso, sim, naquele momento pensei: ‘Porque é que não a homenageamos? Porque ela também já o fez à Simone e a muitas de nós norte-americanas. Dar de volta é bonito e achei que era necessário”, sublinhou a ginasta de 23 anos, que esteve também na equipa dos Estados Unidos ouro no all-around.

Simone Biles ainda não desvendou o que fará no futuro, mas durante os Jogos deixou aberta uma pequena frincha na porta para uma continuidade até Los Angeles, em 2028. Mas caso esta seja a sua última imagem olímpica, de medalha de prata ao peito, mas com um gesto de incrível respeito por uma adversária, é uma belíssima imagem, que a torna uma campeã ainda mais especial.